Os donos da Orteng, empresa mineira de sistemas de engenharia e automação, que concorre com a catarinense WEG e com multinacionais como a Siemens e Alstom, querem vender parte da companhia para um sócio estratégico ou para um fundo.
Os contatos com potenciais investidores já começaram a ser feitos por meio de um banco estrangeiro. A decisão dos acionistas é manter o controle da companhia. “A participação de um sócio estratégico ou de um fundo certamente fará com que a empresa alcance mais rapidamente esse crescimento que nós planejamos, tanto do ponto de vista do faturamento quanto do ponto de vista de novas tecnologias”, disse ao Valor Robson Andrade, um dos donos do grupo e também presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Além da busca por um investidor, os acionistas preparam outro movimento: um aumento de capital que será aportado entre agosto e novembro. O valor ainda não está fechado, mas, segundo Andrade, será entre R$ 85 milhões e R$ 100 milhões. Parte desses recursos servirá para abater financiamentos com custos mais elevados – a dívida total está na casa dos R$ 300 milhões, o que representa 2,9 vezes o Ebitda – e parte para dar gás ao desenvolvimento de novas tecnologias de produtos e serviços.
O grupo, que tem sede em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, produz equipamentos elétricos e eletrônicos, como painéis de controle e proteção e subestações elétricas, além de desenvolver projetos de engenharia, tendo como clientes empresas elétricas, mineradoras e de óleo e gás.
Formada por seis empresas, a Orteng deve fechar o ano com um faturamento de R$ 588 milhões e lucro antes juros, investimentos, depreciação e amortização (Ebitda na sigla em inglês) de R$ 83 milhões. A perspectiva é chegar a R$ 1,5 bilhão em 2016, de acordo com a projeção dos empresários. É uma meta ambiciosa, mas Andrade traça um cenário favorável a despeito das incertezas sobre o desempenho da economia neste e nos próximos anos e das críticas do setor elétrico após as mudanças nas regras promovidas pelo governo no ano passado.
“Quando a gente olha só para a área de infraestrutura. Quanto o Brasil precisa investir nos próximos dez anos? Tem gente que fala em R$ 600 bilhões outros chegam a R$ 1,5 trilhão, dependendo se incluir ou não a Petrobras. Esse é o mercado que nós atuamos. Esses investimentos futuros do Brasil em petróleo e gás, mineração, rodovia, ferrovia, aeroporto, porto, energia elétrica, telecomunicações são todos setores em que atuamos, e atuamos com competência. Não há muitas empresas com a tecnologia que nós temos, especialmente se olharmos só as empresas brasileiras. Isso faz a nossa perspectiva de crescimento.”
A Orteng está num mercado cujos concorrentes no Brasil são quase todos multinacionais: entre eles Siemens, ABB, Areva, Schneider, Alstom. A WEG, diz o mineiro, é seu único concorrente nacional. A empresa de Santa Catarina faturou R$ 6,2 bilhões no ano passado.
Esse é um mercado que está mesmo aquecido, diz o analista do BB Investimentos, Mário Bernardes Júnior, que tem acompanhado mais de perto o desempenho da WEG. “Mas o desafio [para a Orteng] é ganhar espaço diante de uma concorrência acirrada das grandes, que têm qualidade, preço e tradição.”
Robson Andrade diz que, há três anos, a Orteng começou a passar por mudanças estruturais. “Estamos transformando todas as nossas empresas em S.A. para dar mais transparência para o mercado, para adequá-las às demonstrações financeiras no Novo Mercado”, disse. A intenção é não apenas facilitar uma operação com um investidor – possivelmente externo – mas também para uma oferta de ações na bolsa quando a empresa chegar à casa do R$ 1,5 bilhão de faturamento.
Além de contar com uma demanda fortalecida, Andrade diz que a Orteng está desenvolvendo novos produtos para tentar conquistar mais mercados. Entre os projetos estão os de subestações móveis, subestações subterrâneas, robôs para inspeção e limpeza de tubos e cabos de navios e plataformas de petróleo, componentes de smart grid para as concessionárias de energia elétrica e para novas tecnologias de geração de energia fotovoltaica.
Hoje, a Orteng tem atuação mais expressiva em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Pará. Andrade diz que a empresa quer aumentar sua participação no Nordeste e também no Sul, e que está avaliando oportunidades de negócios em países da África e da América Latina.
Com um novo sócio e uma injeção de capital, diz o empresário, tudo isso tende a ficar mais fácil de ser alcançado. “Mas não estamos hoje em busca de um sócio estratégico para resolver problemas financeiros. A parte financeira estamos equacionando com recursos dos próprios sócios.” Segundo ele, a fatia da Orteng a ser negociada dependerá das futuras negociações. “Pode chegar a 49%, mas o que está definido é que não iremos vender o controle.”
Ao lado de Robson Andrade, os empresários Ricardo Vinhas, José Luis Aguiar e Klaus Gunter detêm 93% da holding Imbrael, que controla a Orteng. Outros dois sócios detêm o resto das ações.