Estaleiros lotados no mundo: o que significa para o Brasil?

  • 26/12/2024

Necessária estratégia para a retomada dos estaleiros e da indústria naval brasileiros, sob pena de elevar custos e prazo

Matéria da Bloomberg publicada semana passada mostra que os grandes construtores de embarcações mundiais estão com a maior carteira de pedidos desde 2007; 2 dos 3 maiores estaleiros dizem que os clientes deverão esperar até 2028 para receber uma encomenda. Além disso, estão selecionando as embarcações que dão mais lucro. O aumento do comércio e a modernização da frota, com idade média de 17 anos, a mais elevada desde 2005, impulsionam os pedidos.

“Essa matéria da Bloomberg, demonstrando a forte concentração de encomendas de estaleiros no mundo, leva a cada vez pensarmos em estratégias de retomada progressiva da indústria brasileira, sob pena de aumento de prazos e custos”, avalia Wagner Victer, ex-secretário de Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro.

A pandemia mostrou o perigo estratégico de pensar como guarda-livros, deixando países – entre eles o Brasil – com dificuldades em obter insumos, produtos e equipamentos. Deixar o país se guiar pela lógica da vantagem competitiva é menosprezar riscos geopolíticos e ganhos econômicos.

O governo Lula está, aos poucos, reerguendo a indústria naval. No passado, nossos estaleiros e fornecedores já deram demonstração de competência e capacidade de atender às necessidades brasileiras. E não apenas no passado recente, com os governos do PT, mas anteriormente, no governo JK (implantando políticas desenhadas por Getúlio Vargas) e Geisel.

A ineficiência não é dos estaleiros

Apesar do passado vitorioso, o lobby contra a produção nacional de embarcações e plataformas de petróleo é insistente. Em editorial publicado semana passada, O Globo – cuja sede é no Rio de Janeiro – ataca um dos mais importantes setores industriais do estado. Com mistura de argumentos ideológicos e meias-verdades, o jornalão da Família Marinho diz que os estaleiros instalados no Brasil têm ineficiência crônica e não conseguem ser competitivos diante dos fornecedores externos – de uma vez só, externando o complexo de vira-latas e escamoteando os subsídios estatais dados aos estaleiros asiáticos.

A mesma lógica, porém, não é usada quando se trata do próprio Grupo Globo. A empresa esteve na linha de frente da defesa da desoneração da folha – eufemismo para recolher menos contribuição previdenciária – para 17 setores, entre eles o de comunicação, na qual o Globo está incluído. Levantamento feito pelo PT mostra que a Globo Comunicação e Participações S/A deixou de pagar, de janeiro a agosto de 2024, R$ 150 milhões graças à desoneração. A Editora Globo obteve mais R$ 19,2 bi em subsídios.

Anualizando estes valores, serão cerca de R$ 253 bilhões até o final do ano. Como a desoneração foi criada em 2011, nestes 13 anos pode-se estimar que o Grupo Globo se beneficiou de mais de R$ 3 bilhões.

Ao contrário dos estaleiros brasileiros, que empregaram de forma direta mais de 80 mil trabalhadores nos anos dos governos Lula e Dilma, os setores beneficiados pela desoneração da folha reduziram sua participação no mercado de trabalho: estudo de Marcos Hecksher, coordenador do Diset/Ipea, revelou que os setores beneficiados reduziram – entre 2012 e 2022 – sua participação na população ocupada (de 20,1% para 18,9%), entre os ocupados com contribuição previdenciária (de 17,9% para 16,2%) e entre os empregados com carteira assinada do setor privado (de 22,4% para 19,7%).

Fonte: Monitor Mercantil – Marcos de Oliveira
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