Depois de Joinville, com a GM, e de Araquari, com a BMW, agora é a vez de São Francisco do Sul anunciar um megainvestimento para a região Norte de Santa Catarina: um estaleiro gigante, com capacidade para montar plataformas de petróleo cujo valor agregado passa de R$ 1 bilhão cada.
A CMO Construção e Montagem Offshore – uma empresa que faz parte do Grupo Construcap, de São Paulo, em parceria com a americana MCDermott – vai investir R$ 650 milhões no estaleiro no fim da Estrada Geral da Ribeira, uma área de reflorestamento ao lado de uma comunidade que não tem mais do que 20 casas, a maioria de pescadores locais ou moradores de cidades da região que usam o espaço para guardar equipamentos de pesca e pequenos barcos de madeira.
O projeto, que será apresentado em detalhes nesta terça-feira em São Francisco, é ambicioso: começar as obras em 2015 e colocar todo o complexo em atividade em 2016. O empreendimento já tem dois dos principais fatores resolvidos: a área com 9 milhões de m², dos quais 500 mil m² serão usados para a unidade, e todo o estudo de impacto ambiental e o respectivo relatório de impacto ao meio ambiente, documento conhecido como EIA-Rima, fundamental para qualquer empreendimento.
A pressa é justificável. O setor é considerado estratégico para o País. O objetivo é atender a parte da crescente demanda nacional no setor de óleo e gás, principalmente por parte da Petrobras, relacionada à construção e integração de dois tipos de plataformas marítimas: as unidades flutuantes e fixas de produção e exploração de óleo e gás.
Em termos do setor, a CMO vai produzir FPSOs (floating production storage and offloading, ou, em português, unidade flutuante de armazenamento e transferência) e FPUs (floating production unit, ou unidade flutuante de produção). Na prática, a palavra integração é a que melhor representa a atuação da empresa.
Ela “integra” grandiosos cascos de navios, que são comprados no mercado internacional, às estruturas que compõem uma plataforma de extração e armazenamento de petróleo e gás. São aqueles navios como a plataforma P57, que consegue explorar o fundo do mar, extrair o óleo e armazenar tudo o que é retirado nele mesmo.
Setor em expansão
O empresário Carlos Frederico da Cunha Teixeira, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Naval e representante do setor na Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), comemorou a instalação da CMO em Santa Catarina.
Segundo ele, hoje o setor está concentrado em Itajaí e Navegantes, e um investimento desse porte na região Norte representa também uma série de melhorias de infraestrutura e logística. — Vai ser muito importante para a região e para o Estado. Um aporte de recursos assim faz toda a diferença — disse Teixeira.
Esperança e polêmica no futuro próximo
Por enquanto, moradores da região comemoram o anúncio. Técnicos do grupo e da Prefeitura passaram pela região nos últimos dias e entregaram material informando sobre o investimento do estaleiro. Os moradores da pequena Ribeira não sabem se terão de sair de onde moram ou acabarão sendo beneficiados, mas prometem acompanhar tudo de perto.
Segundo o aposentado Alire Wuthstrack, 71 anos, um dos moradores mais antigos da região, a ideia de ter uma grande empresa na região faz todo sentido quando o assunto é emprego para os moradores. Ele tem dois filhos com idades entre 25 e 30 anos e considera que a instalação da CMO pode ajudar no desenvolvimento da região.
Um grupo de ambientalistas também começou a estudar a proposta. Um dos primeiros a se manifestar foi Gert Fischer. Para o consultor, que também é integrante do Conselho da Cidade de Joinville e um dos ambientalistas mais conhecidos na região, as obras levarão ao fim os extensos manguezais na região. Ele também diz que o aprofundamento do canal e o aterro para a instalação do empreendimento gerarão outros problemas ambientais.
Empresa quer faturar R$ 1 bilhão por ano
O estaleiro que será construído em São Francisco do Sul terá capacidade para produzir cerca de 15 módulos de plataforma por ano – cada um deverá custar entre US$ 25 milhões e US$ 35 milhões. O cronograma informado até agora prevê que as obras comecem em 2015 e durem 12 meses. A empresa quer faturar R$ 1 bilhão por ano após o início das operações. Por enquanto, não há contratos garantidos.
O projeto do empreendimento foi pensado e desenvolvido para ser posto em prática, inicialmente, no complexo portuário de Suape, em Pernambuco. Mas em maio deste ano, depois de enfrentar problemas com a dragagem do porto, no solo onde a unidade seria instalada, e de muita negociação com o governo pernambucano, a CMO desistiu do empreendimento e partiu para um plano B, em Santa Catarina.
A contrapartida oferecida pelo governo catarinense prevê pelo menos R$ 10 milhões em obras viárias que conectarão o estaleiro à BR-280. A negociação foi feita na época com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Paulo Bornhausen. A área prevista para o estaleiro fica a menos de dez quilômetros da rodovia. A estrada, que também dá acesso à Unidade Prisional Avançada (UPA) de São Francisco do Sul, não é pavimentada e suporta, por enquanto, o trânsito apenas dos moradores e de uma linha de ônibus.