Em debate da frente parlamentar da indústria naval, agentes ressaltaram que atividades da indústria podem ser retomadas com melhor condição do que no começo dos anos 2000
Representantes da indústria naval, do setor de O&G e parlamentares apontaram a necessidade de movimentos paralelos e gradativos para reciclagem e para a formação da mão de obra. Em debate promovido pela Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval Brasileira, na última quarta-feira (8), em Brasília, os agentes destacaram que o setor não retomará do zero, mas precisa de uma preparação para atender à demanda de crescimento com um possível aumento de demanda.
O presidente da Frente, o deputado Alexandre Lindenmeyer (PT-RS), acredita que o Brasil vive um processo estratégico de retomada da indústria naval com força, que vem avançando de forma gradativa. “Precisamos preservar os recursos humanos existentes e, ao mesmo tempo, retomar a qualificação e preparação dos RHs necessários para essa demanda, que é estratégica para o país”, afirmou o parlamentar.
Lindenmeyer lembrou que, desde 2015, o número de trabalhadores empregados pela construção naval, que era superior a 80.000, caiu para menos de 20.000, conforme dados do Sinaval. Ele mencionou que existe uma série de projetos em estaleiros de diferentes portes no país e que há perspectivas positivas a partir da sinalização, por parte da Petrobras, de construção de módulos e embarcações de apoio marítimo em estaleiros nacionais. O deputado acrescentou que existe um horizonte com plataformas para descomissionamento e construção de navios para a Marinha do Brasil, que continuarão a demandar mão de obra capacitada.
O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) avalia que a perda de 60.000 empregos, nos últimos 10 anos, evidenciou que a contratação de projetos no exterior penalizou a construção naval do país. O secretário-executivo do Sinaval, Sérgio Leal, comparou que, no começo dos anos 2000, houve um desafio maior do que atual para a formação de mão de obra porque a indústria estava desmobilizada há 20 anos e porque foram construídos estaleiros nas regiões Nordeste e Sul, que precisaram e um tempo para se consolidar.
Leal ponderou que, depois do 10º navio do Promef construído para a Transpetro, os estaleiros em Pernambuco atingiram níveis de produtividade similares aos de estaleiros na Ásia. “Sabemos que, se a curva de aprendizagem demorasse mais e se os contratos não fossem cancelados, teríamos uma melhoria ainda maior da produtividade”, afirmou, na última quarta-feira (8), em Brasília, em debate da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval que discutiu a capacitação de recursos humanos para indústria naval e setores impactados.
Na ocasião, o secretário-executivo do Sinaval acrescentou que existem outros fatores a serem superados na equação da competitividade, como a necessidade de melhoria dos encargos sociais pagos pelos empregadores que encarecem os custos dos estaleiros com mão de obra no Brasil.
O representante da Transpetro, Fernando Carvalho, falou da necessidade de formação de novos profissionais e da requalificação dos profissionais da construção naval já experientes porque houve um hiato significativo num período recente. “Vejo com mais otimismo para a indústria naval o momento atual do que há 20 anos. Avançamos significativamente e é fundamental não perder o tempo, nem a experiência acumulada ao longo desses anos”, destacou Carvalho.
O secretário de assuntos jurídicos e institucionais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Tezeu Bezerra, defendeu a retomada de programas do passado, como Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), que permitiu a capacitação profunda de uma grande massa de trabalhadores que desenvolveram habilidades. Bezerra também é a favor de movimentos paralelos para reciclagem de trabalhadores que estão na informalidade e desejam retomar o trabalho na indústria naval e no setor de O&G, além da capacitação de trabalhadores do zero. Ele sugeriu parcerias com Sesi, Senai e institutos federais, além de diálogo sobre o tema com o Ministério da Educação.
O gerente executivo de relacionamento institucional da Petrobras, João Paulo Madruga, disse que é possível ampliar o treinamento da mão de obra local. Ele citou a retomada do programa de treinamentos de mão de obra local da refinaria RNEST, em Pernambuco. “Quando estivermos diante de um polo industrial favorável à produção de embarcações no Brasil, a Petrobras vai replicar essa atividade de treinamento e capacitação de mão de obra para a área de E&P e de descomissionamento”, projetou Madruga.