Painel da Navalshore apontou necessidade de definição de políticas públicas e preparação de infraestrutura para aproveitar potenciais demandas no país
O Brasil vive um momento decisivo para definir políticas para atividades de reciclagem que deem segurança jurídica ao setor e que estimulem a economia circular. Para os agentes, o país ainda tem passos a serem dados para que o grande potencial de desenvolvimento da cadeia reversa perca a janela de oportunidade e acabe gerando negócios para instalações no exterior. O tema foi discutido no painel ‘Descomissionamento: reciclagem, alternativas offshore e infraestrutura marítima’, nesta quinta-feira (22), na 18ª Navalshore, no Rio de Janeiro.
O professor de engenharia industrial metalúrgica na Universidade Federal Fluminense (UFF), Newton Pereira, defende que é possível fazer reciclagem segura e sustentável. Ele deu como exemplo Curaçao, no Caribe, que é um país de pequenas dimensões que vem realizando atividades de reciclagem de forma controlada. Ele alertou para o risco de falta de instalações no Brasil para os serviços se grande parte dos projetos previstos for desmantelada num mesmo período.
“Possivelmente teremos escassez de estruturas para realização no país”, disse Pereira, que moderou o debate, que teve a curadoria do Cluster Naval Tecnológico do Rio de Janeiro. O professor citou que, apesar do grande potencial para a atividade, dois FPSOs saíram recentemente do Brasil para serem reciclados na Dinamarca em ambientes portuários. Pereira também acredita que o projeto de lei 1584/2021, em tramitação no Congresso, traz um aspecto de segurança jurídica para o Brasil. “Precisamos dessa segurança jurídica para que haja interesse de outros players entrarem no mercado”, analisou.
O gerente executivo de política industrial do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Pedro Alem Filho, observa, há quase dois anos, um aumento dos volumes de encomendas nas áreas de O&G, defesa e transporte. “Existe uma movimentação de retomada e nesse ambiente é preciso saber o que está disponível e a capacidade”, disse Alem Filho. Ele destacou que essa demanda vem motivando as atualizações do ‘Mapa dos Estaleiros’, ferramenta lançada pelo IBP este ano e que conta com a colaboração do Sinaval.
Atualmente são esperados, pelos menos, US$ 85 bilhões de investimentos nos projetos de descomissionamento da Petrobras nos próximos anos, caso os serviços ocorram no Brasil. O subsecretário adjunto de economia do Rio de Janeiro, Marcelo Felipe Pereira, acredita que o estado está bem posicionado, com 24 estaleiros, de diferentes portes, dos quais 19 estão na Baía de Guanabara, muitos deles ociosos.
Ele acrescentou que o complexo portuário e industrial do Açu, no norte fluminense, se prepara para ter uma área de descomissionamento. Uma das vantagens, segundo o subsecretário, é a proximidade do Porto do Açu com áreas de exploração de petróleo, o que reduziria o deslocamento das plataformas que serão descomissionadas futuramente.
O subsecretário lembrou que a Hong Kong Convention (HKC) entrará em vigor em 2025 e que o Brasil precisa correr para se adequar a ela e ao regulamento europeu, para não perder essas oportunidades de negócios. “É necessário termos uma indústria de reciclagem, não só no Brasil, mas no Rio de Janeiro”, disse Marcelo Felipe Pereira.
O gerente PMO da Modec Serviços de Petróleo do Brasil, Jime Braga, concorda que existe uma oportunidade de nascimento de uma nova indústria para o país. Ele ponderou que existem outros países faturando com a realização de projetos de reciclagem de frotas de outros países. Para Braga, existe uma movimentação da indústria em curso por conta da força da legislação.
Ele acrescentou que existem regras recentes que foram editadas muitos anos depois dos contratos das plataformas, o que traz incertezas quanto a custos adicionais. “Como endereçar esses custos agora? Existe uma grande discussão para negociar isso”, indagou o gerente da Modec.