A crise financeira da Petrobras continua afetando o setor naval. Esta semana, o estaleiro Vard Promar, de Pernambuco, foi informado do cancelamento de dois navios gaseiros, orçados em quase R$ 300 milhões.
A notícia caiu como uma bomba na empresa, que já estava em situação complicada devido aos atrasos nos pagamentos da estatal e em setembro ajuizou um pedido de reequilíbrio econômico de seu contrato com a Transpetro – subsidiária de logística da Petrobras.
O estaleiro assinou em julho de 2010 um acordo para a construção de oito navios gaseiros que deveriam ser entregues até 2017. As duas primeiras embarcações foram construídas na base da empresa no Rio de Janeiro e a terceira, feita em Pernambuco, foi entregue este mês e está em operação.
Segundo apurou o Valor, as duas empresas vinham negociando uma prorrogação de cerca de oito meses no prazo de conclusão do contrato quando a Transpetro decidiu cancelar as encomendas dos dois últimos navios, que ainda não tiveram a construção iniciada.
A estatal justificou a decisão com os seguidos atrasos nas entregas, resultantes dos problemas enfrentados pelo Vard Promar na construção das primeiras embarcações.
Os representantes do estaleiro viram no argumento uma “desculpa útil” para a Transpetro cortar investimentos. Procurada, a estatal informou que os cancelamentos se deram por “descumprimento de cláusula contratual”.
Foram mantidas apenas as encomendas dos três gaseiros que já estão com as obras iniciadas. O contrato original, assinado no âmbito do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), previa um pagamento de US$ 536 milhões pelas oito embarcações.
O estaleiro é uma sociedade entre o grupo norueguês Vard e a brasileira Promar, que tem entre os sócios os empresários Paulo Haddad, Waldemiro Arantes e Jorge Ferraz. Com os dois cancelamentos, o grupo deve começar a dispensar trabalhadores e tem sua viabilidade comprometida.
Atualmente, o empreendimento conta com 1,2 mil funcionários, mas as demissões vão começar no início de 2016. Vizinho ao Vard Promar, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) entrou em colapso após o escândalo de corrupção da Petrobras envolver os dois principais sócios da empresa: as empreiteiras Queiroz Galvão e Camargo Corrêa.
Com uma carteira original de 29 embarcações, sendo 22 petroleiros da Transpetro e sete sondas da Sete Brasil, o EAS viu sua lista de encomendas recuar rapidamente, o que obrigou o grupo a demitir algo em torno de 8 mil trabalhadores nos últimos anos.
Os dois estaleiros fazem parte do cluster naval que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão que fosse erguido em seu Estado natal. Além do EAS e do Vard Promar, várias empresas da cadeia metal mecânica sofrem com os efeitos da crise no setor naval. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco, outros 5 mil empregos já foram perdidos em empresas fornecedoras.
A escalada do desemprego na região levou o governo de Pernambuco a procurar a Petrobras para buscar uma solução. Está prevista para as próximas semanas uma reunião entre o governador, Paulo Câmara (PSB), e o presidente da estatal, Aldemir Bendine.
O argumento de Câmara é de que foi a própria Petrobras quem sinalizou, há seis anos, a importância da instalação de um cluster naval no Complexo Portuário de Suape, onde também fica a refinaria Abreu e Lima. Desde então, o governo local tirou R$ 300 milhões de seu caixa para preparar o local para receber as empresas.