Num cenário de economia adversa e acesso restrito ao crédito, o diferencial será as condições de financiamento. E, nesse quesito, os estrangeiros podem sair na frente, afirmam especialistas. “A vida não está fácil para as companhias brasileiras, nem para aquelas que estão fora da Lava Jato. Muitas estão alavancadas e sem crédito, o que limita a participação em grandes empreendimentos”, afirma o advogado, Robertson Emerenciano, sócio do escritório Emerenciano, Baggio e Associados.
Sobre a participação das empresas brasileiras nos leilões, ele afirma que há dúvidas sobre a capacidade do mercado de capitais, ainda incipiente, para financiar os projetos. Mesmo assim, alguns grupos nacionais devem superar os desafios e participar das disputas, especialmente de aeroportos e rodovias. Na lista de potenciais investidores, estão Ecorodovias e CCR, duas fortes concorrentes que arremataram rodovias e aeroportos nos últimos leilões. Junta-se a esse grupo fundos de private equity, que levantaram fortunas nos últimos anos, e outras sem expressão no setor, como a JSL. A empresa disputou a concessão da Ponte Rio-Niterói e já demonstrou interesse em infraestrutura.
Mas os especialistas alertam que é preciso agilidade para tirar o plano do papel. “Não é o pacote que vai trazer as pessoas. São as condições e a formatação. Por enquanto, falamos o que fazer e não como fazer. Isso tem de ser definido rapidamente”, afirma o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Rodrigues Martins.
Sem recursos ou em recuperação judicial, grandes construtoras que protagonizaram últimos leilões de rodovias e aeroportos têm pouca condição de competir; fundos de pensão, fundos soberanos e empresas estrangeiras estão entre potenciais investidores.
O envolvimento de grandes empresas na Operação Lava Jato deve abrir espaço para novos grupos, nacionais e estrangeiros, na disputa pelas concessões lançadas pelo governo federal nesta semana. Protagonistas dos últimos leilões de rodovias e aeroportos, as construtoras estão descapitalizadas – ou em recuperação judicial – e dificilmente terão condições para entrar na briga por algum projeto.
A participação de qualquer investidor, no entanto, dependerá do ambiente de negociação, das condições definidas pelo governo em cada projeto e da sinalização de previsibilidade regulatória. No exterior, apesar da credibilidade do País estar um pouco abalada pelas decisões equivocadas no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, há interesse em investir no Brasil.
O sócio da área de infraestrutura da TozziniFreire Advogados, Antonio Felix de Araujo Cintra, conta que, nos últimos meses, esteve nos Estados Unidos, Canadá e Japão fazendo apresentações para uma série de investidores, e a maioria está olhando oportunidades no Brasil. Segundo ele, trata-se de fundos de pensão e fundos soberanos com muito dinheiro para investir. “O retorno no Brasil é maior que o padrão oferecido lá fora. Apesar de tudo, ainda somos a 7ª ou 8ª maior economia do mundo, com uma necessidade enorme de investimento em infraestrutura.”
Além dos fundos, construtoras estrangeiras também se movimentam para entrar no País, afirmam especialistas. Uma das estratégias será comprar empresas menores com know how no mercado interno, como fez a espanhola Essentium na aquisição da Delta, que estava em recuperação judicial, depois de ser acusada de participação de um esquema de corrupção em 2010. “Estive nos Estados Unidos e Espanha e os investidores de lá querem e têm interesse em vir para o Brasil. Se o programa for bem feito, haverá gente para investir”, afirma o sócio da assessoria financeira BF Capital, Renato Sucupira.
As construtoras médias também esperam espaço para abocanharem alguns ativos, especialmente aqueles menores, que exigem menos capital. Várias empresas do Brasil inteiro estão procurando a Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop) para formar grupos com capacidade para disputar as concessões. “A Apeop será uma indutora na formação de consórcios. Espero que flexibilizem as regras para essas empresas participarem”, afirma o presidente da associação, Luciano Amadio.
Arteris. Dos R$ 15,3 bilhões de investimentos anunciados pelo governo federal nas concessões existentes, um terço (R$ 5,2 bilhões) deverá ficar com as concessionárias da Arteris – grupo que comprou a OHL. Segundo o presidente da empresa, David Díaz, os investimentos ainda dependem de negociação com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) sobre traçados, orçamento e reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos.
Ao comprar a OHL em 2012, a Arteris – que tem como acionista a espanhola Abertis e a canadense Brookfield – absorveu todas as concessões vencidas em 2007. Em todos os trechos, no entanto, o cronograma de obras foi descumprido. Até hoje há projetos sendo executados, como é o caso da Serra do Cafezal, na Regis Bittencourt, e o contorno de Florianópolis. “Os cronogramas precisam ser realistas e condizentes com a complexidade do projeto.”