Após investirem em novas unidades para atender à promissora demanda do pré-sal no Brasil, fornecedores globais da indústria de óleo e gás convivem com a ameaça de ter seus contratos revistos. As incertezas sobre o novo plano de negócios da Petrobras e a possibilidade de redução da carteira de sondas de Sete Brasil colocaram em xeque não só a continuidade de novas encomendas, como também o cumprimento de contratos em vigor com multinacionais de peso, como Wärtsilä, GE e Rolls Royce, que lidam com o desafio de diversificar seus negócios e buscar novos contratos num cenário de redução de investimentos.
A maior preocupação talvez seja com o futuro da Sete. Diante das citações da empresa na Lava-Jato e das dificuldades de financiamento do projeto, sócios e bancos credores vem avaliando enxugar para entre 13 e 17 sondas a carteira da companhia, o que significaria a redução dos equipamentos já contratados. O rompimento unilateral do contrato do Estaleiro Atlântico Sul com a Sete também reforça o clima de insegurança dos fornecedores do estaleiro, como NOV, GE e Rolls Royce.
Foi nesse clima pouco afeito a novos investimentos que a finlandesa Wärtsilä inaugurou, no mês passado, sua nova unidade de montagem de grupos geradores e propulsores no Porto do Açu (RJ). Anunciada ainda em 2013, a unidade foi construída para atender uma encomenda inicial de 120 equipamentos, para sete sondas em construção no estaleiro Jurong Aracruz (ES) e três embarcações a cargo da Ecovix (RS).
Há menos de dois meses operando, a fábrica está, no momento, montando os equipamentos das duas primeiras sondas contratadas. A expectativa da empresa é que os trabalhos sejam concluídos em meados deste ano e que, em paralelo, sejam iniciadas as montagens dos equipamentos das próximas sondas. O atraso dos pagamento da Sete aos estaleiros e as dificuldades de caixa de alguns dos estaleiros, contudo, geram incerteza sobre o ritmo das obras, segundo fontes a par do assunto.
Presidente da Wärtsilä no Brasil, Robson Campos, diz que as obras estão dentro do cronograma e que está otimista com uma solução para o financiamento da Sete Brasil. O executivo, no entanto, destaca que faz parte dos planos da companhia agregar novas encomendas e diversificar negócios.
“Estamos buscando encomendas para barcos de apoio, de menor porte [que sondas e plataformas], o que nos parece a melhor oportunidade de curto e médio prazos. Também estamos buscando trazer encomendas [de grupos geradores] do setor de energia elétrica para o Açu”, comenta. Segundo Campos, o projeto foi concebido, desde o início, para ser uma fábrica de multiprodutos. “Acho que o setor está passando por uma crise, mas temos grandes perspectivas pela frente”, complementou.
A empresa aposta, ainda, em manutenção. A ideia é que a fábrica funcione como um backup para a o centro de serviços de Niterói. Três propulsores já estão sendo reparados no Açu.
Já a GE, contratada por US$ 600 milhões para entrega de sistemas elétricos para 22 sondas, se diz confiante com o futuro da Sete, mas admite mudanças no ritmo das entregas. “A GE acredita que daqui em diante os projetos seguirão em velocidade diferentes, alguns mais rápidos do que outros, e está preparada para apoiar seus parceiros”, informa a empresa, que já executou 1/3 do contrato.
Na onda do otimismo com o pré-sal, a GE inaugurou seu novo Centro de Pesquisas Global, no Rio, em novembro. Líder da área de Sistemas Offshore e Submarinos do Centro, Sérgio Sabedotti, vê o cenário atual desafiador para contratos com a Petrobras, mas reforça que as pesquisas desenvolvidas pela companhia não se limitam à estatal. “Existem demandas também no pós-sal e campos maduros. Acreditamos que outros operadores vão demandar”, prevê.
A empresa pretende dar continuidade às contratações de pesquisadores e acredita que o setor de óleo e gás continuará como carro-chefe do centro, que opera hoje com 160 pesquisadores, mas tem planos de alcançar 400 até o final da década. “As crises são passageiras e temos que nos preparar para o futuro. Estamos conscientes de que nosso olhar não é de curto prazo”, afirmou Sabedotti.
A crise da Petrobras e Sete já ligou o alerta também na norueguesa NOV, que possui contratos de US$ 3,5 bilhões para entrega de pacotes de perfuração para 22 sondas. A companhia fala abertamente que já sofreu com alguns atrasos de pagamentos.
Já a Rolls Royce, que investiu US$ 100 milhões numa fábrica de turbinas a gás no Rio, tem um contrato de 100 milhões de libras para fornecer motores e sistemas de propulsão para sete sondas em construção no EAS, que rompeu seu contrato com a Sete. A britânica também não sabe qual será o futuro das 32 turbinas contratadas pela Petrobras para as plataformas replicantes do pré-sal cujos cronogramas devem ser revistos. Segundos uma fonte, sem novos contratos, a fábrica pode ficar sem encomendas a partir do final do ano.