SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO – O governo federal anunciou nesta quarta-feira um pacote de incentivo ao setor de petróleo e gás que poderá destravar 120 bilhões de dólares em investimentos.
A medida foi bem recebida pela indústria em um ambiente de preços baixos da commodity e crise econômica e política no Brasil. A estimativa bilionária foi feita pelo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, em comunicado que anunciou a autorização para prorrogação de concessões de campos da Rodada Zero de 1998, a prorrogação do Repetro e estudos para contratação sob regime de partilha de áreas unitizáveis.
“Estamos sentindo o governo tomando medidas e fazendo ações no sentido de estimular e dar um sinal para a indústria de que o Brasil está buscando se tornar mais competitivo”, afirmou à Reuters o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Jorge Camargo.
“A prorrogação das concessões está nessa direção, assim como Repetro, licitação da unitização… a gente vê com entusiasmo e expectativa porque o Brasil começa a tomar medidas para se tornar mais atraente”, comentou.
As iniciativas foram listadas em resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que afirmou que “o atual cenário mundial vem produzindo fortes impactos no mercado de petróleo e gás… com preços que dificultam a viabilização econômica dos investimentos”.
Na resolução, o CNPE autorizou a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a prorrogar os contratos de concessão da Rodada Zero, quando foram ratificados os direitos da Petrobras sobre os campos que se encontravam em produção antes da quebra do monopólio da estatal nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural no país.
Entre os campos incluídos na Rodada Zero está Marlim, da Petrobras, um dos maiores produtores do Brasil. A prorrogação dos contratos permitirá maior visibilidade e retorno sobre os investimentos das companhias. A Rodada Zero também confirmou direitos sobre blocos em exploração e desenvolvimento.
A prorrogação será feita apenas para campos cuja extensão do prazo de produção se mostre viável para além do período contratual original. Para a renovação, o concessionário deverá apresentar novo plano de desenvolvimento, com indicação de investimentos a serem realizados.
“O prazo de prorrogação deverá ser compatível com as expectativas de produção decorrentes do novo plano de desenvolvimento e dos novos investimentos, limitado a 27 anos”, segundo o texto no Diário Oficial da União.
O CNPE também determinou à ANP que em até 30 dias notifique concessionárias de campos sem produção nos últimos seis meses para que retomem a atividade nos próximos 12 meses ou transfiram os direitos sobre esses campos para outras empresas.
De acordo com a resolução, a ANP deverá iniciar processo de extinção das concessões das empresas que não cumprirem a determinação. “Existem campos com capacidade de produzir, mas encontram-se paralisados, comprometendo o aproveitamento racional de recursos energéticos, a geração de empregos e a arrecadação de royalties pela União, Estados e municípios”, afirmou o CNPE.
Camargo, do IBP, apoiou a iniciativa do governo e disse que é uma medida comum no setor de petróleo. “Isso é um movimento muito comum no mundo. Às vezes são campos não muito atraentes, são os menores ou em fase madura. A maioria em terra. E, com o preço baixo não justificaria o investimento para retomar. Acho que o governo faz bem em colocar uma pressão sobre as empresas. Tem que ser feito dentro do arcabouço legal porque é uma concessão”, comentou.
O conselho também propôs a prorrogação da vigência do regime aduaneiro especial de exportação e importação de bens destinados a atividades de pesquisa e produção de petróleo, o Repetro. “Como o Repetro acabaria em 2019 e a indústria trabalha com longo prazo, fazer um investimento aqui sem o Repetro inibiria investimentos. Foi uma boa ideia estender porque o governo está consciente de que o setor de petróleo e gás será muito importante para ajudar a tirar o Brasil da crise e da recessão”, disse Camargo.
Por fim, o CNPE determinou ao Ministério de Minas e Energia que conclua estudos necessários para propor ao conselho os parâmetros técnicos e econômicos a serem considerados na contratação, sob o regime de partilha, de áreas unitizáveis que extrapolem os blocos concedidos e estejam localizadas dentro do polígono do pré-sal.
Na terça-feira, o secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Marco Antônio Almeida, adiantou que o governo pretende realizar em 2017 uma licitação de áreas unitizáveis, ou seja, reservas interligáveis com áreas já licitadas, que são passíveis de uma exploração unificada. “Há áreas no pré-sal que não evoluem porque um pedaço grande da descoberta está em área contígua”, explicou Almeida.