Diversas instituições que representam o trabalhador e as empresas fornecedoras da indústria do petróleo reuniram-se recentemente na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro para lançar o Movimento Produz Brasil. Um movimento em defesa do conteúdo nacional, que o governo federal ameaça flexibilizar, por sugestão e pressão das grandes petroleiras internacionais, incluindo aí a Petrobrás, sob a coordenação do Instituto Brasileiro do Petróleo, entidade que defende os interesses dessas empresas.
A confirmação da decisão da mudança do conteúdo nacional será uma espécie de 7 x 1 das indústrias brasileiras, de centenas de fornecedores da cadeia do petróleo e o fim da esperança da retomada de empregos no Brasil. Os números oficiais já apontam 12 milhões de desempregados, sem contar com outros milhões de jovens em idade de ingressarem no mercado de trabalho, mas que não encontram esta oportunidade.
A insensibilidade de quem defende o fim das exigências do conteúdo nacional mostra de verdade quem está dando as costas para este problema. Países de origem das grandes petroleiras que aqui no Brasil defendem a quebra dessas regulamentações são ainda mais rigorosos ao defenderem suas indústrias e seus fornecedores. As leis são ainda mais exigentes do que no Brasil. A Noruega, por exemplo, defende a indústria local de forma ainda mais protecionista. E os Estados Unidos caminham nesta mesma direção.
É certo que o IBP seja uma instituição brasileira que reúne, em sua grande maioria, petroleiras internacionais que contribuíram e ainda contribuem muito com a indústria de petróleo no Brasil. Mas é certo também que neste momento absolutamente especial, com empresas tradicionais, competentes, pedindo recuperação judicial e quebrando por falta de encomendas, o IBP feche os olhos para o problema e ainda faça pressão junto ao governo para que tome atitude que vá ferir de morte as empresas que ainda sobrevivem, mesmo respirando por aparelhos. É surpreendente que o presidente do IBP, Jorge Camargo, e o Presidente da Petrobrás, Pedro Parente, profissionais sérios, reconhecidos por seus talentos, estejam capitaneando as mudanças nas regras e fazendo com que o Ministério das Minas e Energia e o governo federal dobrem os joelhos e fiquem submetidos, quase subjugados, aos apelos dos que querem que as obras sejam repassadas quase na totalidade para o exterior, em detrimento das nossas indústrias.
Chegou quase a ser patética a defesa da representante do governo federal durante o evento do Movimento Produz Brasil, na Firjan. Para estimular as indústrias do petróleo, disse que haverá leilões de blocos em 2017. Quem vive o mercado sabe perfeitamente que os negócios para os campos a ser leiloados em 2017 só se tornarão realidade concreta em 2020, 2021 ou 2022. Esperar que as empresas, já combalidas, sobrevivam sem encomendas até lá é praticamente impossível.
O que se tem hoje são dois FPSOs que precisam ser contratados para explorar os gigantescos Campos de Libra e Sépia no pré-sal brasileiro. E essas contratações precisam urgentemente ser feitas no Brasil, com empresas brasileiras, ajudando o país a sair da crise profunda que a economia atravessa. A indústria brasileira está pronta para os desafios. Contratar fora é aumentar o desemprego. Com um governo fraco, as instituições políticas desacreditadas e um judiciário que vacilou na sua área suprema quando posto à prova, é elevar sobremaneira a tensão social. Com uma perspectiva ruim, é temeroso supor o que poderá vir pela frente. Aos insensíveis, recomenda-se prudência e atenção.