Os grupos industriais japoneses IHI, Kawasaki e Mitsubishi, sócios dos estaleiros Atlântico Sul (EAS), Enseada e Rio Grande (ERG), respectivamente, deverão esperar por maiores detalhes do plano de negócios da Petrobras e pelo término da reestruturação na Sete Brasil para definir o seu futuro no setor no país. “Enquanto eles [os japoneses] não entenderem melhor o que está acontecendo no Brasil, eles não vão se mexer”, disse uma fonte, e completou: “Eles olham a relação bilateral entre os governos para avaliar se têm suporte oficial.”
Em maio, presidentes dessas corporações japonesas, que investiram mais de R$ 1 bilhão nos três estaleiros no país, reuniram-se com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, em busca de garantias do governo sobre a demanda dos estaleiros, ameaçada pela crise na Sete Brasil. Os japoneses precisam ter sinalizações claras de que haverá demanda nos estaleiros a curto e médio prazos, disse uma fonte.
O Enseada havia ganho contratos para construir seis sondas para a Petrobras e há indicações de que o estaleiro poderá ficar só com quatro unidades. Controlado por Odebrecht, OAS, UTC e Kawasaki, o Enseada enfrenta dificuldades depois que a Sete Brasil começou atrasar pagamentos para a construção de sondas ano passado. No mercado, especula-se que o estaleiro poderia passar por uma reestruturação societária depois de resolvido o problema da Sete Brasil.
A OAS já disse que os 17,5% que detém no Enseada é um dos ativos à venda no processo de recuperação judicial do grupo. No mercado, há informações segundo as quais a Kawasaki poderia ampliar sua fatia acionária no estaleiro junto com a Odebrecht, mas não há decisão nesse sentido. Qualquer movimento dos grupos industriais japoneses no Enseada, no EAS e no ERG depende do encaminhamento para uma série de incertezas que surgiram a partir da Operação Lava-Jato, que investiga desvios de recursos da Petrobras. Os sócios brasileiros dos três estaleiros foram envolvidos nas denúncias da Lava-Jato.
Uma força tarefa, coordenada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) foi formada para discutir ações que permitam a continuidade das operações dos estaleiros, em especial os três que contam com os sócios japoneses. Houve discussões com os japoneses, em reuniões presididas pelo ministro Eduardo Braga, em maio, que incluíram temas como renegociações de empréstimos, novas contratações e a solução para os contratos da Sete Brasil. Dos três estaleiros, o Enseada, na Bahia, é o mais dependente dos contratos com a Sete Brasil. Procurado, o MME não se pronunciou sobre o andamento dos trabalhos da força tarefa.
Para atuar no Brasil, empresas japonesas chegaram a se unir no “Japan Team”, grupo que reúne concorrentes nipônicas ligadas à navegação e à construção naval que buscam oportunidades no pré-sal. José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, disse que os japoneses parceiros da Ecovix, empresa do grupo dedicada à construção naval e offshore, já manifestaram diversas vezes o compromisso de manter a participação acionária de 30% que detêm no negócio. “A relação [com japoneses] é muito boa.”
A assessoria da Mitsubishi disse ao Valor que o grupo entende que a Ecovix, dona do ERG, encontra-se em uma difícil situação financeira causada pela Lava-Jato e pela Sete Brasil. A MHI afirmou que está analisando junto com outras empresas japonesas as medidas a serem tomadas. No mercado, há informações de que os sócios da Engevix poderiam vender sua participação no ERG, detida via holding Jackson, com os japoneses podendo aumentar sua fatia. Mas não há nenhuma decisão tomada.