Desde maio no comando da deficitária área de abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza prevê que a oferta menor que a demanda por combustíveis no Brasil só vai se encerrar quando todas as novas refinarias da estatal ficarem prontas, o que deverá acontecer entre 2020 e 2022. Até lá, a Petrobras estará sempre “correndo atrás do mercado”. A estatal ainda tem um pequeno espaço para aumentar a produção de derivados até meados deste ano. Depois disso, explica, só com as novas refinarias. As primeiras deverão ser a Refinaria do Nordeste ou Abreu e Lima (PE) e a fase inicial do Comperj (RJ).
A refinaria de Pernambuco deve começar a processar os 230 mil barris de capacidade inicial entre novembro de 2014 e maio de 2015, e a do Comperj, com 165 mil barris/dia, em abril de 2015. Com o início de operação das duas unidades, a capacidade de refino aumentará para cerca de 2,4 milhões de barris diários. A estatal projeta que o consumo de derivados no país estará entre 3,2 milhões e 3,4 milhões de barris por dia em 2020, ainda menor que a oferta de combustíveis.
“Hoje estamos defasados em 250 mil a 300 mil barris”, diz. Isso ocorrerá até que sejam construídas as refinarias Premium I (600 mil barris/dia, no Maranhão), a Premium II (300 mil barris, no Ceará) e a segunda etapa do Comperj (300 mil barris). Somente quando todas estiverem prontas a capacidade de processamento chegará a 3,6 milhões de barris. A diretoria anterior da Petrobras previa o fim do déficit, em volume, para 2017.
Sobre os resultados da área em 2013, Cosenza afirma que o déficit continuará sendo de 300 mil barris/dia, sendo as importações de diesel responsáveis pela maior parte (190 mil barris), seguidas pelas de gasolina (110 mil barris). Nem mesmo o aumento da mistura do álcool à gasolina, de 20% para 25%, fará grande diferença. A previsão é reduzir em 25 mil a 30 mil barris/dia a necessidade de importação de gasolina.
No comando da área de Abastecimento da Petrobras, responsável por um prejuízo de R$ 22,9 bilhões, superior ao lucro de R$ 21,18 bilhões da estatal em 2012, o gaúcho José Carlos Cosenza prevê que a empresa continuará tendo déficit de 300 mil barris de derivados por dia algum tempo. Em entrevista ao Valor, Cosenza explica que a oferta menor que a demanda por combustíveis só se encerrará quando todas as novas refinarias da companhia ficarem prontas. A data estimada é 2020-2022. Até lá, a Petrobras vai sempre “correr atrás do mercado”, nas palavras do diretor.
A estatal ainda tem um pequeno espaço para aumentar a produção de derivados até meados deste ano. Depois disso, explica Cosenza, só com as novas refinarias. As primeiras são a Refinaria do Nordeste ou Abreu e Lima (em Pernambuco) e o primeiro estágio do Comperj (no Rio). A unidade de Pernambuco começa a processar os 230 mil barris da capacidade inicial entre novembro de 2014 e maio de 2015.
Já o início de operação da refinaria do Comperj, com 165 mil barris ao dia, está previsto para abril de 2015. Este ano, a estatal obteve licença ambiental permitindo começar as desapropriações e a construção de um píer na Praia da Beira (São Gonçalo) e uma estrada de 18 quilômetros. Esta levará até o local da obra equipamentos gigantescos, inclusive a unidade de hidrocraqueamento catalítico (HCC), única do país e que pesa mais de mil toneladas. A estrada ficará pronta em outubro de 2014.
Juntas, a Rnest e a primeira fase da refinaria do Comperj vão processar 395 mil barris ao dia, elevando a capacidade de refino da estatal para cerca de 2,4 milhões de barris diários. Mesmo assim, será insuficiente para acompanhar a expansão do mercado brasileiro. A estatal prevê que o consumo de derivados no país ficará entre 3,2 e 3,4 milhões em 2020, ainda maior que a oferta total.
“Nós estamos sempre correndo atrás do mercado. Hoje, estamos correndo entre 250 mil e 300 mil barris por dia e vamos continuar correndo atrás. Só vamos empatar com o mercado lá por 2020-2022, com todo esse investimento”, afirma Cosenza.
Nem mesmo o aumento da mistura do álcool na gasolina, de 20% para 25%, fará grande diferença. A previsão é de reduzira necessidade de importar gasolina em 25 mil a 30 mil barris ao dia. “Esse é o nosso déficit, que só vamos encerrar com refino novo. O mercado cresce”, lembra.
Para 2013 estão previstas importações de diesel de 190 mil barris diários e de 110 mil barris ao dia de gasolina.
A produção de combustíveis no Brasil continuará inferior ao consumo até que sejam
construídas as refinarias Premium I (600 mil barris por dia, no Maranhão), a Premium II (300 mil barris, no Ceará), e a segunda refinaria do Comperj, que terá ainda uma petroquímica ainda em avaliação.
A Comperj II terá capacidade de processamento quase dobrada. Ao invés de 165 mil barris por dia, o novo projeto prevê o processamento diário de 300 mil barris de petróleo do pré-sal. O propósito da ampliação, segundo Cosenza, é aumentar os ganhos de escala, já que o custo unitário por barril era quase igual ao do projeto anterior. “Escala é vital”, ressalta. Somente quando todas as refinarias estiveram prontas a capacidade de processamento chegará a 3,6 milhões de barris diários, em 2020.
Todavia os 1,2 milhão de barris adicionais que terão ainda estão sob a rubrica “em avaliação” no atual plano estratégico da companhia, que garante apenas a conclusão de investimentos de US$ 208,7 bilhões. Os US$ 27,8 bilhões restantes elevam os investimentos para US$ 236,5 bilhões e incluem projetos em fase inicial, entre eles as novas refinarias. A diretoria anterior da estatal previa o fim dos déficits – pelo menos em volume – em 2017.
Quando divulgou o plano de negócios 2012-2016 no ano passado, a presidente da Petrobras, Graça Foster, informou que as novas refinarias e outros projetos só sairão do papel quando tiverem viabilidade econômica comprovada e o alinhamento dos custos com as métricas internacionais. O que ainda não existe, já que a Petrobras continua subsidiando o preço do diesel e da gasolina, afetando os resultados da companhia. Cosenza evitou comentar esse tema. Repetiu o que Graça já disse: a Petrobras busca sócios para as novas refinarias.
O diretor de abastecimento fala com desenvoltura sobre a parte que lhe cabe na gestão da Petrobras, mas evita temas como preços do petróleo (as cotações são internacionais), câmbio e o reajuste dos preços internos. A Petrobras perde quando o petróleo fica muito caro, mas ganha no cenário inverso, quando o tipo Brent [cotado na Bolsa de Londres] fica barato, o que só ocorreu de forma relevante durante a crise de 2008.
“Isso é a macroeconomia. O que nós [empresa] temos obrigação de fazer é, primeiro, um trabalho forte de gestão e de redução de custo, como os programas de aumento de eficiência na logística e produção, gerando espaço para os investimentos”, afirmou. A Petrobras conseguiu reduzir, em parte, importações de derivados em 2012 com a otimização das refinarias. Pelos cálculos do diretor de Abastecimento, a economia no ano foi de R$ 432,4 milhões aumentando em 101 mil barris por dia a produção de derivados, principalmente diesel e gasolina. O valor representa praticamente uma nova refinaria, a custo zero. A conta é resultado de economia de US$ 6 em cada barril adicional de derivados processado no país, já descontado o custo com petróleo importado (mais caro) usado no processo.
Cosenza observa que a Petrobras poderia ter importado 400 mil barris por dia de derivados e não os 300 mil barris contabilizados, se não tivesse “estressado” as próprias refinarias. Isso foi verificado em agosto quando a companhia bateu recorde de processamento ao produzir 2,1 milhões de barris diários de combustíveis. “Usamos a infraestrutura existente. Conseguimos aumentar a produção de derivados e reduzir nossa balança de importações”, disse o executivo. “Esses 100 mil barris por dia que agregamos nos últimos oito meses são fruto de gestão e do estresse de ativos. Mas não adianta se não tivermos gestão e logística adequada. Temos colhido os resultados”.
O esforço para otimização envolve aumento da integração entre as áreas comercial, de logística e refino. Para quem teme que a utilização máxima das refinarias possa colocar em risco as instalações, o diretor diz que a manutenção “é premissa” para manter esses níveis de produção.
“Tenho metas de processamento com duas componentes importantes. Uma é a continuidade, pois não adianta chegar a 2,1 milhões de barris e dois meses depois baixar a produção para 800 mil barris por falta de manutenção. A outra é o respeito às condições de segurança das instalações e pessoais, sem esquecer o meio ambiente”.
Há 37 anos na Petrobras, onde começou como estagiário na Refap (Rio Grande do Sul), o engenheiro químico Cosenza fala como um operador de refinarias, onde passou grande parte da carreira tanto no Brasil quanto no exterior. Depois de 19 anos na Refap ele passou pela Repar (Paraná) e Replan (Paulínia). Foi presidente da Petrobras na Argentina e Uruguai. Nos Estados Unidos, ficou encarregado de modernizar a refinaria de Pasadena, no Texas.
O executivo voltou ao Brasil em 2008 para assumir a gerência executiva de Abastecimento, de onde saiu para ocupar a diretoria responsável pelo abastecimento e refino na gestão de Graça Foster, em maio do ano passado. Cosenza fez mudanças nos quadros executivos da área. Pelas suas contas, foram 30 substituições entre 2008 e 2012. Logo que chegou dos Estados Unidos, trocou quatro gerentes gerais das refinarias. Acha que ninguém deve ficar mais de quatro anos no cargo. E, como diretor, mudou titulares de cargos operacionais e dez de gerentes gerais da sede. Seu substituto, Cláudio Romeo Schlosser, realizou outras cinco substituições. “Foi um rodízio para adequação de perfil”, diz Cosenza.