Num ano de cortes nos negócios da Petrobras e de baixa nos preços do barril, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento na área de óleo e gás estão em franco declínio, de cerca de 60%, e despertam preocupação no meio acadêmico e entre fornecedores do setor.
É nesse clima que o pesquisador José Carlos Pinto assume o comando do Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), hoje muito concentrado no setor petrolífero, mas que traçou uma meta clara de diversificação para as áreas de biomedicina e biotecnologia nos próximos anos.
Em entrevista ao Valor, Pinto admite que o momento não é favorável a investimentos em P&D, mas destaca que o ritmo das pesquisas não está em queda e que o parque esteja passando por uma crise. O professor, engenheiro químico e ex-diretor da Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos da UFRJ (Coppetec), diz, ainda, que encara a estratégia de diversificação das pesquisas no parque como natural e que o processo “se impõe, independentemente dos aspectos econômicos” do setor de óleo e gás.
“Uma das nossas missões é diversificar. Não uma diversificação com fundo necessariamente econômico, para ser menos sensível a flutuações de um setor. Não é necessariamente essa a perspectiva, embora ela ajude, mas é uma perceptiva de abrir outros canais de comunicação com a [comunidade acadêmica da UFRJ”, explicou.
Dentro desse processo de expansão, a Ambev investe R$ 180 milhões num centro de tecnologia no Fundão. Outras duas empresas fora da área de óleo e gás, a SeaHorse (de geração de energia das ondas do mar) e a Aquaflux (especializada em soluções sustentáveis em drenagem), segundo Pinto, também confirmaram interesse em se instalar no parque.
A maior preocupação na comunidade de P&D, no Brasil, é que os investimentos milionários realizados nos últimos anos na construção de uma série de laboratórios e centros de pesquisa em universidades espalhadas por todo o país se percam neste momento de retração dos investimentos em óleo e gás.
Alguns fornecedores de bens e serviços, como a FMC Technologies, se queixam de estarem trabalhando com a capacidade ociosa em seus centros de tecnologia.
De acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), os investimentos obrigatórios das petroleiras em P&D, previstos nos contratos de concessão dos grandes campos de produção, totalizaram R$ 196 milhões no acumulado do ano até setembro, o que representa uma queda de 63% em relação à igual período do ano passado.
“É inegável que houve evolução grande na infraestrutura, esse investimento se perde rapidamente. Não se toca infraestrutura sem pessoas trabalhando. É necessário que projetos ocorram, sob pena de o país não só regredir, como pior, jogar recursos fora e ter de investir de novo”, disse Pinto, que substituirá Maurício Guedes, único presidente do parque desde a fundação, em 2003, e que se aposenta este ano.
Pinto, no entanto, não vê momento de crise nas atividades desenvolvidas no parque. Ele admite que os investimentos da Petrobras estão em queda e que a crise econômica pode atrasar alguns projetos, mas o professor destaca que P&D é um investimento com perspectivas de longo prazo.
“Não vemos momento de crise no parque. Vemos um momento de turbulência no país, e obviamente afeta algumas empresas que estão sediadas no parque, mas quando olhamos para a atividade de P&D, o próprio negócio do petróleo, ele não é feito com o horizonte de seis meses ou um ano. Todas essas empresas que vieram para o parque vieram com um projeto estratégico de longo prazo”, defende Pinto, embora reconheça que num momento desfavorável da economia, muitas empresas optam por cortar atividades de P&D.
Thais Macieira, do Departamento de Petróleo, Gás e Indústria Naval da Financiadora de Pesquisas e Projetos (Finep), por exemplo, destacou, em evento recente no Rio, que apesar de haver recursos disponíveis, a Finep tem sentido este ano uma redução na procura das empresas por financiamentos.
Pinto destaca, no entanto, que ainda não observou ao longo deste ano redução no número de pessoas que trabalham no parque – 1.600, sendo a metade envolvida diretamente em pesquisas – e que há novos projetos sendo iniciados nos centros de tecnologia.
Ele explica que as empresas que se instalam no parque assumem compromissos de estabelecer convênios com a UFRJ, os chamados compromissos de colaboração, e que neste momento “várias das empresas estão cumprindo esses compromissos”. “Não observamos descontinuidade do fluxo de investimento”, afirmou.