Em um ambiente difícil para a indústria brasileira de máquinas e equipamentos – com muitos projetos e investimentos travados, principalmente em infraestrutura -, a valorização recente do dólar é vista com otimismo para fabricantes locais. É o caso da BMC, que vende escavadeiras, retroescavadeiras, pás carregadeiras e empilhadeiras. “O atual patamar cambial já começa a inviabilizar importações de algumas empresas, o que nos abre oportunidade de ganho de mercado”, diz Felipe Cavalieri, presidente da companhia.
A BMC inaugurou em abril uma fábrica em Itatiaia (RJ), em parceria com a coreana Hyundai, apta a produzir quatro mil máquinas ao ano – cerca de 20% do mercado nesse segmento. Hoje, a unidade inaugurada em abril opera a um ritmo de três mil unidades anuais, e Cavalieri vê o novo patamar do dólar – mais próximo de R$ 2,40 – como uma ajuda em um momento ruim do setor. Segundo ele, as vendas da BMC neste ano vinham crescendo na linha de empilhadeiras.
“O crescimento do setor depende muito de novos investimentos produtivos e do andamento de obras de infraestrutura. O problema é que muitos projetos demoram para obter licenças”, diz o empresário. Sua previsão de faturamento é 10% inferior ao valor do ano passado. Este número leva em conta tanto as vendas de máquinas que a BMC importa como a participação da empresa na Hyundai Heavy Industries, nome da fábrica com a montadora coreana, cuja expectativa é de faturamento total de R$ 700 milhões em 2013.
Dados da Abimaq, associação que representa a indústria de máquinas e equipamentos, já mostram redução das importações das máquinas usadas em construção civil e logística, ramo em que atua a BMC. Em julho, a queda foi de 18,1% na comparação com o mês anterior, que já havia mostrado recuo de 17,8% em relação a maio. Para Carlos Pastoriza, diretor-secretário da Abimaq, essa redução não é resultado apenas da elevação do dólar, mas também da desaceleração do setor, com demanda em baixa.
Distribuidores de máquinas importadas estão optando por aguardar uma estabilização do dólar antes de fechar novos contratos com as fabricantes estrangeiras. “Assim, ao menos em um primeiro momento, acaba havendo uma queda das importações,” afirma José Alberto Moreira, sócio da Comingersoll, concessionária de máquinas importadas e nacionais, de marcas como Doosan e Bobcat, e diretor da Machberte, que vende outras máquinas importadas. “Ninguém vai colocar um novo pedido grande, apostando que o dólar caia.”
No entanto, ele afirma que um o dólar mais alto é ruim não apenas para quem importa, mas também para as fabricantes locais, uma vez que compram componentes do exterior. Muitas empresas têm um índice de nacionalização de cerca de 60%, que é o exigido pelo BNDES para que suas máquinas sejam vendidas com crédito mais barato da linha de financiamento Finame. “O custo fica maior para todos”, diz Moreira, que afirma que já vê o início do repasse para os preços.
Na avaliação da Abimaq, a alta recente do dólar já melhorou a situação da indústria nacional de máquinas e equipamentos, mas não foi suficiente. Luiz Aubert Neto, presidente da entidade, acredita que seria necessário um patamar R$ 3 para que as empresas brasileiras tivessem a mesma competitividade das estrangeiras. “O câmbio melhorou, ajudou, mas não está resolvido”, disse. Segundo ele, um dólar a R$ 2,40 ainda não significa ganho de competitividade para as empresas brasileiras. “Com R$ 2,60 a R$ 2,70, o Brasil compete com americanas e europeias, mas não com as asiáticas.”
Para a distribuidora Auxter, o dólar mais alto, além de não compensar o custo de se produzir no Brasil, também gera inflação, o que é prejudicial ao setor. Célio Neto Ribeiro, presidente da empresa, diz que já estudou a possibilidade de montar uma fábrica no Brasil, mas concluiu que não valia a pena tanto pelo custo como pela falta de escala, dado o baixo nível de vendas. A Auxter comercializa máquinas de marcas como JCB (importadas e produzidas localmente), Mistubishi e Wacker Neuson. E vê como melhor opção para crescer no país a inclusão de novos produtos no cadastro do BNDES.
A empresa tem três modelos e terá mais seis em breve. “O que leva o comprador a optar pelo nacional é o crédito barato”, diz.