No dia em que a Petrobras anunciou uma redução de 25% no plano de investimentos até 2019, surgiram mais más notícias para a indústria naval do Estado. Agora, é o estaleiro EBR, em São José do Norte, que recorre a um grande número de demissões. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, que também abrange o município vizinho, há o risco de até mil desligamentos.
Conforme o presidente da entidade, Benito Gonçalves, o estaleiro — sociedade da brasileira Setal Óleo e Gás (SOG) e da japonesa Toyo — eliminou cerca de 500 postos de trabalho no final do ano passado e, entre segunda-feira e ontem, mais um grupo de até 150 pessoas.
— O estaleiro tinha três mil trabalhadores. Vai ficar com dois mil — afirma o dirigente.
Segundo Gonçalves, as demissões teriam como causa o atraso na chegada do casco da plataforma P-74, que está sendo convertido no Rio. O EBR está construindo os módulos e depois fará a integração da plataforma.
Para Marcus Coester, coordenador do Comitê de Competitividade de Petróleo, Gás e Energia da Fiergs, a redução dos investimentos da Petrobras já era esperada e, além dos problemas de endividamento da empresa e consequências da Operação Lava-Jato, é causada pela forte queda no preço do petróleo. Mesmo que o anúncio não traga um impacto ainda mais negativo para o polo naval gaúcho, o horizonte é nebuloso, admite Coester.
Outras fontes da indústria naval também dizem não ver consequências mais graves em relação ao que está ocorrendo porque apenas os contratos em andamento devem ser mantidos, e as futuras licitações de plataformas têm como preferência o Exterior.
— É um negócio de futuro bastante incerto. Mas também depende muito da empresa que está por trás (dos estaleiros), se sabe que este é um setor cíclico. É pouco provável que esta crise perdure para sempre — pondera Coester.
Gonçalves, do Sindicato dos Metalúrgicos, avalia que os contratos em vigor serão mantidos, mas o futuro dos estaleiros no Estado é uma incógnita. Procurada, a EBR não se manifestou sobre as demissões.
O consórcio QGI, em Rio Grande, deve retomar neste ano a montagem das plataformas P-75 e P-77, mas terá menos atividades do que as previstas no contrato original. As admissões devem começar no final do mês, projeta o dirigente. Outra dúvida envolve a Ecovix, com a possibilidade de cancelamento da encomenda de até dois navios sonda e de mais dois cascos de plataformas serem redirecionados para a China.