O Rio Grande do Sul concentra esforços em torno de um objetivo ambicioso: o desenvolvimento de uma complexa indústria oceânica, envolvendo grandes estaleiros para construção de embarcações, cascos e plataformas de petróleo, inicialmente na área do Porto Rio Grande, no extremo Sul do Estado, mais recentemente no município de São José do Norte, em frente ao superporto e, agora, em Charqueadas, às margens do rio Jacuí, na Grande Porto Alegre.
Tudo em sintonia com fabricantes de equipamentos para o setor de petróleo e gás, que também pretendem aproveitar os volumosos investimentos previstos pela Petrobras, em torno de US$ 236 bilhões nos próximos quatro anos, prioritariamente, para exploração e produção de petróleo e gás natural.
O movimento é acelerado. Num terreno de 360 mil m2, próximo a Charqueadas, a IESA Óleo&Gás ergue sua planta para fabricação e montagem dos módulos de compressão de gás que serão instalados nas primeiras seis plataformas de exploração das jazidas do pré-sal. É parte do contrato da IESA com a Petrobras, de US$ 720 milhões, mas que pode chegar a US$ 911 milhões, com fornecimentos adicionais.
A IESA está gastando R$ 80 milhões na obra, que deverá estar pronta em março para o início de fabricação das estruturas metálicas. “O canteiro deverá ter aproximadamente 1,6 mil pessoas, mas já recebemos mais de 4,5 mil currículos de profissionais de várias regiões interessados em trabalhar no polo de Jacuí”, diz João Alves de Oliveira, gerente de construção da empresa.
Mão de obra abundante e qualificada e boas condições geográficas favorecem a atração de investimentos para a criação de novos polos, avalia Aloísio Nóbrega, vice-presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI). “A estratégia para consolidação da indústria offshore é apostar na ampliação de localização geográfica da indústria oceânica, espalhando o conceito para outros pontos da Bacia Hidrográfica Sul, ligada à Lagoa dos Patos, mitigando os impactos ambientais e urbanos”, explica.
Uma das primeiras providências, segundo Nóbrega, é o desdobramento do complexo portuário em Rio Grande para o vizinho município de São José do Norte, que possui canal com calado acima de 14 metros e uma área ainda não explorada.
O Estaleiros do Brasil (EBR), associado ao grupo japonês Toyo Engineering Corporation, está prestes a ser declarado vencedor de uma licitação para construção de duas plataformas para a Petrobras – contratos estimados em US$ 1,3 bilhão – e deve investir R$ 1,2 bilhão na construção em São José do Norte de uma planta de 1,5 milhão de metros quadrados, um dique seco e dois pórticos, que, juntos, poderão içar 1,6 mil toneladas. Terá seis mil empregados.
“O superporto de Rio Grande já está congestionado e toda a área está saturada por investimentos públicos e privados”, diz Nóbrega. De fato, no momento, quatro estaleiros ocupam a região de Rio Grande: a Quip, atualmente com três plataformas em construção, a Queiroz Galvão, com contratos de US$ 1,3 bilhão para uma plataforma, a Ecovix, com dois estaleiros para cascos do pré-sal e navios sondas, contratos no total de US$ 5,4 bilhões. A Wilson Sons, que vai construir um estaleiro semelhante ao que tem em Guarujá (SP), para produzir e restaurar embarcações de apoio à exploração de petróleo e gás, como rebocadores e navios de médio porte. Seu investimento numa área de 120 mil metros quadrados será de R$ 259 milhões.