Na visão do BNDES, já existe certa dimensão do nível de presença dos fornecedores locais e da capacidade de fornecimento das empresas instaladas no país
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) avalia que a elaboração de uma nova metodologia de conteúdo local para o setor naval depende de um diagnóstico consistente. A gerente do departamento de produtos e desenvolvimento de cadeias industriais do BNDES, Martha Madeira, observa que, com base em experiências anteriores, já existe uma certa dimensão do nível de presença dos fornecedores locais e da capacidade de fornecimento das empresas instaladas no país.
Ela citou também os trabalhos em curso da Câmara de Nacionalização para os Programas estratégicos da Marinha do Brasil, coordenado pela Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron). “Esse primeiro diagnóstico é fundamental para conseguir mais à frente elaborar uma boa política de conteúdo local”, disse Martha, na última semana, durante painel da 17ª Navalshore. Ela acrescentou a necessidade de listar itens transversais a outros setores industriais.
Martha destacou que, durante quatro anos da metodologia, o setor eólico chegou perto de 90% de conteúdo local. De 2013 a 2018, foram investidos aproximadamente R$ 58 bilhões em projetos eólicos no Brasil, com cerca de 70% de participação de recursos do BNDES. Foram gerados mais de 40.000 empregos diretos e indiretos, segundo dados da ABEEólica. Também foram implementados 51 novos investimentos, em montante superior a R$ 1 bilhão, em novas fábricas no país.
Antes de 2013, havia 2,5 gigawatts (GW) instalados e 33 fabricantes envolvidos, distribuídos em 7 estados produtores. De 2013 até 2018, com impacto da política de conteúdo local, a capacidade instalada subiu para 15,6 GW, com 150 fabricantes envolvidos e passou para 11 o número de estados produtores.
O BNDES adotou como metodologia a definição de componentes que deveriam ser nacionalizados ao longo das fases, em vez de utilizar índices de credenciamento a serem alcançados. O banco de fomento definiu os componentes que deveriam ser desenvolvidos e integrados aos aerogeradores para serem entregues nos parques eólicos.
O BNDES estabeleceu componentes a serem nacionalizados e tecnologias que deveriam ser desenvolvidas no país. “Sempre buscamos essa lógica do que é necessário mais tempo para desenvolvimento e se é necessário certificação internacional para determinado item. Começamos com exigência básica para estabelecer o processo de montagem do país”, pontuou Martha.
Ela lembrou que, na época em que foi desenvolvida a metodologia, o setor de O&G estava em baixa e diversos fabricantes estavam com produção parada. Segundo Martha, isso fez com que o banco tomasse a decisão de que determinados componentes poderiam ser produzidos no país para o setor eólico, por fabricantes que tradicionalmente eram voltados para o setor de O&G. “Essa transversalidade de capacidade produtiva é para segurar a demanda e a escala para os fabricantes e também levamos isso em conta [nas análises]”, disse.
Diversificação
A gerente do departamento de produtos e desenvolvimento de cadeias industriais do BNDES também defendeu a abertura de empresas brasileiras para participarem de negociações internacionais. Há possibilidade de elas estarem no catálogo da OTAN (Organização do Tratado Atlântico Norte). O catálogo do BNDES tem mais de 8.000 fornecedores cadastrados e mais de 30.000 produtos disponíveis para serem financiados pelo banco.
Martha disse que existe um mapeamento que precisa ser feito para que seja possível introduzir essas empresas para essas negociações. “Mesmo que nossas forças não estejam precisando, pode ser que essas empresas nacionais consigam fornecer para empresas internacionais e manter sua produção forte”, projetou.
O BNDES é responsável pela aferição de conteúdo local de dois projetos da Marinha do Brasil, acompanhados pela Emgepron. Um deles é o Programa de Fragatas Classe Tamandaré, que prevê a construção de 4 unidades, a primeira com 30% e as demais com 40% de conteúdo local. O outro é o navio polar Almirante Saldanha, que prevê conteúdo local em torno de 45%.