Indústria naval volta a Rio Grande; construção de embarcações será retomada neste ano

  • 30/06/2025

Estaleiro Rio Grande terá, no pico da construção dos navios da Transpetro, 1.500 trabalhadores

Foi com a presença do presidente Lula, em fevereiro, que os contratos foram assinados e, oficialmente, a indústria naval em Rio Grande deu um pontapé e reinício depois da crise que desmobilizou o Estaleiro Rio Grande durante muito tempo. A partir de um consórcio com a Mac Laren, o estaleiro, administrado pela Ecovix, venceu a concorrência para construir quatro navios de transporte para a Transpetro, em um contrato que chega a R$ 1,5 bilhão (US$ 69,5 milhões por embarcação).

De acordo com o diretor operacional do Estaleiro Rio Grande, Ricardo Ávila, as obras no local iniciam no segundo semestre deste ano. Hoje, são 220 funcionários no estaleiro e, no pico da construção dos navios, que deve ser a partir do primeiro trimestre de 2026, chegará a 1,5 mil trabalhadores. “Estamos na fase de preparação para a execução dos projetos. Com máquinas e preparo do espaço, além do treinamento das equipes para os blocos de produção. E, principalmente, a parte de engenharia dos navios. Em Rio Grande nós temos uma estrutura privilegiada para a execução desse projeto, com a possibilidade de produção simultânea de embarcações, pelo espaço que temos”, explica Ávila.

Por isso, mesmo em fase inicial da execução do primeiro trabalho, o estaleiro está de olho em futuras contratações de embarcações. Somente neste pacote para renovar em 25% a frota da Transpetro, a companhia pretende contratar outras 13 embarcações até o final de 2026.

“A reativação do estaleiro abre possibilidades para outros serviços e embarcações. Não apenas para a montagem, mas como prestação de serviço a outras operações também, com reparos de embarcações, por exemplo. São ativos com um diferencial em relação a outros portos, por possuir um dique seco. Além de movimentar toda a economia portuária, temos sempre apresentado o serviço do estaleiro quando mostramos os potenciais do nosso porto na atração de novos investimentos dos mais diversos”, aponta o diretor-presidente da Portos RS, Cristiano Klinger.

Um potencial ainda com muito espaço para crescimento. Segundo Ávila, mesmo com a recente contratação, a infraestrutura do estaleiro seguirá subutilizada.

“Se conseguirmos outros navios e outras demandas, será ótimo para o estaleiro, mas também para Rio Grande. A indústria naval emprega muita gente, e impacta muito quando tem movimentação, mas infelizmente, também quando não tem demanda. Rio Grande precisa sair do ciclo de altos e baixos. Temos agora essa oportunidade de retomada com muito mais qualidade do que tivemos no ciclo anterior”, comenta o diretor.

Isso porque, diferente do ápice da indústria naval em Rio Grande, agora a contratação do Estaleiro Rio Grande não se limita à produção de cascos. Desta vez, todo o desenvolvimento do navio é feito em Rio Grande, a partir da engenharia contratada junto a uma empresa norueguesa. Os navios sairão prontos do estaleiro, seguindo para a Mac Laren, no Rio de Janeiro, somente para a finalização.

“Rio Grande tende a ganhar muito em expertise. Na outra época, eram cascos, agora, navios. Vamos ganhar em conhecimento e em instrumentação de navegação. Nossa ideia é conseguirmos formar a nossa mão-de-obra especializada aqui, mas para isso, precisamos de um horizonte de pelo menos 10 anos de contratos. Hoje, os especialistas vêm de outras regiões, e é muito difícil convencer um profissional para vir transmitir o seu conhecimento em um contrato de menos de três anos”, diz Ricardo Ávila, que também preside o Arranjo Produtivo Local Marítimo em Rio Grande.

Os modelos Handy, a serem construídos em Rio Grande, vão contemplar soluções que garantem maior eficiência energética e menor emissão de gases que provocam o efeito estufa. As embarcações poderão ser abastecidas com bunker ou biocombustíveis. A estimativa é de reduzir em 30% as emissões em relação aos atuais navios da frota. Os navios poderão transportar produtos claros derivados de petróleo, como diesel marítimo, diesel S10, diesel S500 e gasolina de aviação.

Exploração de petróleo à vista

Além das possíveis novas contratações para construção de navios, os olhos da administração do Estaleiro Rio Grande também estão voltados ao mar. Lá está um potencial que pode transformar a economia da região, a partir da exploração de petróleo na Bacia de Pelotas.

“A construção naval é um dos eixos importantes do nosso polo, uma futura exploração de petróleo, com toda a sua demanda à costa, é outro eixo com potencial de transformar o perfil econômico da região”, avalia Ricardo Ávila. São 34 áreas com potencial ao longo de toda a costa gaúcha, e que estavam incluídas no leilão da ANP de junho para prospecção e exploração de áreas no país, somando quase 22 mil quilômetros quadrados. A perspectiva é de que a mobilização na Bacia de Pelotas atraia até R$ 1,5 bilhão em investimentos para o Estado. O reaquecimento do polo naval também gera atenção em São José do Norte. Lá, afirma o prefeito Neromar Guimarães, representantes da EBR, que administra o estaleiro que um dia empregou 4 mil pessoas no município, garantiram a ele que estão em fase de readequação da sua estrutura para concorrer a novos contratos. “Para nós, o fundamental era termos essa garantia de que o estaleiro não iria fechar. Ainda não tem uma data para retomada, mas eu diria que hoje eles estão em hibernação, com algo em torno de 30 funcionários. Daremos todas as condições para que aconteça a retomada”, diz o prefeito.

Segue o impasse das plataformas

Enquanto prepara-se para iniciar a construção de novas embarcações, o Estaleiro Rio Grande ainda aguarda uma definição para o imbróglio envolvendo o desmanche de plataformas da Petrobras, compradas pela Gerdau, com a contratação do estaleiro para a transformação em sucata que alimentará as indústrias de Charqueadas e Sapucaia do Sul, em um negócio que envolveu R$ 48 milhões. O desmanche só é possível após a limpeza total dos tanques da plataforma P-32. Uma ação que já foi feita, em parte, pela Gerdau após um ajuste com a Petrobras.

“São 15 meses que a plataforma está no nosso estaleiro, mas ainda demoraria bastante para que essa permanência atrapalhe os serviços da montagem de embarcações. O problema é a redução da nossa janela para o segundo serviço contratado pela Gerdau”, explica o diretor operacional do Estaleiro, Ricardo Ávila.

Ele refere-se ao desmanche de uma segunda plataforma, a P-33, também já adquirida pela multinacional gaúcha e que ainda não foi entregue ao estaleiro.

Desde a contratação dos desmanches, mesmo valorizando a atividade e o novo know-how a ser adquirido pela empresa, Ávila salientou que a prioridade seria dada à construção de embarcações.

Movimentação do Porto de Rio Grande

  • Foram 9,8 milhões de toneladas de carga movimentada no Porto de Rio Grande no primeiro trimestre de 2025
  • Movimentação recorde do porto, representando 15,5% a mais do que no mesmo período de 2024
  • Foram 773 embarcações no Porto de Rio Grande neste período
  • 23% da movimentação foi em contêineres, com 226,3 mil TEUs, ou 32,9% a mais do que em 2024
  • 45,2% da movimentação foi em grãos e cereais
  • 13,7% da movimentação em matéria-prima para fertilizantes
  • 10,3% da movimentação em pastas de madeira e celulose
FONTE: PORTOS RS
Fonte: Jornal do Comércio – Eduardo Torres
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