VA Celso Koga disse que existem avanços, mas ainda há desafios ligados à transferência de tecnologia e à atual capacidade da indústria brasileira
Os programas de obtenção de meios navais da Marinha do Brasil têm a orientação de fortalecer a estrutura produtiva nacional. A afirmação é do diretor de gestão de programas da Marinha do Brasil, vice-almirante Celso Mizutani Koga. Ele contou que o almirantado estabeleceu como premissa dos projetos tentar privilegiar a produção nacional, a construção em estaleiros no Brasil e aumentar os índices de conteúdo local. Koga citou o programa de fragatas classe Tamandaré (PFCT), em andamento, que prevê a construção de quatro unidades no estaleiro Brasil Sul, em Itajaí (SC). O projeto prevê 30% de conteúdo local para a primeira fragata e 40% a partir das demais unidades.
Ele disse que a força naval gostaria de alcançar índices de 60% a 70%, mas reconheceu que há desafios ligados à transferência de tecnologia e à atual capacidade da indústria brasileira. A primeira fragata (F 200 Tamandaré) teve batimento de quilha em março deste ano e está em fase de construção e testes. A previsão é que o navio militar seja lançado em 2024 e entregue até o final de 2025. As demais estão previstas para 2027 (F 201 Jerônimo de Albuquerque), 2028 (F 202 Cunha Moreira) e 2029 (F 203 Mariz e Barros).
A principal dificuldade da indústria brasileira para aumentar a participação local nos projetos, no curto prazo, está relacionada à parte de sensores e armamentos. “A maior dificuldade para aumentar o índice de conteúdo local é o desenvolvimento desse tipo de sensores e armamentos, mas temos confiança de que podemos melhorar bastante esse conteúdo local”, disse Koga, durante painel da 17ª Navalshore, na semana passada.
A avaliação, segundo o diretor, é que a base industrial de defesa é incipiente, mas vem melhorando bastante, com investimentos em pesquisa em áreas como drones e radares, por exemplo. “Essa tem sido uma preocupação. Apesar da alta complexidade, da resistência à transferência de tecnologia, é sempre importante aumentar o índice de conteúdo local”, analisou. Koga destacou que existem 39 empresas envolvidas com o PFCT que estão localizadas principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
Outra espera da indústria naval e da base industrial de defesa é o programa de obtenção de navios patrulha (Pronapa), que prevê o modelo NPaOc-BR, de 1.800 toneladas, e o NPa 500-BR (500 toneladas), semelhantes aos navios das classes Amazonas e Macaé, respectivamente. Koga explicou que o NPa 500 será um navio um pouco maior que o da classe Macaé e terá maior deslocamento, maior autonomia e outros avanços nas características do navio.
O navio-patrulha de 500 toneladas faz parte do programa de construção naval de longo prazo (PCNLP) desenvolvido pela Marinha e pela Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron) e incluído no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. Há ainda avaliações sobre a adaptação do NPa 500MB em NCMM, para atuar como navio-mãe em operações de contramedidas de minagem. O detalhamento será feito pelo centro de projeto de sistemas navais.
O diretor acrescentou que o NPa Mangaratiba segue em construção no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). “Estamos prevendo a instalação de sistemas de comando e controle [SisC2Geo (SCT)] desenvolvidos pelo instituto de pesquisas da Marinha do Brasil (IPqM) no Mangaratiba. Temos quantidade de sensores e armamentos a serem adquiridos para o NPa 500 que serão licitados. Estamos aguardando os valores orçamentados nos próximos anos, para dar início ao programa de obtenção dos navios-patrulha”, afirmou Koga.
PAC
O novo PAC tem listados R$ 53 bilhões para a indústria de defesa, sendo R$ 27,8 bilhões entre 2023 e 2026 e outros R$ 25 bilhões após esse período. Desse montante, 6 projetos são relativos à pesquisa, desenvolvimento e aquisição de equipamentos de grande porte para a Marinha, que somam R$ 20,6 bilhões. Entre os projetos da força naval, destaque para o Prosub, com a construção de 3 das 4 unidades de propulsão convencional diesel-elétrica restantes, e a construção do submarino de propulsão nuclear, bem como o programa nuclear da Marinha, que prevê combustível para este submarino e demais aplicações. O programa também incluiu a construção das 4 fragatas classe Tamandaré (PFCT) e de 11 navios-patrulha (Pronapa).