Assim como consumidores ávidos que disputam produtos, dois dos maiores grupos de petróleo da Europa passaram os dias que antecederam o Natal num frenesi de gastos que chegou a US$ 6 bilhões.
Na semana passada, a francesa Total comprou participações da Petrobras em dois campos de petróleo offshore no Brasil, como parte de um acordo de US$ 2,2 bilhões que também incluiu uma parceria em um terminal de distribuição de gás e usinas geradoras de energia. Isso ocorreu um dia depois que o grupo fechou acordo para pagar US$ 207 milhões por uma participação na Tellurian Investments, para o desenvolvimento de um terminal na Louisiana, a partir de onde vai exportar gás natural liquefeito das vastas reservas de xisto da América do Norte.
No início da semana, a BP do Reino Unido informou que vai investir US$ 1 bilhão numa parceria com a Kosmos Energy dos Estados Unidos, para o desenvolvimento de campos de gás offshore na Mauritânia e no Senegal, e também comprou uma participação de 10% no maior campo de petróleo de Abu Dhabi por US$ 2,4 bilhões.
Juntos, os negócios reforçam os sinais de um retorno da confiança ao setor de petróleo e gás, depois que os preços do petróleo passaram a ser cotados acima de US$ 55 o barril nas últimas semanas, o dobro do patamar mais baixo em 12 anos registrado em janeiro.
Após dois anos de cortes nos investimentos, executivos do setor de petróleo e analistas afirmam que algumas empresas estão prontas para começar a afrouxar as rédeas sobre os investimentos, já que uma combinação de custos menores e preços maiores está amenizando a pressão sobre os balanços.
Por ter começado a conter os custos antes que a maior parte das empresas durante os “anos de vacas gordas”, em que o petróleo estava cotado a US$ 100 o barril, não surpreende que a Total esteja entre as primeiras a voltar seu foco novamente para o crescimento.
Valentina Kretzschmar, diretora de análises corporativas da Wood Mackenzie, consultoria especializada em energia, diz que após reduzir o ponto de equilíbrio a um “nível sustentável”, a Total “está agora mudando sua estratégia para um desenvolvimento mais agressivo dos negócios”.
A BP também está acelerando após anos de recuo, desde que o vazamento de petróleo na plataforma Deepwater Horizon, em 2010, forçou a companhia a se desfazer de US$ 40 bilhões em ativos para bancar os custos de limpeza e obrigações legais.
Além dos negócios da semana passada, o grupo também deu início em novembro à segunda fase do plano de US$ 9 bilhões para seu campo de petróleo Mad Dog no Golfo do México, e comprou da Eni da Itália uma participação de 10% no campo de gás de Zohr, no Egito, por US$ 375 milhões.
No entanto, apesar da rapidez dos negócios de fim de ano, analistas afirmam que uma recuperação mais ampla dos investimentos e fusões e aquisições será cautelosa e gradual. Iain Reid, da Macquarie, diz que o mercado continua “concentrado na capacidade das companhias de cobrir seus dividendos e investimentos com os preços do petróleo a US$ 60 o barril ou menos”. Em outras palavras, não veremos os investimentos desenfreados da era em que o barril de petróleo custava US$ 100.
Os negócios recentes da Total e BP fornecem pistas sobre como as companhias tentarão reconciliar os novos investimentos com a necessidade de manter a disciplina de capital. A BP destacou as “características dos custos mais baixos” dos ativos que comprou em Abu Dhabi, enquanto que o projeto Mad Dog só foi aprovado depois que os custos foram cortados pela metade do total estimado originalmente, de US$ 20 bilhões.
Enquanto isso, os campos brasileiros comprados pela Total estão entre os ativos offshore mais economicamente atraentes do setor. “A exploração em águas profundas no Brasil oferece acesso a recursos de longa vida e baixos custos, e vai ajudar a mudar a carteira da Total para a ponta mais baixa da curva de custos”, diz Valentina Kretzschmar.
A decisão de Petrobras de vender participações minoritárias em dois blocos dos prolíficos campos do “pré-sal” na bacia de Santos – incluindo um em que a Total será a operadora -, é um lembrete de que algumas companhias de petróleo ainda estão mais voltadas para a venda de ativos, e não para a compra.
A estatal brasileira pretende se desfazer de US$ 15,1 bilhões em ativos este ano e outros US$ 19,5 bilhões nos próximos dois anos, enquanto luta para reduzir seu endividamento de US$ 123 bilhões, o maior do setor do petróleo.
A Royal Dutch Shell está numa posição parecida. Na semana passada ela conclui a saída da joint venture de refino de petróleo Showa Shell no Japão (uma operação de US$ 1,4 bilhão) e acertou a venda de seus negócios de distribuição de combustíveis na Austrália e África por um total combinado de US$ 500 milhões.
Como a única grande empresa a realizar aquisição de grande porte durante a desaceleração do mercado (o takeover do BG Group por 35 bilhões de libras), a Shell está agora concentrada na redução das dívidas contraídas para financiar a operação. A companhia está a menos de um terço do caminho traçado para a captação de US$ 30 bilhões via vendas de ativos até o fim de 2018, mas o negócio da semana passada sugere que o programa finalmente está ganhando ímpeto.
Estejam eles relacionados a empresas como a Total e a BP, que buscam refazer seus portfólios, ou àquelas como a Shell e a Petrobras, que tentam reduzir os seus, os preços mais altos do petróleo deverão injetar mais vigor nas duas pontas da equação dos negócios em 2017.