Descoberta em 2007, a camada pré-sal, que ocupa uma área de pouco mais de 140 mil km2 entre o litoral do Espírito Santo e Santa Catarina, representará uma grande oportunidade de agregar valor à produção brasileira e um enorme desafio para a indústria nacional de petróleo, nascida há 60 anos, com a criação da Petrobras. Em 2020, com a exploração gradual de óleo e gás nessa nova fronteira tecnológica, considerada a maior descoberta do hemisfério ocidental em 30 anos, o Brasil deverá ter oferta crescente de gás natural e dar um salto na exploração e produção de petróleo.
Poderão ser exportados mais de dois milhões de barris por dia (volume próximo ao que Iraque e Nigéria embarcaram ano passado), tornando o país um dos maiores exportadores mundiais do insumo em um momento em que a demanda deverá ser ditada pelos países asiáticos, com destaque para a China.
A curva de produção da Petrobras, hoje estimada em cerca de dois milhões de barris diários, deve apresentar um crescimento contínuo ao longo dos próximos anos e atingir 2,5 milhões de barris por dia em 2016, 2,75 milhões de barris em 2017 e 4,2 milhões de barris por dia em 2020. A estatal, que levou 60 anos para chegar à marca de dois milhões de barris por dia, pretende dobrar esse patamar em apenas sete anos.
A capacidade de refino também irá aumentar: de pouco mais de dois milhões de barris por dia passará até o início da próxima década para 3,6 milhões de barris, enquanto se projeta um consumo de 3,4 milhões de barris diários. A virada da produção, estagnada há alguns anos na barreira dos 2 milhões de barris/dia, deverá começar ao longo dos próximos meses, quando dez sistemas de produção poderão entrar em operação e iniciar o crescimento sustentado da produção ao longo da década.
Apenas entre 2013 e 2017 estão previstos pela Petrobras investimentos de US$ 147,5 bilhões em exploração e produção no Brasil, o que representa 62,3% dos US$ 236,7 bilhões em investimentos estimados para o período pela companhia, que lidera um dos maiores programas de investimentos de uma petroleira no mundo. Até o início da próxima década, o setor de energia deverá ser o carro-chefe da infraestrutura nacional, com investimentos previstos de R$ 1 trilhão, sendo que cerca de 65% deles serão direcionados à cadeia de óleo e gás, segundo previsões da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE).
Ao lado da exploração, a área de refino passará por importante acréscimo: além de investimentos em uma refinaria em Pernambuco e no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), a empresa deve lançar no início do próximo ano licitação para construção de duas outras refinarias, uma no Ceará e outra no Maranhão, sendo que poderão ser feitas parcerias nesses dois empreendimentos. “Queremos parceiros relevantes com conhecimento em refino e que tragam recursos”, afirma a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster.
Boa parte do crescimento da oferta de petróleo no Brasil se dará pela exploração gradual da camada pré-sal, cuja produção nesse ano atingiu um recorde, em junho, chegando a 310,2 mil barris por dia.
Estimativas apontam que em 2020 a exploração na nova fronteira poderá responder por mais de dois milhões de barris diários. Para ampliar as oportunidades presentes nessa fronteira, o governo irá realizar, em 21 de outubro, a 1ª Rodada de licitação do pré-sal, que vai leiloar poços do campo de Libra, na Bacia de Santos. O volume de barris recuperáveis é estimado entre 8 bilhões a 12 bilhões, o que poderá colocar a licitação como uma das maiores já realizadas no mundo. “Esse volume estimado apenas em Libra representa de 44% a 66% das atuais reservas do Brasil, o que mostra o potencial que as reservas do pré-sal possuem e a relevância que o país terá como produtor e exportador de petróleo”, diz o ministro Édison Lobão.
Estima-se que o valor de bônus possa superar R$ 15 bilhões. A competição será a primeira que terá contrato regido pelo regime de partilha, em que a Petrobras será operadora dos blocos na camada pré-sal com participação mínima de 30%. Onze empresas, incluindo a Petrobras, pagaram taxa de participação para a licitação: CNOOC (China); China National Petroleum Corporation; Ecopetrol (Colômbia); Mitsui & CO (Japão); ONGC Videsh (Índia); Petrogal (Portugal); Petronas (Malásia); Repsol/Sinopec (Hispano-Chinesa); Shell (Anglo-Holandesa); Total (França).
“Esse é um campo maiúsculo no mundo do petróleo e é um prato cheio para os asiáticos, que estão atrás de reservas grandes razoavelmente comprovadas e com grande concentração de hidrocarbonetos”, observa José de Sá, sócio da Bain & Co.
Explorar o pré-sal exigirá a superação de vários gargalos. Um deles é a formação de mão de obra necessária para atender ao crescimento da indústria. O outro será tecnológico, já que explorar petróleo nesses poços implicará chegar a profundidades superiores a cinco mil metros em relação ao nível do mar.
O que vai exigir um outro modelo de exploração, com maior automatização, sistemas submersos, uma nova estrutura de pessoas e equipamentos especiais. Nos reservatórios do pré-sal em que há óleo existe uma grande quantidade de gás carbônico, que, quando reage à água, forma o ácido carbônico, altamente corrosivo, o que faz com que seja preciso usar ligas especiais de aço para evitar a corrosão gerada pelo ambiente no revestimento e na coluna de produção dos poços, em equipamentos submarinos de produção.
Para vencer essa corrida, as empresas vêm investindo crescentemente em tecnologia. Maior exemplo é a Petrobras: entre 2003 e 2005, antes do pré-sal, a empresa investiu pouco mais de US$ 280 milhões anuais em pesquisa e desenvolvimento; entre 2010 e 2012, o orçamento anual saltou para US$ 1,2 bilhão. O esforço na área vem sendo compensado: o tempo de perfuração de um poço no pré-sal já caiu 50% desde 2006. À época, a média era de 134 dias para a perfuração, sendo que hoje isso é feito em 70 dias.
O aquecimento do mercado de petróleo tem se refletido em uma série de negócios ao longo de uma ampla cadeia. Bancos olham as oportunidades de financiamento de projetos. No Itaú BBA, a carteira de projetos financiados se mantém aquecida há cinco anos por conta das encomendas da Petrobras. “Temos visto muitas operações de plataformas e barcos de apoio, e esse aquecimento deverá se manter ao longo dos próximos anos”, destaca Silvana Bianco, executiva de project finance do Itaú BBA, responsável pelo setor de óleo e gás. Os investidores estão de olho no setor no Brasil. Como exemplo, ela aponta recente captação da Odebrecht Óleo e Gás, que lançou US$ 1,7 bilhão em bônus para financiar três plataformas, com demanda duas vezes superior à oferta, com presença de investidores europeus, asiáticos e sul americanos.