Em debate durante o Brazil WindPower, especialistas defenderam que o país precisa de previsibilidade regulatória para consolidar a energia eólica offshore
Considerando que a maior parte do mundo está se eletrificando, se descarbonizando e buscando acessibilidade de preços e segurança de abastecimento, a energia eólica offshore se apresenta como uma opção muito atraente. Pelo menos, é o que defende Liam Leahy, Technical Assistance Director da Ocean Energy Pathway.
Ele afirma que o Brasil tem um argumento muito forte para a energia eólica offshore, um grande sistema de geração de energia renovável. “O país pode continuar sendo ‘verde’, com o desenvolvimento de energias renováveis, em particular a eólica. As fontes renováveis e a eólica offshore fazem muito sentido no Brasil, devido à localização dos recursos eólicos offshore e à demanda por eletricidade.”
Aproveitar o momento certo para escolher os melhores locais, com base em planejamento espacial marinho e áreas marinhas protegidas, áreas sensíveis que afetem as comunidades e a pesca local, por exemplo, sempre resultará em uma indústria eólica bem-sucedida, ressalta.
Momento decisivo
O Brasil encontra-se em um momento determinante e decisivo. Possui os recursos, o arcabouço legal e a experiência. No entanto, sem um processo de licitação claro, sem a regulamentação de implementação, “é como se a porta estivesse aberta, mas ninguém ainda pudesse atravessá-la”, acredita Dimitri Laloux, Origination & Partnerships Director, da Ocean Winds.
Para ele, o Brasil precisa definir as primeiras concessões de forma clara e transparente, pois essas regras impulsionam o investimento. “Só quando a área for concedida, alocada, é que o incorporador começará a investir e o mercado começará a se movimentar. O primeiro ponto foi de fato a regulamentação, o segundo é viabilizar atividades de projeto em estágios iniciais. O terceiro, e mais difícil, é construir uma visão de longo prazo, mas integrá-la às ações de hoje. Assim, o projeto inicial deve estar alinhado com o planejamento portuário, com a infraestrutura de conexão à rede elétrica e com a política industrial.”
As condições brasileiras para receber projetos offshore foi destacada por Thiago Coriolano, Market Manager da DNV. Ele lembra que um relatório de cenário feito para o Banco Mundial aqui no Brasil concluiu que o vento em alto mar no país é muito mais estável do que o vento em terra. “Portanto, isso é algo que foi percebido, mas que não foi totalmente compreendido nas discussões iniciais. Temos um parâmetro para verificar isso, a variabilidade interanual. Só para dar um número, a variabilidade em alto mar, em alguns lugares, é metade da variabilidade que temos em terra.”
Desafios de competitividade

Da esquerda para a direita: David Cassimiro, Uiara Valente, Marcelo Frazão, Guilherme Grossi e Raíssa Cafure Lafranque (Foto: Ana Azevedo)
Representantes do setor privado afirmam que o país precisa de previsibilidade regulatória para consolidar a energia eólica offshore. Raissa Cafure Lafranque, chief strategy officer da EDF Power Solutions, alertou para o risco de o país perder o “timing” global de investimentos se não avançar rapidamente na regulamentação e na criação de um ambiente de confiança. “Precisamos transformar o potencial em realidade. O atraso na tomada de decisões pode custar ao Brasil oportunidades estratégicas e a construção de um mercado competitivo”, afirmou.
Lembrando a crise onshore vivida pelo país, Raissa espera que o mercado aproveite o aprendizado internacional para evitar erros na estruturação da nova indústria. Ela reconhece o potencial brasileiro, mas considera essencial que o setor público e o privado estejam alinhados na construção de regras estáveis e atrativas.
Guilherme Grossi, Business Development Lead Engineer Brazil, da Ocean Winds, reforça que o Brasil tem predicados ímpares no mundo, dentre eles a expertise dos mercados de óleo e gás. Para ele, o país é plenamente capaz de avaliar grandes empreendimentos e fazer o licenciamento tanto offshore quanto onshore. “Grandes empresas já atuam no país e sabem os dados que devem ser avaliados para viabilizar um empreendimento desse porte”.
Já o Banco Mundial não está se comprometendo a financiar programas eólicos, comentou David Cassimiro, Offshore Wind Consultant, World Bank. No momento, a proposta é trazer conhecimento sobre o setor, desenvolver o mapeamento técnico do potencial e colocar todos esses pontos em um relatório de cenários, com assistência técnica de diferentes competências, fornecendo um direcionamento para o governo brasileiro.



