Os empresários brasileiros estão entre os que se mostram mais pessimistas com o futuro da economia doméstica, mas apesar disso, prometem investir mais que potências como Alemanha, Reino Unido e Japão, além de emergentes do porte de China e México.
Estudo da consultoria Grant Thornton realizado junto a 12.500 empresas de 45 países aponta que 20% dos executivos brasileiros esperam piora no desempenho da economia local nos próximos 12 meses, desânimo acima da média global (15%) e da média dos países do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), de 16%. Somente em 15 nações o pessimismo entre os empresários supera o registrado no Brasil.
Apesar disso, 46% das companhias no país consultadas pela consultoria informam que vão ampliar seus investimentos em máquinas e equipamentos nos próximos 12 meses e 24% pretendem construir novas instalações no período. Nos países desenvolvidos, os números são mais tímidos.
Os investimentos em máquinas e equipamentos estão nos planos de 43% das empresas nos Estados Unidos, 37% no Reino Unido, 35% na Alemanha e 32% no Japão. Na China, o percentual é ainda mais baixo (29%) e, no México, fica em 28%. A média global é de 37% e de 39% no grupo dos Brics.
“Apesar da conjuntura desfavorável, o Brasil continua sendo um dos países que mais oferecem oportunidades de negócios”, diz Artemio Bertholini, presidente da Grant Thorton Brasil, lembrando que o Brasil, com seus mais de 200 milhões de habitantes, é um dos maiores mercados consumidores do mundo. Grande parte da população brasileira, acrescenta, ainda é muito carente de produtos e serviços, ao contrário do que se vê em economias mais avançadas, como a japonesa.
“A perspectiva de um enfraquecimento econômico não significa necessariamente deterioração dos negócios”, ressalta Bertholini. Segundo ele, embora os empresários entendam que medidas de estímulo como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sejam apenas paliativos, existe a percepção de que a curto prazo as operações das empresas podem ser beneficiadas.
O grande desafio dos empresários, segundo Bertholini, está em lidar com questões estruturais que afetam o dia a dia das empresas, como a burocracia e a falta de mão de obra qualificada, além da baixa credibilidade do país diante de escândalos como os que envolvem refinarias da Petrobras. “Esses casos têm grande repercussão no mundo corporativo, porque levantam dúvidas sobre a seriedade do país na condução dos negócios.”
Para 55% dos entrevistados no Brasil, a burocracia é um entrave à expansão dos negócios, percentual bastante acima da média global (34%) e dos Brics (41%). A falta de mão de obra qualificada é um limitador para 42% das empresas no país, fatia que também ultrapassa a média global (30%) e dos Brics (36%). “Se não reduzirmos o custo Brasil, muitas oportunidades serão perdidas”, alerta Bertholini.
Segundo ele, em todo o mundo, há uma forte tendência de concentração de mercado, com uma quantidade cada vez menor de empresas ditando os rumos dos negócios. Pelos seus cálculos, cerca de 2.000 companhias ao redor do globo dão as cartas no ambiente corporativo atualmente, número que deve ser reduzido a 500 nos próximos 15 anos.
“Dessas 500 empresas, talvez 30 venham a ser brasileiras”, estima o presidente da consultoria, citando como possíveis integrantes desse grupo Vale, Gerdau, BR Foods, Friboi e Embraer. “Nossa vocação é para commodities, não para alta tecnologia. Isso não quer dizer que não teremos fábricas no Brasil. Significa apenas que o centro decisório estará em outro país”, observa o executivo. A baixa escolaridade no Brasil, diz ele, restringe o desenvolvimento de indústrias de ponta. “Por outro lado, educação é um dos setores mais promissores no país”, afirma.