A Repsol Sinopec aguarda permissão do Ibama para começar hoje ou no mais tardar amanhã a perfuração do segundo poço no reservatório Seat, na bacia de Campos, com o objetivo de atingir o que se espera seja o ponto central do prospecto. O Seat é um dos três reservatórios com petróleo e gás descobertos no bloco BM-C-33, onde foram encontrados também o Gávea e Pão de Açúcar. Juntos, eles configuram a maior descoberta feita até agora no pré-sal da bacia de Campos, já que os campos supergigantes da Petrobras foram descobertos na bacia de Santos.
A perfuração do poço Seat-2 deve demorar três meses e se for um sucesso – que no caso significa atingir uma coluna de óleo maior que a encontrada anteriormente, já que o local da primeira perfuração mostrou que não era o centro do alvo – outros 30 dias serão gastos na análise da estrutura. A perfuração do Seat será feita pela sonda Ocean Rig Mylos, uma embarcação de sétima geração construída no estaleiro Samsung na Coreia do Sul. As especificações dessa embarcação são diferenciadas. A Mylos tem um sistema de perfuração com pressão controlada (MPD na sigla em inglês) e dois equipamentos de prevenção contra explosões (blowout preventers, ou BOPs), quando o comum é um por embarcação.
Tanta tecnologia embarcada elevou o custo da sonda para algo entre US$ 800 mil e US$ 830 mil por dia. Nada que assuste os sócios da Repsol Sinopec, que é operadora com 35% em sociedade com a Statoil (35%) e Petrobras (30%). O presidente da Repsol Sinopec, José Maria Moreno, calcula que a empresa vá manter uma média de investimentos no Brasil de US$ 1 bilhão anuais, devendo aumentar no próximo ano devido aos aportes da companhia para o desenvolvimento do campo Sapinhoá, operado pela Petrobras no cluster de Tupi, no pré-sal de Santos.
No próximo ano, a Ocean Rig Mylos será transferida para o Pão de Açúcar, onde serão perfurados mais dois poços, o que deve se estender até 2015. Ali foi descoberta uma estrutura que mostra a existência de 1 bilhão de barris de óleo equivalente de petróleo, gás e condensado. Desse total, são estimados 400 milhões de barris recuperáveis de óleo leve, com 48 graus na escala do Instituto Americano de Petróleo (API), e 3 trilhões de pés cúbicos, um volume considerável de gás muito rico em propano, butano e gasolina natural. O primeiro poço do Pão de Açúcar custou US$ 400 milhões, mas os demais não devem chegar a tanto. Como operadora, a Repsol Sinopec é responsável pelos estudos que vão definir a melhor maneira de desenvolver a produção no local. A primeira fase de avaliação das descobertas termina em 2016, quando será tomada a decisão final de investimento.
Moreno calcula que se tudo der certo e os volumes forem confirmados, o primeiro óleo e o primeiro gás devem ser produzidos em 2021. Até o momento, a Repsol Sinopec analisa a instalação de duas plataformas FPSOs, sendo uma para o Pão de Açúcar e outra que poderá receber a produção do Gávea e do Seat. Para levar o gás até o continente será necessário construir um gasoduto com 250 Km de extensão até uma das três cidades no interior do Rio que estão em estudo e cujos nomes ele prefere não revelar. Será necessário também construir uma unidade para tratamento, separação e armazenamento do gás e seus componentes.
Sobre o leilão do campo de Libra, Moreno disse que a empresa assinou acordos de mútuo interesse com outras companhias para tentar formar um consórcio, mas não conseguiu completar um grupo onde as participações somassem 70% necessários, considerando que a Petrobras teria 30% depois. “O problema é que as companhias que vieram queriam uma participação pequena, de 10%, e não alcançamos o número necessário”, explicou.
Pela regra, cada consórcio poderia ter no máximo cinco empresas, excluída a Petrobras que não precisaria fazer parte de nenhum consórcio para ter direito a 30% da área, como operadora. O consórcio também precisava ter um operador A, e a Repsol Sinopec, qualificada como B, queria participação de 10% a 15%. Moreno conta que chegou a negociar no Brasil com a Ecopetrol e a Galp, enquanto no exterior foram contatadas empresas europeias e asiáticas como Shell, Total (que juntas entraram no consórcio vencedor liderado pela estatal) e a Mitsui, entre outras. Mas as conversas não foram adiante.
“Também procurei a Petrobras mas ela informou que o consórcio dela já estava completo”, conta o executivo. Uma reunião do “board” da Repsol Sinopec na China poucos dias antes do leilão aprovou que fossem feitas ofertas “sob determinadas circunstâncias” que Moreno não revela, mas como nunca foi assinado nenhum documento de acordo, a empresa sequer esteve no hotel onde foi realizado o leilão.