RIO — O estaleiro Eisa, do grupo Synergy, controlado pela família Efromovich, conseguiu um empréstimo de US$ 120 milhões com um fundo americano, informou nesta quinta-feira Omar Peres, conselheiro do grupo que está à frente da reestruturação da empresa. Parte dos recursos — US$ 40 milhões ou cerca de R$ 90 milhões — foi liberada esta semana, permitindo que o Eisa pague dois meses de salários atrasados a seus 3.500 funcionários. Segundo Peres, o pagamento foi feito na tarde desta quinta-feira e estará disponível na conta bancária dos empregados amanhã.
Os dois meses de atraso correspondem às folhas de pagamento de junho e julho, que montam aproximadamente R$ 40 milhões. A promessa que o Eisa havia feito ao Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, após vários adiamentos, era que os salários de junho seriam pagos nesta quinta-feira e os de julho, no próximo 29 de agosto. Segundo Peres, a liberação da primeira parte do empréstimo será usada também para pagar a folha de agosto até o quinto dia útil do mês seguinte e para a compra de alguns insumos. Procurado, o sindicato não retornou a ligação.
A solução alcançada para a questão trabalhista de curto prazo, no entanto, não assegura sobrevida ao Eisa. Para que o Manchester, fundo sediado em Nova York que acertou a concessão do empréstimo à companhia, libere os US$ 80 milhões restantes, o Eisa terá que chegar a um acordo com seus clientes para a retomada das atividades do estaleiro, paralisadas desde junho: “Foi uma condição imposta pelo fundo. Ele quer garantia de que o estaleiro voltará a ter faturamento”, disse Peres.
O acerto com o fundo prevê o pagamento do empréstimo em dois anos. O Manchester aceitou como garantia os ativos do estaleiro, como terreno e equipamentos, avaliados em US$ 300 milhões. O Eisa já havia tentando obter crédito junto à Caixa Econômica Federal (CEF), sem sucesso.
Estaleiro quer ser liberado de multa
Segundo Peres, o Eisa vai procurar seus clientes na próxima semana na tentativa de costurar um acordo. A proposta que lhes será apresentada prevê que eles abram mão da multa contratual pelo atraso na entrega das embarcações. Nos cálculos do estaleiro, essas multas somam aproximadamente R$ 300 milhões. Se não conseguirem chegar a um consenso, o estaleiro permanecerá paralisado até que se consiga levantar novos recursos.
Neste caso, a proposta de suspender o contrato de trabalho de todos os 3.500 funcionários do Eisa por 90 dias, o chamado layoff, voltará à mesa de negociações. A oferta chegou a ser oficializada ao sindicato no início do mês, em reunião do Ministério Público do Trabalho, no Rio. Uma alternativa ao layoff que vinha sendo estudada pelo Eisa era um empréstimo junto à Log-In, uma das principais clientes do estaleiro. A empresa, no entanto, rejeitou a proposta.
O presidente da Log-In, Vital Lopes, disse que não recebeu qualquer proposta do Eisa quanto a um possível acordo para liberação de penalidades pelo atraso na entrega das encomendas e que vai aguardar o contato para estudar a oferta. A Log-In, empresa de soluções logísticas que atua no serviço de cabotagem, aguarda a entrega de quatro navios. A Marinha brasileira também está entre os clientes lesados. No total, o Eisa tem em sua carteira de pedidos 24 embarcações avaliadas em R$ 1,5 bilhão.
O Eisa atribui as dificuldades financeiras por que vem passando à venezuelana PDVSA, que deixou de honrar o pagamento referente à encomenda de dez navios, avaliados em US$ 1 bilhão ou cerca de R$ 2,3 bilhões. A situação se agravou quando a Procuradoria da Fazenda conseguiu bloquear na Justiça apoximadamente R$ 40 milhões do Eisa porque outra empresa do grupo, o estaleiro Mauá, estava devendo impostos ao Fisco. Hoje, o fluxo de caixa do estaleiro está negativo em R$ 200 milhões.
O discurso do Eisa é que a crise que atravessa não é de insolvência e, sim, de liquidez. Peres afirma, porém, que a intenção de Gérman Efromovich é vender o estaleiro. O empresário está em busca de sócios ou compradores.
Fonte: O Estadão