A petroleira australiana Karoon pretende acelerar os esforços na avaliação de suas descobertas na Bacia de Santos a partir do ano que vem e iniciar uma nova fase de investimentos, de US$ 345 milhões nos próximos três anos, que promete tornar a empresa, focada hoje na exploração, numa produtora de petróleo. A companhia trouxe recentemente para sua equipe José Formigli, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, que atuará como consultor no desenvolvimento do projeto de produção antecipada de Echidna, que deve produzir 20 mil barris diários de óleo leve a partir de 2019.
Para 2016, a empresa prevê investir entre US$ 90 milhões e US$ 100 milhões para cumprir o compromisso de perfurar dois novos poços de avaliação das áreas de Echida e Emu e realizar uma campanha sísmica na área de concessão dos cinco blocos que detém em Santos (S-M-1037, S-M-1101, S-M-1102, S-M-1165 e S-M-1166).
Os investimentos fazem parte do plano de avaliação de descobertas aprovado no fim do mês passado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), que prevê, ainda, a perfuração de outros quatro poços opcionais na região.
Para financiar os investimentos previstos, a companhia tem um capital disponível de US$ 450 milhões. A Karoon tem planos, ainda, de vender parte de sua participação no projeto para sustentar os investimentos. “Nossa intenção é ficar com uma fatia de 40% a 45% nos projetos”, disse Tim Hosking, diretor-geral da Karoon na América do Sul, em entrevista ao Valor.
A empresa detém uma fatia de 65% nos blocos, onde opera em sociedade com a Pacific Rubiales (35%). Segundo o executivo, a expectativa é concluir a venda da participação no segundo semestre de 2016, quando a petroleira já espera ter informações mais precisas sobre o desenvolvimento de Echidna e sobre os resultados da campanha de avaliação.
De acordo com Hosking, a ideia é contratar um FPSO (plataforma flutuante) flexível, que permita à companhia utilizá-lo também no projeto de produção definitiva, previsto para 2021.
Com o desenvolvimento de Echidna, a empresa começa a gerar receitas operacionais com as quais pretende investir nos quatro poços de avaliação opcionais na Bacia de Santos. Segundo Hosking, a estimativa da Karoon é que o “break even” (preço mínimo do barril a partir do qual a produção é economicamente viável) do projeto gire em torno de US$ 60 a US$ 70 o barril. A companhia trabalha com uma perspectiva de que o preço do petróleo atinja, em 2017, o patamar de US$ 70 a US$ 80 o barril.
A Karoon prevê declarar a comercialidade de Echidna até o fim do ano que vem e se dedicar, entre o fim de 2016 e 2018, às contratações dos equipamentos e da plataforma que operará no sistema antecipado. “Estamos nos preparando para tirar vantagem dos preços mais baixos de contratação dos bens e serviços no mercado internacional”, disse Hosking, que já reporta redução de 20% a 30% no custo dos serviços contratados este ano, na comparação com 2014.
O início da produção na Bacia de Santos deve marcar o primeiro óleo da própria Karoon. Listada na Bolsa de Valores da Austrália, a Karoon foi fundada em 2003, mas ainda não produz. As receitas da companhia, que possui ativos também na Austrália e Peru, são geradas a partir da venda de participação em blocos exploratórios. No ano passado, a empresa vendeu para a Origin, por US$ 800 milhões, sua fatia de 40% nos blocos WA-315-P e WA-398-P, na Austrália, onde está concentrada a descoberta de gás de Poseidon.
O executivo comentou sobre novas oportunidades de negócios no país e a ausência da petroleira na 13ª Rodada da ANP, em outubro. “Preferimos ficar de fora para focar em trazer o primeiro óleo de Kangaroo e Echidna”, disse o executivo, sem descartar a compra de novos ativos. “Se tivermos alguma oportunidade, vamos avaliar.”