Duas semanas depois de anunciado o consenso entre Sete e Petrobras, o mercado continua na expectativa do anúncio oficial do acordo, incluindo os nomes dos operadores internacionais de sondas que vão se associar à Sete, um deles, inclusive, aportando recursos estimados em R$ 1,9 bilhão no projeto, entre a construção das sondas e injeção de capital novo na companhia. Até agora não se sabe os nomes desses operadores.
A reestruturação financeira e operacional da Sete Brasil precisará considerar uma solução para a disputa comercial com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), que se arrasta desde o começo do ano. A solução do litígio pode ser decisiva para a entrada de um novo acionista na Sete Brasil. O EAS vem trabalhando para ser incluído na reorganização da Sete. Acredita que se for bem-sucedido nessa estratégia poderá resolver dívidas de R$ 1 bilhão que tem com fornecedores. Essas dívidas são resultado da inadimplência da Sete com o estaleiro. Em fevereiro, o EAS decidiu romper, de forma unilateral, o contrato que tinha com a Sete Brasil para a construir sete sondas de perfuração de poços de petróleo. O rompimento do contrato ocorreu depois que a Sete parou de pagar ao estaleiro, em novembro de 2014.
Embora tenha rompido o contrato com a Sete, o EAS não terminou os contratos com os fornecedores das sondas. O valor que o estaleiro considera ter como crédito contra a Sete se refere a faturas não pagas com os fornecedores das sondas. Inclui ainda custos que os fornecedores tiveram com a produção de bens e equipamentos para as sondas, os quais também não foram liquidados. Quando o litígio surgiu, fontes próximas da Sete manifestaram entendimento contrário ao do EAS. Alegaram que, na verdade, era a Sete que teria um saldo a receber do estaleiro.
Nas discussões, o EAS considera que sua inclusão na reestruturação é importante para evitar uma eventual discussão judicial sobre o tema, o que poderia inibir a entrada de um novo sócio investidor na Sete Brasil. No fim de agosto, Sete Brasil e Petrobras chegaram a um acordo depois de meses de impasse para encaminhar a reestruturação da empresa de sondas. A Sete entrou em dificuldades ao não conseguir financiamentos do BNDES. O banco não liberou recursos depois de ex-executivos da Sete serem envolvidos nas denúncias da Operação Lava-Jato, que investiga desvios na Petrobras.
Em nota, o EAS afirmou que tem adotado uma postura “colaborativa” junto à Sete e acredita que as duas empresas estão empenhadas em encontrar uma solução que atenda aos interesses de ambas as companhias, de seus “stakeholders” e, em especial, dos fornecedores do estaleiro. Procurada, a Sete Brasil disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
No fim de março, o EAS assinou contrato com a Sete que permitiu começar negociações para resolver as disputas relacionadas ao término dos contratos das sondas. No balanço de 2014, o estaleiro indicou que caso não fosse possível chegar a uma solução “amigável” poderia adotar as “medidas cabíveis” contra a Sete. O Valor apurou que o EAS avalia que tem condições de reduzir as dívidas com os fornecedores pela metade, para cerca de R$ 500 milhões.
Depois de cancelar o contrato com a Sete, o EAS mantém em carteira só as encomendas de 22 navios da Transpetro, a subsidiária de logística da Petrobras. Segundo o estaleiro, em 3 de Setembro, o EAS entregou formalmente à Transpetro o navio de número 6, batizado de Marcílio Dias. A cerimônia de entrega do navio deverá ocorrer em breve. A entrega do 7º navio está prevista para dezembro. Será o terceiro navio entregue em um mesmo ano, o que mostra que o estaleiro está melhorando sua produtividade. A entrega da oitava unidade será em junho de 2016.
No mercado, a avaliação, porém, é que o estaleiro só vai conseguir ter margens nos contratos com a Transpetro a partir do 10º navio. Em nota, o EAS afirmou: “Em função dos esforços de redução de custos e melhoria de produtividade, espera-se um incremento na margem operacional, mais visível a partir do 9º navio. Entretanto, resultados positivos são projetados apenas mais à frente, a partir da próxima série de navios.” Também em nota a Transpetro afirmou que recebeu cinco navios do EAS e todos estão em operação. “Dos cinco navios Suezmax que estão em construção no estaleiro, três deverão ser entregues à Transpetro até o fim de 2016”, disse a empresa.
No mercado, estima-se que para garantir a operação do estaleiro será preciso novo aporte dos sócios até o fim do ano, algo na faixa de R$ 200 milhões. Os sócios do estaleiro são Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e um grupo de empresas japonesas lideradas pela IHI Corporation. Sobre o eventual aporte, o estaleiro afirmou: “O EAS vem adotando medidas de redução de custos e ganho de produtividade com o objetivo de estancar a geração de caixa operacional negativa. Não obstante, a atual restrição de crédito a todo setor de óleo e gás não deixa outra alternativa ao EAS senão, neste momento, se financiar através de seus acionistas.”