Fechada a venda da divisão automotiva para a Aethra , dentro da estratégia de concentrar esforços no principal negócio – fabricação de aço e mineração de ferro –, a diretoria-executiva da Usiminas definiu a meta de nove meses para buscar uma solução para a Usiminas Mecânica, empresa de bens de capital. Conforme apurou o Valor, o caminho envolve tanto venda total da empresa a um único comprador ou apenas parte ou uma parceria com um grupo do ramo.
A Usiminas Mecânica (UM) é uma das maiores empresas de bens de capital do país, com operações em seis áreas: estruturas metálicas, naval e offshore, óleo e gás, equipamentos industriais, montagens industriais e fundição e vagões ferroviários.
Fundada em 1970, em Ipatinga (MG), ao lado da Usiminas, a empresa teve receita líquida de R$ 1 bilhão no ano passado, mas apresentou resultado operacional negativo de R$ 11 milhões e margem -1%), ante Ebitda positivo de R$ 112 milhões em 2011, com margem de 8%. Em 2008, foi recorde: Ebitda de R$ 170 milhões.
A venda do ativo não será algo simples, como a da Automotiva, apurou o Valor. Hoje, o negócio mais viável seria sua aquisição por parte da ConfabTenaris, que também atua em bens de capital, ganhado peso com uma fusão das duas companhias. A questão é que a Confab tem 5% de ações com direito a voto da Usiminas, está no bloco de controle da siderúrgica e é uma das empresas do grupo Techint, segundo maior controlador da Usiminas, com Nippon Steel.
Pesa ainda outro fato: a diretoria-executiva da Usiminas pôs à frente da UM executivos da Confab. Isso tudo mostra conflitos de interesses no negócio. Uma operação envolvendo as duas empresas pode ser alvo de contestação de acionistas minoritários e de um processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra os gestores da Usiminas. Um caminho será contratar laudos de avaliação de pelo menos dois bancos de investimentos independentes.
A Usiminas teria também de tornar a fabricante mais atrativa, financeira e operacionalmente, como fez com a Automotiva, que teve a dívida reduzida de cerca de R$ 105 milhões para R$ 45 milhões e recebeu investimentos nas instalações para elevar a produtividade e ficar mais competitiva.
A venda da autopeças quase nada vai influenciar na solução dos problemas da Usiminas. São R$ 210 milhões a mais no caixa e um ativo a menos para se preocupar. A receita líquida, na faixa de R$ 290 milhões (2,4% da receita consolidada), e uma geração de caixa de R$ 30/35 milhões são pouco ante o todo da Usiminas.
Hoje, sua meta é se concentrar no principal negócio. “A lógica da operação se insere em um contexto de tornar nosso portfólio de negócios e o nosso sistema industrial mais competitivos, concentrando-os nas atividades associadas ao nosso core business”, afirmou Ronald Seckelmann, vice-presidente de finanças e de RI da empresa. Segundo o executivo, “o mercado siderúrgico e o automotivo obedecem a dinâmicas diferentes e acreditamos que a Automotiva Usiminas deveria estar associada a um player mais especializado”.
A siderúrgica enfrenta problemas bem mais complexos, os quais exigem medidas mais drásticas. Ao longo dos últimos seis anos, perdeu competitividade operacional, viu sua margem de ganho deteriorar-se ano a ano, foi lenta em fazer investimentos em produtos de maior valor agregado – a onda de bonança do setor, de 2005 a meados de 2008, já havia passado –, teve problemas na gestão executiva, perdeu mercado para as concorrentes CSN e ArcelorMittal e seu nível de endividamento fugiu do controle.
A venda da UM, se atingir a faixa de R$ 1 bilhão cogitada, já trará mais alívio para suas contas. Avaliação conservadora de fontes do setor aponta um múltiplo de sete vezes o Ebitda para a empresa – pelo desempenho de 2008, R$ 1,2 bilhão; já pelo de 2011, ficaria na faixa de R$ 800 milhões.
A empresa tem um peso importante na Usiminas, operando como um bom canal de escoamento de aço nas suas diversas obras. A autopeças demandava cerca de 2,5 mil toneladas/mês.
Desde o início de 2012, a Usiminas vem queimando ativos para equilibrar a saúde financeira. No começo daquele ano, o então presidente Wilson Brumer vendeu por US$ 1 bilhão os 14% que tinha da Ternium. Curiosamente, dez meses o grupo Techint-Ternium entrou no capital da Usiminas.