A Petrobras liberou os editais para o afretamento de dois novos FPSOs destinados ao cluster do pré-sal da Bacia de Santos, um para a área de Sépia e outro para Libra, ambos com capacidade para produzir 180 mil barris/dia de óleo e programados para entrar em operação em 2019 e 2020, respectivamente. As duas concorrências serão realizadas pelo sistema Petronect e a data de entrega das propostas foi marcada para o dia 10 de dezembro.
Por se tratar das primeiras concorrências de afretamento de unidades de produção conduzidas no Petronect e realizadas sem a associação de grupos brasileiros, a Petrobras irá realizar encontros fechados com cada uma das empresas operadoras de FPSOs para esclarecer os novos procedimentos e tirar eventuais dúvidas dos participantes. As reuniões serão realizadas pela comissão de licitação, formada por técnicos e gerentes da área de Serviços de Contratação de E&P, e devem ter início a partir da próxima semana.
No caso de Libra, a licitação está sendo conduzida pelo consórcio Petrobras, Total, Shell, CNOOC, CNPC e PPSA e a tendência é de que os participantes não possam ter acesso à proposta de seus concorrentes. A concorrência de Sépia foi elaborada sob o modelo de carta convite, o que, ao contrário de Libra, permite o acesso às propostas dos concorrentes e a utilização de recurso administrativo por parte dos proponentes.
Apesar dos problemas enfrentados pela indústria de bens e serviços no Brasil, a Petrobras manteve a exigência de conteúdo alto. De acordo com os editais, a empresa que arrematar o FPSO Libra terá que cumprir 80% de conteúdo nacional, enquanto o vencedor de Sépia precisará atingir o patamar de 70%.
No mercado, a percepção é de as empresas participantes não conseguirão cumprir percentuais desse patamar e que isso deva gerar pedidos de prorrogação do prazo de entrega das propostas. Com alguns dos estaleiros e canteiros nacionais tendo sido citados na operação Lava Jato e/ou passando por dificuldades financeiras, não se sabe se o board das empresas operadoras de FPSOs concordará em contratar esses grupos.
“A situação é delicada, com muitos canteiros e estaleiros daqui passando problemas financeiros e tem ainda as denúncias de participação em operações investigadas pela Lava Jato. Não será surpresa, se os boards das empresas de FPSOs exigirem garantias dos grupos internacionais que mantêm os estaleiros aqui”, afirma uma fonte do setor.
Empresas convidadas
A Petrobras mantém sigilo sobre a lista oficial das empresas convidadas. Parte das empresas foi convidada para participar dos dois processos, mas algumas ficaram de fora de Libra.
Entre as empresas chamadas estão a BW, Modec e Teekay, aptas para disputar os dois contratos. A lista conta ainda com Bluewater, Bumi Armada, Saipem e Yinson (ex-Fred Olsen), que a princípio foram convidadas apenas para o processo de Sépia. Aposta-se também no convite à CNOOC, que pelo fato de o grupo integrar o consórcio de Libra tende a não poder disputar a unidade do projeto de partilha e a Misc, grupo da Malásia que atua, em alguns projetos, em parceria com a SBM.
Diante da posição informal da Petrobras de não impedir que as empresas listadas no bloqueio cautelar sejam subempreitadas pelos grupos convidados, desde o contratante assuma todos os riscos de compliance e garantias, não será surpresa se alguma companhia vier a participar do processo. Procurada pela Brasil Energia Petróleo & Gás, uma fonte da Odebrecht adiantou que a Teekay, sua parceira em concorrências anteriores da Petrobras, irá consultar a petroleira sobre essa questão.
“Se a Petrobras confirmar que não existe impedimento, vamos avaliar as condições do negócio para decidir se participamos ou não do projeto, na condição de subcontratados da Teekay”, antecipa uma fonte.
Requisitos técnicos
De acordo com o edital, o FPSO piloto de Libra terá capacidade para produzir 180 mil barris/dia de óleo e injetar 12 milhões de m³/dia de gás. O prazo contratual de afretamento será de 22 anos, sendo que a unidade terá que ser entregue à Petrobras em 38 meses.
Destinada à cessão onerosa e com prazo de conversão de 33 meses, a unidade de Sépia terá que produzir 180 mil barris/dia de óleo e processar 5 milhões de m³/dia de gás. O contrato de afretamento é de 13 anos, com possibilidade de prorrogação por mais oito anos.
Especialistas do setor estimam que a conversão de cada FPSO exija investimentos da ordem de US$ 2 bilhões a US$ 2,5 bilhões e que as taxas diárias ofertadas fiquem na faixa de US$ 900 mil a US$ 1 milhão. A obra de Libra é vista como mais complexa, em função do porte da planta de gás. Os processos de Libra e Sépia devem enfrentar a concorrência do recém-aprovado projeto de gás Leviathan, localizado no offshore de Israel. As duas conversões serão feita a partir dos cascos de VLCCs.