A Agência Nacional do Petróleo (ANP) divulgou no início desta semana uma proposta que pretende ampliar ainda mais a quebra do conteúdo local. Com isso, voltou à tona o debate sobre o futuro da cadeia nacional de fornecedores, nesse cenário de menores índices obrigatórios de produtos e serviços locais. A gerente de Petróleo, Gás e Naval do Sistema Firjan, Karine Fragoso, afirmou que a entidade ainda está estudando as alterações propostas pela ANP, mas diz que o debate precisa ir além disso. Na opinião da executiva, é necessária uma política de estado que coordene diversas ações com o objetivo de tornar as empresas brasileiras mais competitivas. “O conteúdo local precisa ser acompanhado de incentivos e instrumentos de política pública que criem condições para que esses percentuais sejam alcançados“, explicou.
Recentemente, a Firjan lançou um anuário com os detalhes sobre o momento da indústria de óleo e gás no Rio de Janeiro. Uma das conclusões do estudo é sobre a dinamização de áreas da Bacia de Campos. “Há necessidade de se pensar em novos modelos de negócio para estimular o fator de recuperação dessas áreas, criando condições para que empresas de distintos portes possam participar desse mercado“, disse. Karine também afirmou que o Rio pode movimentar até US$ 200 bilhões em despesas operacionais (OPEX) nos próximos cinco anos dentro do setor de óleo e gás.
De que forma as mudanças no conteúdo local anunciadas pela ANP vão impactar a indústria local de fornecedores?
O material é muito extenso e nós estamos lendo e estudando internamente. Percebemos que existem muitas questões que precisam ser estudadas com profundidade. Não é uma mudança de poucos graus. Precisamos de um estudo delicado e aprofundado. Então, nesse momento, estamos avaliando todo esse conteúdo apresentado pela ANP. Sabemos que não é um assunto simples. É complexo dada a constante alteração que a cláusula em si vem sofrendo ao longo do tempo.
Mas o que nos atentamos é para o objetivo final da inserção da cláusula de conteúdo local no contrato, que é a maior participação da indústria nacional nas demandas do mercado de petróleo e gás do país. Infelizmente, não temos uma política industrial coordenada que possibilite e viabilize essa maior inserção. O Brasil tem empresas de diferentes portes com competência, capacidade e competitividade atraentes para participar do mercado. Porém, as condições de ambiente de negócios não viabiliza a maior participação dessa indústria. Então, o dever de casa não é só das empresas, mas de todos no Brasil. Dessa forma, é necessário uma política de estado com instrumentos bem coordenados, para que seja possível aumentar a participação da nossa indústria.
As empresas nacionais estão prontas para atender as demandas?
Existem demandas nesse mercado e temos um potencial enorme. Precisamos ser um país de indústria forte. E, para isso, é preciso uma política baseada em pesquisa, inovação e tecnologia. O mundo todo está sofrendo com a crise, mas vemos alguns sinais de retomada. O país precisa dar condição de competitividade e uma promover uma série de reformas para chegar a esse objetivo. Não é apenas um percentual escrito no papel que vai definir a maior participação da indústria. O conteúdo local precisa ser acompanhado de incentivos e instrumentos de política pública que criem condições para que esses percentuais sejam alcançados.
Quais as principais conclusões da nova edição do Anuário da Indústria de Óleo e Gás do Rio de Janeiro?
Uma delas é que o ambiente atual está sendo construído através de fusões e aquisições. De um lado, temos uma readequação do mercado como todo. Do outro, agendas regulatórias estão caminhando, como a definição do calendário de leilões. Outra conclusão é que ainda existem muitas pautas a serem tratadas, como uma maior dinamização das áreas do pós-sal e das áreas mais maduras da Bacia de Campos. Há necessidade de se pensar em novos modelos de negócio para estimular o fator de recuperação dessas áreas, criando condições para que empresas de distintos portes possam participar desse mercado.
Quais são as perspectivas para o mercado de óleo e gás no estado?
Durante o período de levantamento do anuário, percebemos a recuperação dos valores de produção atrelado ao valor do barril e também a recuperação dos royalties arrecadados pelo estado. Existe um potencial de fechar 2017 com uma arrecadação maior do que a do ano passado. Só nesse primeiro quadrimestre, o Rio já recebeu 70% do valor total do ano passado. Temos ainda o impacto de Libra sobre o Rio de Janeiro. A expectativa é de que o projeto consiga deslanchar e trazer benefícios para o estado. Nós prevemos cerca de US$ 200 bilhões em OPEX nos próximos cinco anos na área de petróleo e gás do Rio de Janeiro.
Que desafios devem ser superados pela indústria de óleo e gás do Rio de Janeiro?
O que nós entendemos é que um dos principais desafios é dinamizar as áreas de Bacia de Campos. As áreas maduras necessitam de investimentos. Precisamos retomar o investimento nessas regiões, além de destravar os projetos de contratação para os investimentos para grandes áreas, como Libra, Sépia e Cessão Onerosa. Atrelado a isso também, existe a questão do abastecimento – a Petrobras precisa identificar uma solução para retomada do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Os números de produção de derivados no mercado nacional precisam subir. A demanda por esses produtos vem aumentando e tende a continuar crescendo. Teremos um déficit no futuro se o país não cuidar da sua capacidade de refino.
Como a crise econômica do estado está afetando esse mercado?
Da mesma forma que afeta nossa vida particular. Deixamos de comprar novos itens e passamos a consertar o que temos. A crise traz insegurança e uma série de incertezas que não permitem a tomada de decisões.