A crise da Sete Brasil ampliou-se e atingiu os fabricantes de máquinas e equipamentos para os estaleiros contratados pela empresa. Dois deles —Ecovix e Enseada— mandaram cartas a seus fornecedores suspendendo compras. O Ecovix, braço de construção naval da Engevix, avisou a fornecedores que seu contrato para a construção de três sondas está suspenso a pedido da Sete Brasil.
Em carta enviada a toda sua cadeia de fornecimento, em 15 de julho, a Ecovix informa que, em razão da suspensão dos contratos para as sondas Cassino, Curumim e Salinas, a compra de equipamentos pelo estaleiro também foi suspensa. Redigido em inglês, o documento, ao qual a Folha teve acesso, informa que a medida é consequência da paralisação da Sete Brasil, que “vive uma substancial dificuldade financeira”. “Como consequência, resultou na suspensão global de pagamentos, que está afetando fortemente o fluxo de caixa e as operações em geral”.
Na carta, a Ecovix diz que a suspensão da compra de equipamentos é para evitar “impactos mais severos a si e aos fornecedores”. A empresa pede que nenhuma nota fiscal de venda seja emitida durante o período, ainda sem prazo definido. A reportagem apurou que a Ecovix tem em torno de 150 empresas em sua cadeia de fornecimento. O contrato com a Ecovix para as três sondas é estimado pelo mercado em cerca US$ 2,7 bilhões.
Em carta também obtida pela reportagem, o estaleiro Enseada (de Odebrecht, UTC, OAS e Kawasaki) solicita a paralisação do fornecimento de máquinas industriais para a sonda chamada Ondina, uma das seis que haviam sido contratadas pela Sete. O documento, enviado em 20 de março, não cita paralisação de contrato com a Sete. O contrato com o Enseada para as seis sondas é de US$ 4,8 bilhões, de acordo com o site da empresa.
Ecovix e Enseada ainda não conseguiram nem começar a construção das suas primeiras sondas. Estavam na fase de compra de equipamentos. Procurada, a Sete afirmou que “segue atuando de modo a viabilizar o seu plano de reestruturação” e que “o contrato das referidas sondas segue em vigor”. A Ecovix não negou o conteúdo da carta. Disse apenas que “tem expectativa de construir as três sondas contratadas e aguarda definições da Sete Brasil”. O Enseada informou que as relações com seus fornecedores são protegidas por cláusulas de confidencialidade, mas, “como é notório, em razão da crise que atingiu a indústria naval brasileira em 2015, as relações comerciais não estão passando por um período de normalidade”.
Em fevereiro, outro dos cinco estaleiros contratados pela Sete, o Atlântico Sul (sociedade entre Camargo Corrêa e Queiroz Galvão), já havia parado a construção de sete sondas da empresa, ao romper, de forma unilateral, seu contrato. Na ocasião, a empresa atribuiu a medida à falta de pagamento. Além desses três, os estaleiros Jurong e Keppel Fells, estrangeiros, têm contrato com a Sete. Cada um está com a sua primeira sonda praticamente pronta.
A crise
O Envolvimento da empresa na Lava Jato fez BNDES segurar financiamento de US$ 9 bilhões. Para manter as operações, Sete fez empréstimo de curto prazo de R$ 12 bi. Dívidas venceram e empresa precisou fazer plano de reestruturação, que implica reduzir o número de sondas planejadas. Os sócios (Petrobras, Petros, Funcef, Previ, Valia, FI-FGTS, Bradesco, BTG Pactual e Santander) tentam evitar redução que comprometa o retorno dos R$ 8,3 bi investido.