A Petrobras afirmou que poderá manter a exploração do pré-sal sem registrar prejuízos no balanço mesmo com a queda do preço do petróleo para abaixo do ponto de equilíbrio comercial (“break-even”) que a companhia vinha divulgando nas últimas semanas.
Em resposta a questionamento do Valor, a estatal classificou como “viável” seguir com a produção em blocos já em atividade até que o petróleo chegue ao custo de extração médio dos barris. Esse cenário, no entanto, não é suficiente para remunerar o capital empregado, o que significa perda de valor econômico.
Segundo a Petrobras, o “break-even” que ela calcula para a exploração do pré-sal é de US$ 45 o barril, sendo que esse valor sobe para uma faixa entre US$ 50 e US$ 52 quando se considera o investimento na infraestrutura de escoamento de gás, que quase sempre é necessário.
Estatal classifica como ‘viável’ produção de petróleo abaixo do ‘ponto de equilíbrio’ de US$ 50 por barril
Esse preço é superior ao fechamento de ontem do petróleo tipo Brent, a US$ 48,9, que é a referência para a companhia.
Questionada sobre o rompimento dessa barreira, a estatal chamou atenção para o fato de que o “break-even” divulgado por ela inclui a remuneração de capital, que é o retorno do investimento realizado e financiado por credores e acionistas.
Dessa forma, segundo informações da companhia, nos sistemas em fase de produção, enquanto o preço do Brent estiver acima dos custos operacionais, eles “continuam viáveis”. Com margem positiva, mas sem “pagar” o investimento.
Recentemente, no entanto, vários bancos emitiram alertas revisando para baixo recomendações e preço-alvo para ações da estatal, citando, como um dos principais motivos, as possíveis complicações resultantes da baixa do petróleo. Esse foi o caso de instituições como Barclays, Goldman Sachs, Deutsche Bank, Santander e UBS.
Os dados mais recentes sobre o custo de extração (“lifting cost”), presentes no balanço de junho da Petrobras, indicam que ele ficou em US$ 14,36 o barril no primeiro semestre, sem considerar a “participação governamental”. Já o custo que leva em conta a participação do governo (por meio de royalties e cobrança de participação especial) ficou em US$ 32,39 o barril.
A estatal procura sinalizar, entretanto, que poderia manter algum lucro bruto com a atividade, mesmo com o petróleo abaixo de US$ 32 por barril. “Com a queda do preço do petróleo, os custos também tendem a se reduzir, tanto da participação governamental quanto de operação”, afirmou a companhia.
Para a Petrobras, os baixos preços de petróleo não necessariamente tornam obrigatória uma revisão dos seus planos de investimentos, mas a companhia diz que o novo Plano de Negócios e Gestão da empresa “refletirá o novo cenário de preços”
“No entanto, cabe destacar que os projeto de exploração e produção são de longa duração (décadas). Assim, a análise também considera uma trajetória de preços futuros e não apenas o preço atual do petróleo”, afirmou a Petrobras.
O planejamento dos investimentos da Petrobras para 2015 tomará como referência o preço médio do barril Brent a US$ 70 e o dólar a R$ 2,60, informou a companhia. Essa cotação está acima da média das projeções publicadas recentemente por uma série de bancos internacionais, como Barclays, Natixis, Commerzbank, Itaú, Goldman Sachs, JP Morgan e HSBC, que estimam um preço variando entre US$ 50 a US$ 75 o barril.
Segundo Pavel Molchanov, analista do Raymond James, para a Petrobras é importante considerar essa estimativa de longo prazo para os preços, “pois os projetos econômicos do pré-sal são baseados em expectativas para daqui dez anos ou mais”.
Ainda assim, o analista afirma que a estatal deveria rever seus planos de investimento.
“As reduções dos aportes estão afetando toda a indústria global, e a Petrobras certamente fará parte disso, especialmente levando em conta a dívida de US$ 140 bilhões”, afirma.
Enquanto a estatal diz que é viável manter a exploração do pré-sal e também os investimentos, mesmo com o petróleo no preço atual, algumas das principais empresas do setor no mundo adotam medidas para se proteger do cenário de margens e investimentos menores, por meio de planos de reestruturação, cortes de custos e demissões. É o caso de empresas como Shell, Halliburton e Baker Hughes.
A gigante anglo-holandesa informou recentemente que vai demitir funcionários em suas operações no Canadá, em um segmento de exploração de petróleo não convencional. A Shell, que extrai 25 mil barris por dia no em areias betuminosas no país, vai demitir de 5% a 10% de seus 3 mil funcionários da divisão, mas parte deles será realocada para outras funções.
A petroleira desistiu também do projeto petroquímico Al Karaana, no Qatar, após “cuidadosa avaliação” dos responsáveis pelos custos de construção do projeto, considerado de alto custo para o cenário de preços atual.
Outra petroleira que anunciou planos de cortes de custos foi a britânica Premier Oil. Além disso, a companhia adiou certas despesas discricionárias em contratos de perfuração.
O impacto é sentido ainda pelas empresas prestadoras de serviços. Isso acontece devido à expectativa de redução dos planos de investimento das petroleiras.
Os cancelamentos de contratos já estão acontecendo. Duas fornecedoras de plataformas para exploração de petróleo offshore e também de petróleo não convencional informaram o cancelamento de contratos de longo prazo.
A Helmerich & Payne (H&P) informou o encerramento adiantado de quatro contratos de longo prazo de plataformas terrestres e expectativas de paralisação de mais até 50 plataformas, citando que os baixos preços de petróleo estão cada vez mais afetando negativamente esse mercado.
Em situação semelhante, a Pioneer Energy Services informou o encerramento adiantado de quatro contratos de plataformas. A companhia espera que mais sete plataformas sejam paralisadas no próximo mês, além de outras duas no fim do primeiro trimestre.
A Halliburton, uma das maiores empresas globais de prestação de serviços para exploração de petróleo, está reduzindo a força de trabalho em Houston, nos Estados Unidos, por acreditar que a medida é “necessária para enfrentar esse mercado desafiador”. Outra que atua nesse setor, a Baker Hughes afirmou que vai cortar cerca de 7 mil empregos, ou 12% da sua força de trabalho.
A Schlumberger, por sua vez, registrou um impacto negativo de US$ 296 milhões nos resultados do trimestre, associado à demissão de 9 mil funcionários, em uma resposta aos preços baixos do petróleo e à expectativa de redução dos investimentos das petroleiras.