Em setembro, Ecovix cumpriu todas as exigências e contrato de R$ 1,5 bilhão entrou em vigor, com prazo de entrega em quatro anos já contando.
No mês passado, começou a correr o prazo – até agosto de 2029 – para a entrega de quatro navios do tipo handymax construídos em Rio Grande, marcando a retomada da atividade naval no Estado. Uma equipe de técnicos está na Noruega, detalhando o projeto. Nesta entrevista, o CEO da Ecovix, Robson Passos, detalha os passos do processo até aqui e projeta os próximos.
Como foi o processo da Ecovix de uma recuperação judicial complexa até a vitória na licitação da Transpetro?
O processo de reestruturação começou em dezembro de 2016. Foi exitoso, porque enfrentou toda a crise do setor naval. No ano passado, apresentamos proposta em licitação da Transpetro para construção de navios handymax, associados ao estaleiro MacLaren, no Rio de Janeiro, e o consórcio foi sagrado vencedor. O contrato foi assinado no final de fevereiro em Rio Grande. E prevê um período de eficácia, um prazo para entrega de documentos técnicos e financeiros, como seguro, e detalhes da construção dos navios. O mercado de seguro estava parado desde a crise do setor naval.
Não é qualquer empresa que faz seguro para construção de navio, é muito setorial?
Exato, é um segmento que ficou parado por 10 anos. Houve um trabalho de retomar a confiança, para compor um seguro que não é pequeno. Estamos falando de um contrato de US$ 278 milhões (R$ 1,5 bilhão). Depois de um trabalho intenso, conseguimos cumprir as exigências e, no final de setembro, alcançamos a eficácia. Agora, o contrato está em vigor, a Transpetro já pagou o adiantamento contratual.
“O objetivo é iniciar o processamento de aço desse navio em março.”
Quais os próximos passos?
Um time de técnicos das áreas de engenharia e de suprimentos está na Noruega, para duas semanas de trabalho. É uma aproximação técnica entre o cliente Transpetro, a projetista contratada, a norueguesa Kongsberg, e nossos times. Vamos aprovar os primeiros desenhos e documentos técnicos para começar o processo de compra dos materiais e equipamentos para construção dos navios. O objetivo é iniciar o processamento de aço desse navio em março.
Seria o início da construção dos navios?
A primeira mobilização de mão de obra direta será no início de março, para começar a processar equipamentos no final de março. No cronograma oficial tratado para a Transpetro, seria um pouco mais tarde, mas é nosso interesse antecipar e fazer o mais cedo possível. Antes, vai haver uma pequena preparação do canteiro para o projeto, que é basicamente preparar as máquinas, atualizar os softwares. Existe mobilização longa para esse projeto.
Há disponibilidade de mão de obra?
O polo naval de Rio Grande já teve 22 mil pessoas trabalhando. Só a Ecovix empregou 14 mil pessoas, entre diretas e indiretas. O estaleiro convivia com a construção da própria infraestrutura ao mesmo tempo em que executava os contratos. Agora, os contratos são bem menores. Para dar uma ideia, no auge tínhamos contratados para a Petrobras oito cascos de plataforma de 40 mil toneladas cada. Os quatro Handymax juntos são cerca de 20 mil toneladas. O conjunto é metade do que era um único casco. Então, esse primeiro contrato é importante, porque nos ajuda até a retomar de forma segura, mas é menor e vai demandar menos mão de obra.
“Hoje em Rio Grande temos 5 mil metalúrgicos desempregados que precisam ser ocupados.”
Quanto, aproximadamente?
Prevemos um pico de 1,6 mil trabalhadores. No passado, o Ecovix e outros estaleiros capacitaram pessoas. Parte era de fora e migrou de setor por conta da crise. Mas posso afirmar é que hoje em Rio Grande temos 5 mil metalúrgicos desempregados que precisam ser ocupados. Quando a Ecovix entrou em crise, foram trabalhar no EBR, em São José do Norte, que paralisou as atividades no final do ano passado.
Temos obrigação de trabalhar para gerar empregos a toda essa mão de obra que está lá. É um dos nossos objetivos aqui como companhia e como responsabilidade social.
As compras de aço e de equipamentos serão no Brasil?
O aço ainda não está fechado. Antes, precisamos da aprovação técnica dos desenhos na Noruega. O mais provável é que seja comprado fora, no mercado asiático, pela diferença de preço. O nacional é cerca de 30% mais caro do que o importado, não tem competitividade. É um trabalho que estamos buscando como setor, mas passa por uma discussão maior.
“A construção naval não pode ser uma política de um partido ou de um governo. Tem de ser programa de Estado.”
Há temor de mudança de planos em eventual mudança de governo, já que 2026 é ano eleitoral?
É um ponto que a indústria do segmento sempre questionou. A construção naval não pode ser uma política de um partido ou de um governo. Tem de ser programa de Estado. Isso deixou de estar vinculado a uma política de esquerda. Trump adotou medidas para retomar a construção naval nos EUA, e está no extremo oposto. Isso mostra para a política nacional que o assunto não pode ser tratado como política de partido.
Transpetro e Petrobras afirmam que este programa é diferente do que, no passado, terminou em crise. É sustentável?
Sem dúvida. O programa prevê 25 embarcações e tomou cuidados para garantir a retomada da construção naval de forma responsável e sustentável. Começa por navios pequenos para que os estaleiros voltem a operar, preparem a mão de obra e entrem em regime normal de operação. A expectativa é de que no próximo ano venham embarcações maiores.
“Esse contrato ocupa um pouco menos de 10% da nossa capacidade fabril.”
Há mudanças na execução?
Não vou dizer que o prazo é folgado, mas é factível. Permite construção com metodologia e responsabilidade. Outro problema do passado era o fluxo de caixa. Em algum momento os estaleiros tinham de financiar um pouco a construção.
Agora, há fluxo de caixa, não precisa buscar recursos. Os contratos são menos leoninos, entre aspas. Os do passado tinham multas duríssimas e penalidades altíssimas. Agora, vieram com lógica de mercado.
Durante a construção dos handymax, o Ecovix vai manter outros serviços, que permitiram chegar até aqui?
Sim, esse contrato ocupa um pouco menos de 10% da nossa capacidade fabril. A capacidade de processamento é 80 mil toneladas de aço por ano. E o prazo contratual para entrega é de quatro anos. Não causa preocupação a ocupação desse contrato com outros que ainda que a gente quer conquistar. De 2017 até o ano passado, o que nos garantiu sobrevivência foi essa diversificação, que nos permitiu executar 18 reparos navais. Era um mercado que não tínhamos expertise, mas conseguimos atender. Conquistamos o contrato de desmantelamento da P32, que está em andamento hoje no ERG.
“Estamos bem posicionados no lote B, que é o maior, o de cinco navios. A proposta é de cerca de US$ 415 milhões.”
A Ecovix vai disputar outras licitações?
Participamos de uma segunda, para navios gaseiros. Trabalhamos desde o início do ano e entregamos proposta na licitação de oito navios dividida em dois lotes, um de três e outro de cinco. O edital prevê que a mesma empresa não pode levar os dois. Fomos chamados pela Transpetro para prestar esclarecimento sobre a proposta e estamos aguardando o resultado final. Estamos bem posicionados no lote B, que é o maior, o de cinco navios. A proposta é de cerca de US$ 415 milhões. Temos a expectativa que se defina até o final do mês, ou início de novembro.
Também é em consórcio?
Nesse, nós estamos independentes. Puro sangue, como a gente diz aqui.
Caso vença essa licitação, quanto somaria em capacidade?
Significa o processamento de cerca de mais 30 mil toneladas de aço para processar em 57 meses, além dos 20 mil do primeiro. A ocupação subiria de 10% para cerca de 20% no pico e a mobilização de 2,9 mil trabalhadores no total, ainda dentro do número que a gente entende que está disponível em Rio Grande.




