O peso que Petrobras e o conjunto das empreiteiras envolvidas no escândalo da Lava-Jato têm sobre investimentos é bastante significativo. Considerando que só a estatal responda por cerca de 10% formação bruta do país e que as empreiteiras envolvidas no escândalo fiquem com 18,5% disso, cálculos da consultoria Tendências apontam que apenas a petroleira deve contribuir com uma queda de três pontos nos investimentos em 2015, enquanto as demais empresas tirariam outros 2,8%. “Só essa brincadeira representa uma queda de 5,8% da formação neste ano. Por isso, esperamos queda de 10% para o ano”, diz a economista da Tendências, Alessandra Ribeiro.
A estimativa considera uma queda de investimentos de 30% da Petrobras ao longo deste ano e baixa de 15% dos investimentos das principais empreiteiras envolvidas no escândalo. Segundo Alessandra, na comparação anual, trimestre contra trimestre, estabilização com algum crescimento para a formação bruta só no segundo trimestre de 2016.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, diz que a folga grande na capacidade produtiva da indústria aliada ao pessimismo crescente de empresários e investidores são os principais fatores a deprimir ainda mais a formação bruta de capital fixo, cuja queda deve ser de 9% no ano em comparação à baixa de 4,4% em 2014. “Quem vai investir com capacidade ociosa grande na fábrica?”.
Os investimentos na economia caíram pelo sétimo trimestre consecutivo na comparação com o trimestre anterior e a expectativa de analistas ouvidos pelo Valor é que a sequência negativa esteja longe do fim. Segundo especialistas, apenas o acúmulo de estoques na indústria de bens de capital seria um sinal evidente de que o que está ruim ainda pode piorar, mas tem mais: a operação Lava-Jato sozinha deve contribuir com uma queda de quase 6% da medida de investimentos das contas nacionais (a formação bruta de capital fixo ou o que se investe em máquinas e na construção civil), o que pode levar a uma contração de até 10% em 2015 – o pior desempenho anual da série histórica, e algo só comparável ao visto em 1999, ano em que a formação bruta caiu 8,9%.
Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco, ressalta ponto menos abordado por analistas: a forte queda dos preços das commodities no cenário internacional e o efeito disso sobre os investimentos. “Com os preços em alta, vale a pena produzir mais, puxando toda uma série de investimentos em estradas, energia, máquinas e caminhões, mas não é isso que vem ocorrendo””, diz. Para Salles, o segundo trimestre ainda deve ser de queda para a formação bruta de capital fixo, com estabilidade no segundo semestre, na margem.
Menos otimista, Alessandra, da Tendências, espera que a retomada ocorra apenas em 2016, ano em que os investimentos devem voltar a crescer, encerrando o período em alta de 2,2%. “No fundo, o que falamos aqui é que os maiores efeitos da Lava-Jato continuam limitando o cenário para investimentos em 2016, mas ficam concentrados em 2015”.