“A queda nos preços do petróleo nos deu a oportunidade de comprar ativos maiores e empresas maiores”, diz Marcel van Poecke, diretor administrativo do Carlyle International Energy Partners, ou CIEP. “Os próximos dois anos são obviamente um período de investimento muito bom.”
“O dinheiro é rei. Os mercados de ações estão fechados para empresas de petróleo e gás”, diz Darren Spalding, advogado especialista em petróleo e sócio do escritório Bracewell & Giuliani, de Londres.
Van Poecke é um representante da onda de líderes de empresas de private equity que estão procurando investir fora da América do Norte. O Carlyle informou em março que investidores injetaram US$ 2,5 bilhões no seu primeiro fundo internacional de energia, a maior captação inicial de um fundo da firma, dando ao Carlyle cerca de US$ 10 bilhões para investir no setor.
O CIEP está agora em busca de ativos de exploração no Mar do Norte e em campos produtivos na Nigéria ou no Sudeste Asiático, segundo van Poecke. O fundo também está avaliando empresas que prestam serviços para petrolíferas e que também foram afetadas pelo colapso dos preços do petróleo.
Sam Laidlaw, ex-diretor-presidente da petrolífera britânica Centrica PLC, foi indicado para liderar um novo veículo de investimento em petróleo e gás de US$ 5 bilhões financiado pelas empresas de private equity Carlyle Group e CVC Capital Partners. O fundo – Neptune Oil & Gas – vai se concentrar em boas oportunidades no Mar do Norte, Sudeste Asiático e norte da África.
Depois de lucrar com a exploração de petróleo de xisto na América do Norte, os fundos de private equity estão em busca de novas pechinchas, caçando campos de petróleo e gás baratos no resto do mundo.
Cheios de dinheiro de captações recentes, esses fundos estão procurando por ativos cujos proprietários tenham sido afetados pela queda abrupta dos preços do petróleo – do Mar do Norte até a Nigéria, passando pela América do Sul e Sudeste Asiático. O sucesso anterior desses fundos na América do Norte – onde técnicas alternativas de exploração de petróleo criaram um boom – elevou a demanda dos investidores como fundos de pensão, doações e empresas de seguro.
Esse movimento ocorre após a forte queda nos preços do petróleo, que saiu da máxima de cerca de US$ 114 por barril há um ano para mínimas abaixo de US$ 50 em janeiro, barateando significativamente os ativos em vários pontos do planeta. Com as cotações de suas ações caindo junto com o preço do petróleo, as empresas menores tiveram dificuldades para refinanciar dívidas e levantar o capital tão necessário para continuar as explorações, abrindo espaço para a entrada das empresas de private equity.
Negócios de petróleo e gás financiados por firmas de private equity fora da América do Norte mais que dobraram de valor em 2014 ante 2013, para US$ 11,4 bilhões, pelos dados da Preqin. Em 2015, até 17 de junho, esse valor atingiu US$ 3,6 bilhões.
Até agora no ano, as empresas de private equity que administram fundos de aquisição e de recursos naturais que concentram investimentos em petróleo e gás fora da América do Norte captaram US$ 2,5 bilhões, segundo a Preqin, mais que o dobro do volume captado em 2013 antes de os preços do petróleo desabarem, no ano passado.
As empresas estão procurando especialmente no Mar do Norte, uma região de campos envelhecidos e produção em declínio onde a queda dos preços do petróleo foi mais sentida, tornando os ativos mais baratos. Elas também procuram na África Ocidental, onde o petróleo que antes era exportado para os EUA foi substituído pelo xisto americano, e na América do Sul, África Oriental e Ásia, onde a queda no preço do petróleo criou oportunidades de aquisição de projetos menores.
Mas nem sempre as empresas de private equity têm sucesso.
Em janeiro, a KKR nomeou Haroun van Hövell como chefe da sua equipe do setor de petróleo, parte dos planos do grupo de expandir suas operações para além dos Estados Unidos. Mustafa Siddiqui, da Blackstone, se mudou de Nova York para Londres no ano passado para comandar as atividades de petróleo da empresa na Europa, Oriente Médio e África. A Blackstone tem cerca de US$ 8 bilhões para investir em negócios com petróleo ao redor do mundo.
A Blackstone Energy Partners e a Blue Water Energy já investiram US$ 500 milhões na Siccar Point Energy, uma nova empresa de petróleo com sede no Reino Unido que tem o foco no Mar do Norte e pretende ter uma grande participação na região, aproveitando que petrolíferas maiores, como a francesa Total SA e a anglo-holandesa Royal Dutch Shell PLC, querem reduzir seus ativos na área. Siddiqui e van Hövell não quiseram comentar para esta reportagem. Laidlaw não respondeu a pedidos de comentário.
A proposta de compra do BG Group PLC por US$ 70 bilhões feita pela Royal Dutch Shell oferece aos compradores e vendedores um parâmetro para se calcular outros negócios, dizem executivos de bancos e advogados.
Em maio, fundos assessorados pela Helios Investment Partners pagaram US$ 100 milhões por 12,4% da Africa Oil Corp., que tem capital aberto no Canadá e possui ativos no Quênia, Etiópia e Somália. Simon Eyers, diretor administrativo da Warburg Pincus, pioneira em investimentos em petróleo, diz que o fundo global de petróleo da empresa, que captou US$ 4 bilhões recentemente, vai se concentrar na exploração e produção de petróleo ao redor do mundo, assim como em eletricidade, serviços e mineração.
A White Rose Energy Ventures LLP, que era parcialmente financiada pela Riverstone e outros sócios, não encontrou petróleo na costa de Angola após perfurar dois poços em águas profundas no ano passado a um custo de mais de US$ 300 milhões, uma demonstração dos riscos da exploração internacional de petróleo. A Riverstone não comentou.