A China está se tornando cada vez mais relevante para os negócios da Petrobras. A estatal deve receber uma linha de crédito de US$ 5 bilhões do China Development Bank (CDB) para financiar seus projetos nos próximos anos. As duas empresas já assinaram um termo de compromisso, de acordo com uma fonte envolvida nas conversas. Com esse valor, o total emprestado pelos chineses deve praticamente dobrar em relação aos US$ 6 bilhões que a empresa brasileira tem hoje disponíveis.
Na terça-feira, a Petrobras anunciou a formação de uma aliança estratégica com a chinesa CNPC para buscar oportunidades em todos os segmentos da cadeia de óleo e gás. Conforme O GLOBO antecipou, faz parte dessa parceria a construção de uma refinaria no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), projeto que, segundo fontes, exige investimentos de US$ 3,5 bilhões a US$ 4 bilhões e deve gerar pelo menos dez mil empregos diretos.
CRÉDITO MAIOR QUE O DO BNDES
A cúpula da Petrobras passou os últimos dias em Pequim para alinhar os acordos com os chineses. De acordo com uma fonte que não quis se identificar, esse novo volume de US$ 5 bilhões deve ser usado a partir do ano que vem, com o objetivo de financiar os projetos futuros de investimento, dentro de seu Plano de Negócios, que deverá passar por revisão.
— A Petrobras vem conseguindo uma boa relação com os chineses, que querem investir cada vez mais no Brasil. A atual administração da companhia vem conseguindo mostrar melhora nos indicadores financeiros, e os chineses vêm elogiando a redução de custos que vem sendo feita no Campo de Libra, onde são sócios da Petrobras junto com outros acionistas (Total e Shell) — afirmou essa fonte.
Atualmente, a Petrobras já tem US$ 5 bilhões em financiamento com o CDB. Há ainda, com o China Exim Bank, outro US$ 1 bilhão em financiamento disponível para fornecimento de equipamentos e serviços já firmados com fornecedores chineses. Para se ter uma ideia do peso chinês, o sistema Petrobras tem com o BNDES uma linha de crédito de US$ 3,720 bilhões, dos quais US$ 2,8 bilhões ainda estão disponíveis.
Parte dos recursos asiáticos deve ser usada para as obras do Comperj, observa a fonte. No complexo, a licitação para a construção da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) está em andamento. O início das obras está previsto para o ano que vem, e o término, para 2020. Essa obra é estimada entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões. O Comperj como um todo consumiu mais de US$ 13 bilhões, já passou por diversas reformulações e foi um dos principais alvos de corrupção da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
VENDA FUTURA DE PETRÓLEO
Segundo fontes, a contrapartida exigida pelos chineses é uma maior participação em obras feitas pela estatal e a contratação de fornecedores do país asiático. Por exemplo, metade das oito plataformas próprias da Petrobras em construção está sendo feita por estaleiros chineses. É o caso da P-67, no estaleiro Cooec, além de P-77, P-70 e P-75, que estão no estaleiro Cosco. Já a P-69 tem o casco feito na China, mas será concluída em Angra dos Reis, no Rio.
— Os chineses são competitivos em seus preços e vêm conseguindo se destacar nas negociações. Além disso, parte das negociações envolve ainda a venda futura de petróleo, pois é uma garantia exigida pelos chineses. Serão 300 mil barris por dia até 2019, e cem mil barris diárias entre 2020 e 2026 — destacou uma fonte.
Procurada, a Petrobras disse que tomou um financiamento de U$$ 5 bilhões com o CDB em dezembro de 2016, mas não comentou sobre a nova linha.