A inédita situação da Petrobras, que pela primeira vez teve suas demonstrações financeiras rejeitadas pelo auditor externo, levou a uma série de especulações no mercado sobre o que pode acontecer com a empresa nos próximos meses e em 2015.
Sem um auditor para chancelar os números do balanço, a Petrobras não pode emitir dívida nos Estados Unidos, que é o maior mercado de crédito do mundo. Isso é um problema para qualquer empresa, mas para uma companhia que precisa captar entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões por ano para refinanciar parte de sua dívida e obter nova, o fato de não poder fazer novas emissões no mercado americano, restringe muito a margem de manobra.
E não é só. É evidente que os efeitos da confissão do ex-diretor de abastecimento, Paulo Roberto Costa, sobre a existência de um esquema que desviava 3% dos investimentos vai afetar profundamente as demonstrações financeiras.
A Petrobras terá que identificar todos os valores pagos como suborno e fazer uma baixa contábil no resultado, já que ela contabiliza ativos supostamente sobrevalorizados. Uma fonte do mercado observou que a PricewaterhouseCoopers pode exigir o chamado “impairment”, ou redução ao valor recuperável do ativo, que retire, por exemplo, R$ 10 bilhões [valor estimado inicialmente pelos investigadores da Lava-Jato] da conta dos ativos.
Esse valor seria lançado como despesa, o que reduziria o lucro e atingiria os dividendos das ações ordinárias (ON) da companhia, que são pagos com base no lucro anual. As ações preferenciais (PN) estão protegidas nesse aspecto, já que o estatuto prevê pagamento mínimo por outros critérios.
Outra consequência que preocupa são os investimentos. O plano de negócios da Petrobras prevê desembolso total de US$ 220 bilhões, mas descontados os projetos em avaliação, a carteira daqueles em implantação é de US$ 206,8 bilhões. Desse total, apenas US$ 179 bilhões estão contratados e outros US$ 30 bilhões se referem a projetos que são importantes, mas com maior flexibilidade. O problema é que a maior parcela são de projetos da área de exploração e produção que, se cortados, afetarão a curva de produção futura.
O problema é que uma importante parcela inclui projetos da área de exploração e produção que, se cortados, afetarão a curva de produção futura da companhia. A outra parte do investimento previsto, que certamente já está na linha de corte, é o dinheiro destinado ao início das refinarias Premium no Maranhão e no Ceará.
Já se sabe que elas sumiram do horizonte da Petrobras e não poderão ser iniciadas pelo menos até o fim da década. Mas retirá-las nesse momento pode ter efeito quase irrelevante – uma economia de aproximadamente US$ 2 bilhões por ano – o que é pouco diante da enorme aperto que a companhia enfrentará para equilibrar seu caixa em um momento de risco. É o que afirmaram dois analistas de bancos de primeira linha que pediram para não ter seus nomes identificados. “Tenho sérias dúvidas sobre a possibilidade de a Petrobras poder cortar investimentos no ano que vem”, afirmou fonte que pediu para não ser identificada.
Outro analista se diz preocupado porque os projetos em andamento precisam terminar rápido para começar a gerar receitas. “Não pode ser obra de igreja. É bom ela não fazer as refinarias premium, mas os que já estão em andamento não podem parar”.
A Petrobras vive o que pode ser considerada uma “tempestade perfeita”. A prisão de dois ex-diretores – em março, Paulo Roberto Costa, de Abastecimento, agora, Renato Duque, de Serviços – e as revelações de um esquema de subornos e superfaturamento foram conhecidas no momento em que alta do dólar afeta seu enorme endividamento e o preço do petróleo caminha para uma queda histórica.
Fonte: Valor Econômico – Cláudia Schüffner | Do Rio