A Petrobras vem discutindo formas de fortalecer as empresas nacionais de engenharia. As empresas querem participar, em maior volume, da elaboração de projetos da indústria de petróleo e gás como refinarias e plataformas. Esses projetos são realizados, em grande parte, pela própria estatal. Nas negociações, as empresas cobram da Petrobras maior previsibilidade em relação a novos projetos.
A companhia, apesar de reconhecer a importância de que todos os projetos de engenharia sejam feitos no Brasil, mostra-se cautelosa em contratar em maior escala, como querem as empresas, projetos básicos com o setor privado. O projeto básico é uma das etapas que antecedem à construção dos empreendimentos. A estatal, que passa por fase de ajustes, quer que projetos de refino e de plataformas sejam feitos dentro de métricas internacionais, com o menor custo possível.
A prioridade da Petrobras é concluir obras em andamento, como as refinarias Abreu e Lima (Rnest) e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), além da construção de oito plataformas idênticas e de outras quatro unidades para atender a cessão onerosa, no pré-sal. Esse é outro problema para as empresas de engenharia uma vez que não há novos projetos em perspectiva a curto prazo. “Não se faz mais projeto a qualquer custo, tem que ser compatível com o que o mundo pratica”, disse Marcos Assayag, gerente-executivo do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras. Ele afirmou que a Petrobras vem trabalhando junto com a ABCE pelo fortalecimento da engenharia nacional.
Assayag afirmou que um dos pontos centrais do debate está em garantir a ocupação de profissionais nas empresas de engenharia. Esse é um dos pleitos da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE). Mauro Viegas Filho, presidente da ABCE, disse que o desafio é encontrar fórmula que permita às partes chegar ao entendimento. Rodrigo Sigaud, vice-presidente da ABCE, afirmou que a entidade entende que uma das formas de fortalecer a engenharia nacional é permitir que as empresas façam projetos mais nobres e participem de um maior volume de projetos básicos na área de óleo e gás, como fazem em outros setores, como o de mineração. A ABCE reúne mais de 100 empresas.
Assayag reconheceu, porém, que não é simples repassar para as empresas nacionais a execução de projetos básicos nas áreas de refino e de exploração e produção (E&P), embora afirme que nem todo projeto básico é realizado no Cenpes. Citou como exemplo os projetos das plataformas da cessão onerosa em que o Cenpes fez parte do projeto básico e outra parte foi realizada pela empresa Chemtec.
A estratégia da Petrobras é fazer parte do projeto básico no Cenpes e contratar empresas para fazer o detalhamento do projeto nas instalações das próprias companhias. “A nossa opção para fortalecer a engenharia nacional é realizar [no Cenpes] um escopo de projeto básico mais reduzido e, com uma definição clara de escopo, contratar o FEED [o pré-detalhamento, no mercado]. Concordamos que para unidades periféricas [de refino], o projeto básico pode ser passado, a título experimental, para a engenharia nacional”, afirmou.
Assayag disse que, na exploração e produção, a dinâmica de um projeto básico de um navio-plataforma de produção (conhecido em inglês pela sigla FPSO) é diferente do refino. No E&P, o trabalho costuma começar com dados incipientes que são usados em estudos ou pré-projetos e que posteriormente se transformam em projetos básicos.
“Dependendo do modelo de negócio (considerando, por exemplo, a existência de parceiros nas operações dos campos petrolíferos), tais estudos não podem ser compartilhados com empresas externas”, disse Assayag. E acrescentou: “Tão logo o escopo de trabalho esteja completamente definido, as empresas de engenharia poderão atuar no desenvolvimento do FEED (um projeto básico estendido de engenharia)”, afirmou.