A nova estimativa da AIE prevê crescimento de 700 mil barris por dia de petróleo, cerca de 200 mil barris a menos
A Agência Internacional de Energia reduziu a previsão de crescimento da demanda por petróleo este ano em mais de 20%, indicando uma queda dramática no consumo global mesmo com os países produtores mostrando poucos sinais de que irão diminuir a produção.
A perspectiva de uma oferta não controlada atingiu fortemente os preços globais do petróleo nas duas últimas semanas em meio a sinais de que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estão muito divididos. Um grupo formado por alguns dos maiores produtores de petróleo do mundo não quer frear a produção para ajudar a elevar os preços. Em vez disso, os membros estão reduzindo os preços em uma tentativa de fortalecer, ou defender, sua fatia do mercado global.
A desaceleração do crescimento econômico na Ásia e a debilitada economia europeia também pressionaram os preços nos últimos meses. Essas preocupações se intensificaram ontem, depois que a AIE, com sede em Paris, em seu relatório mensal que é bastante acompanhado, reduziu sua previsão para o crescimento da demanda global em cerca de 22%. Ela agora prevê que a demanda irá crescer apenas 700 mil barris por dia este ano, aproximadamente 200 mil barris por dia a menos do que a previsão anterior. A demanda global de petróleo está em pouco mais de 92 milhões de barris por dia.
Vários relatórios econômicos fracos na Europa ontem pressionaram mais as expectativas sombrias de qualquer recuperação rápida na região – e por extensão qualquer impulso na demanda do petróleo. A inflação britânica desacelerou muito em setembro e a produção industrial da zona do euro caiu em agosto, enquanto a inflação na Espanha entrou em território negativo pela primeira vez em mais de quatro anos.
O menor custo do combustível contribui para a queda da inflação e os números são uma preocupação a mais de que uma espiral decrescente de preços em toda a Europa possa atrapalhar a frágil recuperação econômica no bloco.
Enquanto isso, a produção de petróleo aumentou em setembro, segundo a AIE. A Opep produziu mais petróleo do que nos 13 meses anteriores, enquanto os produtores fora da Opep produziram 2,1 milhões de barris por dia no período, ou mais de 2% da demanda global diária.
Os preços do petróleo continuaram a cair fortemente ontem. O petróleo brent negociado na ICE Futures para entrega em novembro caiu 4,3%, para US$ 85,04 o barril, atingindo seu menor nível desde novembro de 2010. Na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex), os futuros do petróleo para novembro recuaram 4,55%, para US$ 81,84, o menor nível desde junho de 2012. Os preços registraram a maior queda percentual em um dia em quase dois anos.
“Claramente há uma pressão de queda nos preços”, disse Antoine Halff, chefe da divisão de mercados e indústria de petróleo da AIE. “Se olharmos o balanço dos próximos trimestres veremos potencialmente mais crescimento de oferta do que crescimento de demanda.”
A AIE informou que estima que a demanda cresça mais no próximo ano, aumentando 1,1 milhão de barris por dia. Mas a oferta de petróleo parece continuar com forte crescimento, afirmou a agência. A produção dos países que não fazem parte da Opep deve permanecer forte nos próximos anos, guiada pela continuidade do boom do petróleo de xisto na América do Norte.
Os Estados Unidos já se tornaram o maior produtor mundial de líquidos derivados de petróleo – incluindo petróleo e gás natural líquido. A AIE informou no início do ano que os EUA haviam ultrapassado a Arábia Saudita e a Rússia, embora ainda estejam atrás dos dois países em termos de produção de petróleo bruto.
A produção total de líquidos nos EUA deve crescer para mais de 12 milhões de barris por dia em novembro e ficar acima desse nível até o fim de 2015. É um crescimento de quase 20% ante a média do ano passado de cerca de 10,2 milhões de barris por dia.
A produção da Opep também está crescendo rapidamente. Depois de um período de interrupções na produção na Líbia, devido à instabilidade política e à violência no país, a produção local está crescendo de forma expressiva novamente. O Iraque também está elevando a produção.
Em momentos anteriores de queda no preço, os membros da Opep com frequência agiram em conjunto para reduzir a produção e sustentar os preços. Desta vez, uma divisão entre os membros não permitiu um acordo para fazer o mesmo. A Arábia Saudita agiu por conta própria nos últimos meses e reduziu os preços.
Desde então, a Arábia Saudita reduziu seus preços para os compradores asiáticos e europeus, prejudicando outros membros da Opep. Ela informou recentemente ao grupo que havia elevado a produção em 100 mil barris por dia em setembro, para 9,7 barris diários.
A Opep deve se reunir em novembro para discutir preços e produção. A Venezuela – um dos membros do cartel mais sensíveis à queda dos preços do petróleo – pediu uma reunião de emergência no fim de semana e até agora foi ignorada pelos outros membros.
Analistas dizem que pode haver um piso natural para o petróleo: o preço mínimo necessário para que os produtores americanos de petróleo de xisto sigam produzindo com lucro. Se os preços caírem abaixo desse valor, os produtores podem reduzir a produção. Esse corte na oferta impulsionaria então os preços.
A AIE informou, entretanto, ontem que o piso ainda é consideravelmente menor que os preços atuais. Segundo a agência, apenas cerca de 4% dos projetos de petróleo de xisto dos EUA têm um preço de equilíbrio de mais de US$ 80 por barril. Mesmo assim, a AIE afirma que não está claro se novos poços precisarão do mesmo preço para ter lucro ou se poderão ser menores.
“Não há uma única gota de petróleo que não possa ser produzida para fins comerciais com o preço de hoje”, disse o economista chefe da AIE, Fatih Birol, em entrevista ao “The Wall Street Journal” na segunda-feira.