A queda dos preços do petróleo e de outras commodities ocorrida em 2014 ameaça limitar o crescimento de países da América Latina e da África, que vinham tentando usar os recursos naturais para subir a escada do desenvolvimento.
Durante um boom que durou dez anos, os governos desses países se comprometeram a aproveitar os preços altos das matérias-primas para melhorar o padrão de vida de sua população de baixa renda.
Os governos que procuraram dar grandes saltos no desenvolvimento criando programas de bem-estar social e iniciativas ambiciosas de infraestrutura, como construção de estradas, portos e usinas de energia, podem agora ter menos dinheiro para fazer isso.
“Os exemplos de boa governança em muitos países [latino-americanos] estavam ligados aos preços das commodities, e isso será testado pelo fim do boom”, diz Jorge Castañeda, ex-ministro das Relações Exteriores do México.
Os países ricos em commodities da África e da América Latina também enfrentam a desaceleração da China, comprador essencial das exportações de África do Sul, Nigéria, Brasil, Chile e outros países. As duas regiões foram atingidas por uma venda generalizada de ações, títulos de dívida e de suas moedas.
As apostas são elevadas para essas frequentemente voláteis economias, que têm alguns dos maiores índices de desigualdade do mundo entre ricos e pobres.
A desaceleração econômica e a queda dos fluxos de investimento ameaçam os orçamentos. Este ano, a agência de classificação de crédito Fitch prevê que vai efetuar mais reduções do que aumentos nas notas de crédito dos países da América Latina. Em alguns casos, isso pode expor níveis de corrupção e má administração que não foram detectados durante os bons tempos.
O Brasil, onde milhões de famílias saíram da pobreza nos últimos anos e se juntaram à crescente classe trabalhadora, exemplifica bem essa situação. Agora, o crescimento está estagnado, os investimentos caíram e a desvalorização do real eleva os temores de inflação.
As alegações de corrupção na Petrobras são mais um problema, já que a empresa era vista como propulsor da transformação econômica pretendida pelo governo. As ações da estatal caíram para seus menores níveis em dez anos.
A situação é pior na Venezuela, onde o presidente Nicolás Maduro busca usar os recursos do petróleo para alimentar a revolução socialista. Com os preços do petróleo em queda, investidores avaliam o risco de a Venezuela não conseguir pagar sua dívida. A moratória seria mais uma aflição numa economia já sobrecarregada por inflação de dois dígitos e desabastecimento.
Mesmo países com políticas mais moderadas, como o Chile, grande exportador de cobre, estão sendo atingidos. Em dezembro, o Chile cortou em meio ponto percentual sua previsão de crescimento para 2015, para 2,5%.
Na África, o impacto é maximizado pela dependência que algumas economias em rápido crescimento, como Zâmbia, têm da exportação de uma única commodity. Quando o preço dessa commodity (no caso da Zâmbia, o cobre) cai, as consequências são graves.
Países que não equilibraram seus orçamentos nem reduziram a corrupção nos tempos da bonança enfrentarão escolhas dolorosas, diz Jack Allen, da Capital Economics. A consultoria londrina prevê uma queda de um ponto percentual no crescimento médio da África subsaariana em 2015, para 4%, o menor em mais de dez anos.
Na África do Sul, onde as matérias-primas representam cerca de 60% das exportações, o rand, a moeda local, vem se enfraquecendo com a queda do valor das exportações de ouro e minério de ferro. Em dezembro, o dólar atingiu sua maior cotação em seis anos.
Há, porém, um ponto positivo: a redução nos preços do petróleo pode reduzir a vultosa soma que a África do Sul gasta para importar grande parte do diesel e da gasolina que consome.
Por outro lado, o petróleo barato vai provavelmente atingir grandes produtores, como Nigéria e Gana. A Nigéria, maior economia da região, deve ter o primeiro déficit em mais de 15 anos, o que pode ampliar a volatilidade em um país que vai passar por uma acrimoniosa eleição nacional, marcada para fevereiro, e luta contra o violento grupo islâmico Boko Haram.
“Os governos não terão outra escolha que não diversificar sua base fiscal um pouco mais seriamente agora”, afirma Allen.