A companhia estatal de petróleo chinesa Sinopec poderá ampliar sua influência na portuguesa Galp Energia, e colocar bilhões de dólares em novos projetos comuns de petróleo e gás no Brasil e em outros países.
“Neste momento estamos a organizar que eles (chineses) participem conosco diretamente (da Galp)”, informou ao Valor o presidente do conselho de administração da Galp Energia e seu maior acionista individual, Américo Amorim.
Em 2011, a Sinopec pagou US$ 5,2 bilhões por 30% da Petrogal Brasil, subsidiária da Galp no Brasil e que tem as maiores reservas da empresa. A transação deu acesso aos chineses a mais ativos no pré-sal. E deu fôlego para a companhia portuguesa levar adiante seu programa de exploração de petróleo na bacia de Santos.
A Galp Energia é a segunda empresa, depois da Petrobras, com o maior número de ativos na bacia de Santos
Agora, a ideia é que os chineses “entrem individualmente para participar” do grupo português. “Estamos nessa linha de orientação também para preservarmos nossa independência na Petrogal Brasil”, afirmou Américo Amorim.
Na entrevista, ao ser indagado se a expectativa era de os chineses aumentarem sua participação na Galp, Amorim respondeu ser “irreversível que os chineses, por sua dimensão econômica global e presença no mundo, tenham perspectiva de crescimento e investimentos”.
Disse que, de sua parte, não tem intenção de frustrar as expectativas de Pequim. “São estatais gigantes com linhas de orientação claramente definidas e não podemos ter a leviandade de perturbar seu andamento na economia mundial”, afirmou.
No entanto, o controlador da Galp procurou estabelecer limites. “Bem-vindos, nada contra. Tentarei apenas seguir esse comboio e preservar um certo controle sobre nossos ativos”, afirmou. Gosto de decidir, tenho esse hábito de controlar e influenciar sobre o que seja vital para as nossas empresas.”
Perguntado se os chineses poderiam colocar na Galp uma soma equivalente ao que já investiram na Petrogal, o empresário mostrou expectativa elevada.
“A China é um gigante mundial, tem muita liquidez para investir. Mais US$ 5 bilhões não é nenhum problema, eles têm uma capacidade brutal e não se pode subestimar essa realidade do mundo. Baseados em ética, transparência e lealdade com eles, vamos ver até onde podemos ir”, afirmou.
A assessoria do empresário, procurada mais tarde para dar detalhes, “julga” que Amorim se referia a investimentos que poderão ser efetuados através da Petrogal Brasil (em que a Sinopec tem a participação de 30%) e investimentos em que a Galp Energia e a Sinopec entrem directamente, lado a lado.
Para alguns analistas, a posição dos principais acionistas da Galp poderá ficar mais clara até o fim de novembro, prazo para Américo Amorim adquirir ou indicar comprador para 8% que a Eni italiana ainda detém na petrolífera portuguesa.
“Temos uma opção. Não é vital comprar isso. Não tenho necessidade (dos 8%) para manter a posição que tenho na Galp. Poderá vir a acontecer (a compra), mas não por imperativo estratégico e simplesmente complementar”, declarou o empresário.
Homem mais rico de Portugal, Américo Amorim tem na Galp o seu maior negócio hoje, representando cerca de 60% da força de seu grupo. Ele entrou em 2006 na petroleira, que desde então teve quase dobrado seu valor de mercado, hoje em € 11 bilhões.
A Amorim Energia e sócios angolanos (Sonangol e Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola) controla a Galp com 38% de participação no capital. Ele sozinho é o maior acionista individual com 21,08% e preside o conselho de administração da companhia petroleira.
A Galp Energia é a segunda empresa, depois da Petrobras, com o maior número de ativos na bacia de Santos, uma das zonas mais promissoras do mundo, e a relação com os chineses é antiga.
Tanto os chineses como a Galp têm sinalizado interesse em participar na próxima licitação de áreas para exploração de petróleo no Brasil, que acontecerá no mês de outubro, com o leilão do mega-campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos.
Recentemente, a petroleira portuguesa participou da 11ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), ampliando sua presença no Brasil com a conquista de blocos nas bacias de Parnaíba, Barreirinhas e Potiguar. Essas áreas serão exploradas em consórcios formados com a Petrobras e o grupo britânico BG.
“A Petrobras é um gigante mundial, e o governo tem de usar os instrumentos em benefício da população e do país. Não ser bem gerida é uma coisa inimaginável. Estamos muito felizes com a Petrobras. É muito difícil, falando o mesmo idioma, não fazer amigos”, disse o empresário.
Perguntado se os chineses poderiam aumentar sua participação na Galp também para exploração de gás em Moçambique, Américo Amorim respondeu: “Se pensarmos que Moçambique está na costa oriental da África, e mais próximo da China e da Índia, compreende-se o nervosismo que eles têm de fazer coisas em Moçambique. É muito mais perto que no Brasil.”
Para o empresário português, Moçambique será o novo Catar, com “reservas extraordinárias”. “Temos dezenas de anos para ter ali muitas matérias-primas.” A Galp tem mais de 40 projetos em carteira em quatro continentes. Sobre os dois projetos de exploração de petróleo e gás na Venezuela, Américo Amorim parece em compasso de espera. “Nossa relação era muito boa com Hugo Chávez. A situação não é muito clara, queremos que o país tenha paz e boa gestão para retomarmos os investimentos. Somos parceiros do sucesso e não da turbulência”, completou.