Quatro anos depois do desastre da plataforma Deepwater, novos projetos das gigantes do petróleo estão voltando às águas americanas do Golfo do México — maiores e mais caros que antes.
A plataforma Olympus, da Royal Dutch Shell PLC, é uma mini-indústria flutuante fervilhando de atividade humana, a 210 quilômetros da costa do Estado de Louisiana. Maior que um quarteirão e mais pesado que um porta-aviões, a Olympus está entre as cerca de dez novas plataformas multibilionárias que já estão explorando ou vão explorar petróleo nas águas profundas do Golfo até o fim do próximo ano.
Esse renascimento pode ter vida curta se a queda nos preços do petróleo, que recuaram cerca de 30% desde junho, continuar e levar empresas a adiar investimentos significativos na região.
No curto prazo, contudo, a atividade promete recolocar o Golfo entre as principais fontes de petróleo dos Estados Unidos. Em 2001, essas águas produziram cerca de 25% de todo petróleo e gás natural do país. Desde então, a produção caiu pela metade, uma vez que poços foram se esgotando e o governo emitiu menos licenças após a explosão da Deepwater Horizon, em 2010, e o subsequente vazamento de petróleo.
Em 2013, o Golfo do México respondeu por menos de 10% da produção americana, em parte devido à crescente exploração de formações de xisto. Os novos projetos no golfo, de empresas como Hess Corp., Exxon Mobil Corp. e Chevron Corp., possuem uma capacidade de exploração conjunta de cerca de 900 mil barris por dia – mais do que a produção de petróleo e gás da Califórnia. Isso não incluiu a produção de dois projetos da BP PLC, que não quis fornecer números.
Os custos estão subindo, também porque os novos poços ficam mais longe da costa e em águas mais profundas. O custo de perfurar poços em águas profundas é hoje até 25% maior que em 2010, segundo a Shell e a Chevron, e eles podem custar US$ 300 milhões cada. Novas regulamentações obrigam as empresas a incluir medidas de segurança como uma série adicional de válvulas projetadas para vedar um poço fora de controle. A falha de um dispositivo semelhante causou o acidente da Deepwater.
A perfuração de um poço de águas profundas está levando, em média, 13% mais tempo que antes do vazamento de 2010, segundo a empresa de pesquisas Kessler Energy LLC, em parte porque os equipamentos precisam passar por mais inspeções e manutenção. Os projetos no mar também estão competindo pelos trabalhadores qualificados que podem encontrar trabalho mais perto de casa nos campos de xisto, onde não precisam passar semanas longe das famílias.
“Há menos projetos em andamento por causa disso, ou eles estão progredindo mais lentamente que o normal”, diz Robert Kessler, diretor-presidente da empresa de pesquisas, referindo-se ao aumento nos custos.
Sendo assim, embora novos projetos em andamento devam elevar a produção de petróleo nas águas profundas do Golfo a um recorde de 1,9 milhão de barris diários em 2016, analistas da Wood Mackenzie preveem que o crescimento deve parar em seguida em função dos custos altos e das limitações tecnológicas.
A Hess informou, na semana passada, que começou a extrair petróleo de seu projeto Tubular Bells, a cerca de 220 quilômetros ao sul de Nova Orleans. A Exxon Mobil e a Anadarko Petroleum Corp. planejam iniciar outros dois projetos grandes no Golfo, nos próximos meses. A Hess, a Chevron e outros parceiros autorizaram recentemente investimentos de US$ 6 bilhões na área, mesmo com os preços de petróleo em seu menor nível em quatro anos, abaixo de US$ 80 por barril.
Até a BP, que assumiu a culpa pelo acidente com a Deepwater e teve despesas de US$ 43 bilhões ligadas a ele, está desenvolvendo tecnologia de exploração em águas profundas. Ela planeja investir US$ 4 bilhões por ano na região pelos próximos dez anos.
Para as grandes empresas do setor, explorar as água do Golfo é atraente comparado com outras partes do mundo. Muitos países ricos em petróleo, do Oriente Médio à América Latina, limitam os lucros das petrolíferas. Os poços em águas profundas também são mais produtivos que os de xisto.
Ao contrário de muitos projetos recentes da Shell e de outras companhias, a plataforma Olympus entrou em operação antes do programado e dentro do orçamento. Ela começou a explorar petróleo e gás em fevereiro. Para reduzir custos, a Shell usou equipamentos feitos de polietileno, material resistente a corrosão que é mais barato do que os usados anteriormente, segundo a RMB Products Inc., que fabrica os novos componentes.
Hoje, a Olympus processa até 100 mil barris de petróleo por dia, cerca de 3% da produção global da Shell. A petrolífera tem ainda outro projeto no Golfo para explorar um campo três vezes mais profundo que o da Olympus, com quase três quilômetros de lâmina d’água.
Fonte: Valor Econômico – Daniel Gilbert, Amy Harder e Justin Scheck | The Wall Street Journal, do Golfo do México