A possibilidade de uma fusão/aquisição entre a Keppel Corporation (Keppel) e a Sembcorp Industries (SCI) voltou a ganhar força em função das últimas mudanças no mercado offshore e no quadro de diretores dos grupos. A avaliação é do Banco de Desenvolvimento de Cingapura, o DSB Bank, que considera o momento propício para os estaleiros locais se reestruturarem e reposicionarem no mercado mundial.
Em relatório publicado na última semana, o banco projeta três cenários nesse sentido: o primeiro deles prevê a combinação das principais competências e instalações de classe mundial dos grupos, o que daria, no entendimento do banco, origem a um player “gigante”, ainda mais forte e competitivo na área de construção de plataformas no longo prazo.
A fusão entre a Keppel O&M e a Sembcorp Marine (SMI) poderia, no entanto, esbarrar na resistência de acionistas, bem como em questões relacionadas ao processo de integração e a uma eventual falta de sinergias em termos de receita.
O segundo considera a venda da Sembcorp Marine (SMM) para a Keppel, para a Temasek ou a ST Engineering. A operação seria, na avaliação do DSB, benéfica para os acionistas da SCI, que poderia, com isso, focar em seu core business ao longo da cadeia produtiva.
Nesse caso, os obstáculos seriam a resistência ao downsize da empresa e, novamente, possíveis dificuldades para viabilizar a integração dos negócios.
O DSB acredita ainda que a Keppel poderia se manter como conglomerado, mas trocar seus ativos de infraestrutura – avaliados em torno de US$ 950 milhões – pela participação da SCI na SMM, numa operação de swap.
Além da resistência ao downsize da companhia e da viabilidade de integração dos negócios, esse último movimento poderia ser travado pelo temor de acionistas da Keppel quanto ao aumento da exposição ao segmento de O&M (Offshore and Marine).
A instituição recomenda a compra de ações das empresas diante de uma potencial fusão/aquisição e da expectativa de um melhor fluxo de encomendas, à medida que os estaleiros diversificam seu portifólio com projetos de GNL, e da expectativa de recuperação dos preços de petróleo.
Racionalização
O DSB lembra que a ideia de fundir os negócios da Keppel e da SCI chegou a ser formalmente discutida em outubro de 2001, quando os grupos divulgaram uma declaração conjunta informando que estavam negociando uma racionalização da indústria naval local, com uma possível colaboração entre as partes.
No entanto, as discussões foram encerradas porque as diretorias dos grupos não conseguiram chegar a um acordo quanto aos termos finais da parceria. Na sequência, o segmento offshore decolou, e as empresas aproveitaram a conjuntura para expandir seus negócios no mundo.
No início de maio deste ano – após a indicação do novo CEO, Neil McGregor –, a SCI indicou que faria uma revisão completa de seus negócios e direcionamento estratégico, fazendo reviver especulações quanto a uma possível combinação entre os negócios da SCI, SMM e Keppel.
Naval e offshore
Para o DSB, outro fator que sustenta a hipótese de fusão/aquisição entre os grupos cingapurianos é o movimento de consolidação da indústria de construção naval global. Na China, há rumores quanto a uma combinação entre os negócios da China Shipbuilding Industry Corporation (CSIC) e China State Shipbuilding Corporation (CSSC).
No ano passado, Yoon Jeung-Hyun, ex-ministro de Estratégia e Finanças da Coreia do Sul – outro importante player mundial na construção naval e offshore – sugeriu que os três grandes estaleiros do país – Hyundai Heavy Industries (HHI), Samsung Heavy Industries (SHI) and Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering (DSME) – considerassem uma fusão.
Para o banco de desenvolvimento de Cingapura, a consolidação dos negócios da Keppel O&M e da SMM aumentaria a competitividade das empresas na construção naval e offshore, tendo em vista sua baixa margem de lucro em meio ao nível presente de atividade na área (de 50% a 60% menor que o pico há alguns anos) e seu ritmo moderado de recuperação.
Brasil
Tanto a Keppel quanto a SCI possuem empreendimentos no Brasil. A primeira é dona do estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis (RJ), onde foram construídas plataformas recentemente instaladas no pré-sal da Bacia de Santos, como o FPSO Cidade de Caraguatatuba e o primeiro FPSO Replicante, a P-66, que começou a produzir no campo de Lula este ano.
Hoje o estaleiro trabalha na integração dos módulos do FPSO Cidade dos Campos de Goytacazes, afretado pela Petrobras à Modec para produzir no campo de Tartaruga Verde, na Bacia de Santos, e da P-69, outro FPSO replicante da estatal brasileira.
O Brasfes fechou, em 2012, contrato com a Petrobras para construir seis navios-sonda da Sete Brasil, mas as obras foram paralisadas depois que o armador interrompeu os pagamentos ao estaleiro.
O mesmo aconteceu com o Jurong, estaleiro da Sembcorp Marine no município de Aracruz (ES). que fechou contratos para construir cinco sondas da Sete. No local estão sendo tocadas as obras de integração dos módulos do FPSO replicante P-68. Já o início dos trabalhos no topside da P-71 ainda é incerto, uma vez que a Petrobras desconsiderou essa plataforma para o desenvolvimento da curva de produção até 2021.
A SMI também foi responsável pela conversão do casco do FPSO Pioneiro de Libra, que fará o Teste de Longa Duração na área da descoberta no cluster do pré-sal.