“Com a intensificação da produção, a partir do pré-sal, vamos precisar de mais petroleiros.” A declaração do presidente da Transpetro (subsidiária de logística da Petrobras), Sérgio Machado, animou o setor da indústria naval brasileira. No caso do Rio Grande do Sul, especialistas que acompanham o segmento afirmam que há empresas no polo naval gaúcho com capacidade técnica para absorver parte dessa demanda. A dúvida é se essas companhias, que têm o foco de negócios na implementação de plataformas de petróleo, se interessariam também pela construção de navios. Se manifestarem essa vontade, mercado não será problema.
“Certamente vai acontecer o Promef 3 (terceira etapa do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro)”, adianta Machado. O Promef foi criado no governo Lula com o objetivo de aumentar a capacidade de transporte da Petrobras, além de resgatar a indústria naval brasileira. As encomendas são feitas a estaleiros nacionais com exigência mínima de utilização de mão de obra e componentes locais. E a perspectiva é de que as necessidades da Petrobras aumentem cada vez mais. De acordo com Machado, somente para a produção do campo de Libra, licitado no final de 2013, será necessária a construção de 12 a 18 plataformas de petróleo e de cerca de 60 barcos de apoio. Apesar dessa sinalização, ainda não há data definida para o lançamento do novo Promef.
Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Ariovaldo Rocha, a avaliação de Machado está correta em relação à demanda por mais petroleiros em decorrência da exploração e entrada em produção do campo de Libra, onde existem reservas de petróleo de 1 bilhão de barris. “A construção naval é uma indústria de ciclo de produção longo, o horizonte de planejamento é de, no mínimo, quatro anos”, enfatiza o dirigente. Portanto, para Rocha, a Transpetro está atenta em antecipar a demanda que será gerada.
O presidente do Sinaval afirma que Machado conhece o setor da construção naval e já declarou em diversas oportunidades que é fundamental uma programação de encomendas, para evitar um hiato que provoque a dispensa de pessoal e a perda de equipes treinadas e experientes. Rocha afirma que os estaleiros brasileiros são capazes de atender à futura demanda, e que os empreendedores do polo naval do Sul também são perfeitamente aptos a trabalhar com os navios petroleiros. O dirigente classifica o complexo como de elevado padrão técnico na construção de cascos e integração de módulos para plataformas de petróleo tipo FPSO – unidades flutuantes que produzem e armazenam petróleo.
O coordenador do comitê de óleo e gás da Fiergs, Marcus Coester, aponta que tanto a Ecovix como a Quip, ambas em Rio Grande, e a EBR, em São José do Norte, têm condições técnicas para atuar com petroleiros. A questão é saber a estratégia e o interesse comercial dessas empresas. Coester salienta que, desde o começo, o polo naval gaúcho concentrou-se nas plataformas de petróleo, ao invés dos cascos de navio. Esse último segmento tornou-se uma vocação maior para o polo naval pernambucano.“Mas, há exceções, a Ecovix, por exemplo, está desenvolvendo cascos replicantes (quase idênticos)”,recorda o integrante da Fiergs. A empresa construirá em Rio Grande oito cascos de FPSOs e três navios-sonda. Coester acrescenta que o Promef 3 sinaliza que a contratações da Petrobras estão mantidas, o que é algo muito positivo para o mercado.
Ecovix teria perfil mais adequado para absorver encomendas
Apesar de preferir não se pronunciar sobre o assunto, segundo informa a sua assessoria de imprensa, a Ecovix é apontada como a companhia que tem mais condições, no Estado, de concorrer na produção de petroleiros. O vice-presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Aloísio Nóbrega, argumenta que o dique seco do Estaleiro Rio Grande (administrado pela empresa) é uma estrutura que permitiria a construção dessas embarcações.
Nóbrega, que também é coordenador executivo do setor estratégico da indústria oceânica e polo naval gaúcho, diz que há capacidade no Estado para atender a esse acréscimo de demanda. Além do Rio Grande do Sul, o dirigente vê as companhias instaladas no Rio de Janeiro e em Pernambuco como potenciais interessadas.
Se a Ecovix apresenta requisitos para disputar a realização dos navios, por outro lado, o gerente comercial da EBR, Luiz Felipe Camargo, considera difícil a EBR entrar na concorrência de petroleiros, justamente porque o foco são as plataformas. “Pela demanda que vem aí, vai ter muito trabalho para fazer nessa área”, projeta o executivo. No entanto, Camargo comenta que a perspectiva de um Promef 3 demonstra que os estaleiros “estão dando conta do recado”, contribuindo para um panorama positivo quanto ao segmento da construção naval. Para o dirigente, participar de disputas como essa dos petroleiros depende da especificidade de cada empresa e de seu planejamento. Porém, o gerente comercial confirma que há condições técnicas para as empresas gaúchas fazerem esses navios, principalmente a Ecovix.
Quanto à Quip, o diretor da companhia Marcos Reis, que responde pelo grupo, encontra-se em viagem. Contudo, fontes que acompanham a empresa informam que a Quip já discutiu anteriormente a possibilidade de assumir encomendas diferentes, mas, nesse futuro próximo, em que estará envolvida com a implantação das plataformas P-75 e P77, dificilmente absorverá novas demandas em outras áreas.
Transpetro anuncia encomenda de oito navios ao custo de R$ 1,4 bi
A Transpetro divulgou ontem que encomendou oito navios ao estaleiro Mauá, localizado em Niterói (RJ), ao custo de R$ 1,4 bilhão. As embarcações serão do tipo “navio de produtos”, que transportam derivados de petróleo, como gasolina, óleo diesel e petroquímicos.
O anúncio ocorreu no dia em que a empresa colocou em operação uma embarcação também de transporte de produtos, batizada de José Alencar, vice-presidente da República no governo Lula, que morreu em 2011. A embarcação tem capacidade para transportar 56 milhões de litros de produtos, quantidade equivalente a 13 piscinas olímpicas, segundo a Transpetro. Tanto o navio lançado quanto o lote anunciado fazem parte do Promef.
Dez anos após ser lançado, o Promef colocou em operação seis navios, dos quais três de transporte de produtos e outros três petroleiros, aqueles que levam petróleo bruto. O investimento total do Promef (1a e 2a fases somadas) será de R$ 11,2 bilhões, previstos para a concretização de 49 navios e 20 comboios hidroviários. Há, no momento, 12 navios em construção. A Transpetro espera por em operação mais seis navios neste ano, completando sete em 2014.
Fonte: Jornal do Commercio (POA)/Jefferson Klein