A Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) passou por um período de remodelagem da atuação, com uma linha mais focada nos aspectos técnicos, e vê seu dia a dia retomar a operação em bom ritmo, como definiu o presidente Nelson Romano, que participa do Movimento Produz Brasil, em defesa do conteúdo local e da participação das empresas brasileiras nos projetos futuros do setor de óleo e gás. O executivo não acredita que os problemas revelados pela Lava Jato tenham afetado a autoestima do setor de engenharia, o que já estaria superado em sua visão, mas reconhece que houve uma redução na demanda com a extensão do bloqueio promovido pela Petrobrás, que deveria ser sido suspenso em dezembro do ano passado, ao fim do prazo estipulado de dois anos, mas ainda segue em curso. “A nossa visão a é de que se punam os responsáveis, que a justiça seja feita, mas que as empresas que geram emprego operem”, diz Romano.
A Abemi tem aparecido um pouco menos nesse movimento Produz Brasil, mas como ela está vendo tudo isso em relação à quebra do conteúdo local?
A Abemi tem participado desde o início, fizemos apresentações para os ministérios em Brasília, para o Pedefor, temos participado igualmente às outras associações. Não com o mesmo destaque da Abimaq, que tem um poderio muito maior, mas temos participado desde o início.
Como a Abemi está se articulando para esse momento de regeneração após todo o processo da Lava Jato, que afetou a imagem das empresas de construção e montagem?
A Abemi mostrou que não tinha nada a ver com isso, com essa história. Houve algumas associadas que foram envolvidas, algumas se retiraram da Abemi, como a Camargo e a Techint, mas não houve nenhum envolvimento a associação, que está operando bem. Nós remodelamos a atuação dela e estamos operando satisfatoriamente, com um bom protagonismo, uma atuação técnica muito forte.
Mas algumas empresas afetadas fazem parte da Abemi, então deve haver algum trabalho de recuperação da autoestima dessas empresas e do setor de engenharia…
Não, não. Há uma distinção muito clara. A associação cuida do interesse dos associados e eles cuidam dos seus problemas. A Abemi não se envolve nas questões legais e jurídicas de seus associados.
Mas em relação à engenharia brasileira como um todo, como vê a recuperação da imagem e da autoestima dela depois disso tudo?
Eu não vejo perda da autoestima da engenharia. Pelo contrário. A engenharia tem um protagonismo ativo, tem participado bastante nos seus projetos. Houve no passado, com problemas de empresas associadas envolvidas, mas isso foi superado. Hoje não sinto nenhuma dificuldade. Pelo contrário, vemos uma proximidade muito grande inclusive com a Petrobrás, que é um cliente importante. Mas é bom lembrar que óleo e gás é apenas um segmento. A Abemi atua em mineração, metalurgia, papel e celulose, construção civil, entre outras.
Uma coisa que tem se falado nos últimos meses é sobre o vencimento do prazo de dois anos de bloqueio às empreiteiras, porém sem a liberação por parte da Petrobrás. Como vê isso?
Isso é uma questão que transcende a Abemi. É um fato. Essas grandes empresas brasileiras eram tomadoras de serviços significativos, principalmente das empresas que fazem somente engenharia. Então, a saída delas e a substituição em alguns casos por empresas estrangeiras obviamente trouxe uma redução da demanda.
A nossa visão a é de que se punam os responsáveis, que a justiça seja feita, mas que as empresas que geram emprego operem.
E qual a expectativa da Abemi nesse processo para retomada da economia e da engenharia?
Nós não concordamos com as questões de conteúdo local, mas as outras reformas são corretas. Em alguns segmentos já vínhamos sentindo algumas mudanças.
A divergência que temos sobre o conteúdo local é que temos uma visão que não convergiu com o que o governo propôs, por isso seguimos com o debate democrático sobre ela. Uma questão muito importante é a separação entre bens e serviços.