A deterioração da atividade industrial no país neste início do ano mudou a percepção do mercado de siderurgia para 2015. Apesar de prever um crescimento na produção nacional, o Instituto Aço Brasil decidiu rever para baixo todas as suas projeções para o mercado doméstico e já fala na paralisação dos investimentos, em meio ao cenário de ociosidade da capacidade instalada.
Segundo o instituto, o consumo aparente de aço no Brasil deve fechar o ano com queda de 7,8% em relação a 2014, para 22,78 milhões de toneladas, próximo dos níveis registrados em 2007. Nas estimativas iniciais, divulgadas em novembro do ano passado, a previsão era crescer 2%. Já vendas internas têm queda prevista de 8%, para 19,1 milhões de toneladas, ante uma projeção inicial de crescimento de 4%.
A instituição atribui a queda projetada ao recuo dos principais setores industriais no início deste ano, com destaque para a construção civil, que caiu 8,8% em janeiro, na comparação com igual mês de 2014; e o setor de máquinas e equipamentos, que recuou 10,9% na mesma base de comparação, além da indústria automotiva.
Para Benjamin Baptista Filho, presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil, a indústria de construção civil vive, no momento, o ápice de uma deterioração, contaminada pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato sobre as empreiteiras e pela redução do ritmo de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Minha Casa, Minha Vida.
“Houve uma paralisação geral das obras. Estamos passando pelo momento mais critico”, disse Baptista Filho, que projeta uma ligeira melhora até o final do ano nas vendas internas do setor siderúrgico, que recuaram 12,2% no primeiro bimestre.
Na contramão do consumo, a produção nacional de aço bruto deve crescer 6,5% este ano e atingir os 36,13 milhões de toneladas, segundo as projeções da entidade. No primeiro bimestre, o volume produzido subiu 5,1%, para 5,64 milhões de toneladas.
A expansão projetada é atribuído ao religamento do Alto Forno 3 da usina capixaba de Tubarão, da ArcelorMittal, que voltou a operar em julho de 2014 mas só atingiu o pico este ano e está voltado para exportação de placas aos EUA..
Apesar do crescimento na produção, a indústria brasileira de aço não deve investir em aumento de capacidade nos próximos dois a três anos, na avaliação do presidente executivo do instituto Aço Brasil, Marco Polo Lopes.
“Com essa folga de capacidade, não há sentido fazer investimentos no aumento de capacidade. As empresas devem concentrar investimentos na melhoria de linhas de produção”, avaliou.
A capacidade instalada no Brasil, atualmente, é suficiente para abastecer um crescimento no consumo da ordem de 78% em relação a 2014, segundo o instituto.
De acordo com Lopes, qualquer investimento em ampliação de capacidade terá de conviver com um cenário de sobre oferta no mercado internacional. O excesso de capacidade no mercado global é estimado hoje em cerca de 717 milhões de toneladas, segundo a Associação Mundial do Aço.
No comércio exterior, o Instituto Aço Brasil projeta uma redução de 6,3% nas importações, para 3,7 milhões de toneladas; e um aumento de 38,1% nas exportações, para 13,5 milhões de toneladas, com destaque para a venda de produtos semiacabados.