O setor de óleo e gás já dá sinais de melhora, mas ainda está longe de viver uma grande retomada de negócios na visão do líder da comissão de óleo e gás da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Marcelo Campos. “Ainda não estamos no chamado ‘tempo ótimo’. A partir de 2019, com as contratações de novas UEPs, talvez possamos ver o nível de atividade aumentando. E 2020 pode ser o ano de retomada definitiva”, afirmou o executivo. Enquanto o mercado de óleo e gás ainda está se aquecendo, outra área vem despertando bastante interesse – a de defesa. “Este mercado é muito sólido e constante. Embora o Brasil venha dilapidando seu patrimônio militar ao longo dos últimos anos, o sucateamento gerou deficiências de defesa. E as forças armadas começaram a sinalizar isso para o governo”, explicou. Campos diz que, por conta disso, a Abimaq planeja criar um segmento focado apenas no setor de defesa. O executivo é diretor geral da empresa Roxtec e revela que a companhia também tem bons olhos para este segmento. “No projeto dos submarinos, por exemplo, fizemos fornecimento de nossas soluções. Estamos trabalhando ativamente com o Departamento de Engenharia Naval da Marinha”, concluiu.
Quais são as suas perspectivas para o mercado de óleo e gás, do ponto de vista da Abimaq?
O Brasil teve a retomada dos leilões, com resultados expressivos de aquisição de campos pelas empresas estrangeiras, com a diversificação do portfólio de clientes que o mercado pode ter. Apesar disto, a indústria de fornecimento ainda não vê 2018 como o ano da retomada. Até porque se você olhar, a própria Abespetro cita em seu plano estratégico que as operadoras pretendem transformar 10 anos em 4. O tempo do primeiro óleo ainda é longo no Brasil. Quando as empresas chegam ao primeiro óleo, já adquiriram todos os equipamentos e unidades estacionárias de produção (UEP). Uma vez que tivemos o leilão no ano passado, a Abimaq não vê o ano de 2018 como o da retomada. Ainda não estamos no chamado “tempo ótimo”. A partir de 2019, com as contratações de novas UEPs, talvez possamos ver o nível de atividade aumentando. E 2020 pode ser o ano de retomada definitiva.
Como avalia a questão da discussão do conteúdo local?
Do ponto de vista da indústria, o conteúdo local estabelecido em 40% é plenamente factível. Ele não deve ser visto como item de protecionismo e sim uma forma de tratar os mercados interno e externo com isonomia. Tivemos recentemente um projeto da P-74, com índice próximo dos 50%. A P-76 foi feita na Technit, com 60% de conteúdo local inédito. Os índices hoje estabelecidos são plenamente factíveis. A indústria espera que essa questão de conteúdo local fique no passado. E a partir de então, que o País passe a falar de competitividade. O Brasil não pode viver de conteúdo local. A indústria não quer isso – muito pelo contrário. Hoje, por conta do Custo Brasil, não temos como competir em condições iguais e o conteúdo local veio para dar essa questão igualitária para competir com o exterior.
Que fatores prejudicam a competitividade brasileira?
Os estaleiros da China e Singapura, com a ausência de encomendas, estão abaixando os preços. Todos esses países, inclusive, estão com o câmbio desvalorizado. Nosso câmbio ainda não está no lugar, ele está sobrevalorizado e apreciado em relação ao dólar. Na outra ponta, nossos concorrentes internacionais todos desvalorizaram o câmbio. Então, é uma plena guerra cambial em andamento. Desta forma, somado ao fato que estes países tem incentivos de seus respectivos governos e preços de mão de obra menores, fica impossível de competir. Por isso, ao meu ver, o conteúdo local vem para blindar esse efeito negativo. Do contrário, desmobiliza o parque nacional inteiro que foi construído para atender a demanda apresentada pela Petrobrás. Não vejo como desenvolver o mercado de óleo e gás sem uma base industrial instalada aqui.
Por quê?
Mesmo que você compre os equipamentos no exterior, eles vão operar aqui. As UEPs, por exemplo, vão operar por 20 anos. E por isso, elas vão precisar de um fornecedor local de equipamentos. Se o País comprar tudo no exterior, como ele vai operacionalizar as demandas de OPEX? Então, salutar que o Brasil mantenha um nível mínimo da base instalada aqui até por conta da garantia de operacionalidade das plataformas.
E a cadeia nacional demonstra ter plena capacidade de atender às demandas?
Fica evidente que a indústria brasileira é extremamente diversificada. Tem capacidade tecnológica e mão de obra. A nossa indústria tem certas vocações. Até o conteúdo local está em linha com isso, com as vocações que a nossa indústria brasileira tem. Alguns equipamentos, até por conta da demanda local, não precisam ser feitos no Brasil. Isso é plenamente compreensível. A cadeia nacional não quer 100% de conteúdo local, porque isso não é factível. É importante deixar claro que esse viés de quem rebate o conteúdo local alegando protecionismo e reserva de mercado é um discurso passado. Existem muitos entes desse mercado que não tem compromisso nenhum com a sociedade. A indústria na verdade vem para confrontar esse status quo.
O petróleo é uma riqueza finita. Tivemos a sorte de encontrar o pré-sal e precisamos deixar o legado para a sociedade do que está sendo extraído. Do contrário, o país está se tornando um mero exportador de commodities. Queremos um país desenvolvido, com tecnologia, e os recursos precisam ser investidos aqui. Não temos nenhum direcionamento político, queremos apenas o desenvolvimento. A despeito de alguns entes do mercado dizerem que o conteúdo local é uma questão ideológica. Um país não deixa de ser pobre só pelo fato de ter muito petróleo. A Nigéria e a Angola são exemplos. Precisamos ter isso em mente. E para não ter pobreza no Brasil, precisamos gerar empregos e qualificar a população. Estávamos fazendo isso muito bem nos últimos 12 anos. Essa guinada precisa ser combatida e, dentro desse contexto, a Abimaq desempenha papel fundamental para contrapor os entes que afirmam que basta explorar o petróleo para gerar emprego e renda. Isso é uma falácia e um desrespeito com a sociedade.
E qual sua expectativa em relação ao mercado de descomissionamento?
É algo muito novo para nós. O descomissionamento é novo e carece de regulamentação. Existem uma série de perspectivas que ainda estão em estudo. Embora seja um mercado interessante, as UEPs – junto com refinarias e infraestrutura de midstream – continuam sendo o grande filão de investimentos em óleo e gás. O descomissionamento é uma cereja no bolo.
Quais os próximos passos da Abimaq?
A associação está planejando criar um segmento de defesa. Este mercado é muito sólido e constante. Embora o Brasil venha dilapidando seu patrimônio militar, o sucateamento gerou deficiências de defesa. E as forças armadas começaram a sinalizar isso para o governo.
Os caças Gripen, por exemplo, já foram comprados. O projeto dos submarinos tem sido um sucesso. O lançamento das quatro corvetas Tamandaré tem sido um sucesso até o momento, com 22 players internacionais e nacionais. Tem ainda os 28 navios patrulha de 500 toneladas que é outra prova de que o reaparelhamento, além de extremamente necessário para garantir a operacionalidade tática ao Brasil, também gera um grande rol de encomendas. A nossa indústria sempre foi muito capacitada para fornecer para esse setor. Já existe uma capacidade tecnológica pronta, a mesma que está disponível para o naval e offshore.
Falando um pouco também da Roxtec, a empresa tem projetos nessa área militar?
A companhia atua em sete verticais de negócios no Brasil, uma delas é a naval, offshore e militar. O projeto dos submarinos, por exemplo, fizemos fornecimento de nossas soluções. Estamos trabalhando ativamente com o Departamento de Engenharia Naval da Marinha. As nossas soluções vão nas anteparas de tanques do submarino. Cuidamos da passagem de cabos e tubos destas anteparas.
E quais os demais projetos em andamento da empresa?
Estamos com participação em térmicas à gás, nos FPSOs em construção (Libra e Mero 1), estamos em negociação para fornecimento. Em barcos de apoio, também tivemos fornecimento. Possuímos uma relação muito próxima a este mercado naval/offshore. Nossos fornecimentos são quase que mensais.
E quais os planos de crescimento da Roxtec para o médio prazo?
Em linha com os investimentos que o Brasil vai fazer em infraestrutura, tanto em tecnologia como em geração, transmissão e distribuição de energia, estamos investindo muito no segmento de data center, no setor de telecomunicações, na área de geração de energia eólica, solar e térmica. Estamos também em transmissão de energia com subestações e na distribuição de energia com a última milha, as vedações das distribuidoras, chamadas de underground, que são subterrâneas. Outro mercado que vemos com bons olhos é o de ferrovias.