A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) confirmou a expectativa de aumento de 5,2% da safra de grãos de 2013/14. Se a previsão se concretizar, a produção vai chegar a 196,6 milhões de toneladas, quase 10 toneladas a mais do que a safra de 2012/13, e marcará novo recorde.
O maior destaque será mais uma vez a soja, que poderá superar os 90 milhões de toneladas colhidas ou chegar até a 95 milhões como espera o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, graças ao aumento da produtividade e também à expansão ao redor de 6% da área plantada, o que tornaria o Brasil o maior produtor mundial. O milho tornou-se uma dobradinha da soja e vem em seguida, com estimativa de produção de quase 79 milhões de toneladas nesta safra. Um dos grãos cuja produção mais deve crescer é o trigo, com avanço de 24,9% para 5,5 milhões de toneladas, graças à expansão importante da área plantada
A produção brasileira de grãos mais do que dobrou nas duas últimas décadas, segundo levantamento da Conab, sustentada principalmente por um ganho de quase 79% no rendimento médio das lavouras. Mas a logística não acompanhou essa eficiência nem de longe.
Mais uma safra recorde significa a repetição dos problemas enfrentados nos últimos anos sem qualquer alívio significativo, com filas de caminhões nas estradas e na entrada dos portos e grãos armazenados ao relento. De acordo com dados dos agricultores, os armazéns instalados nas fazendas têm capacidade para abrigar apenas 15% da produção de grãos, bem menos do que os 35% a 45% da Argentina e 60% dos Estados Unidos. A falta de armazéns nas fazendas e nos portos transforma os caminhões em silos com rodas.
O principal entrave é certamente a estrutura deficiente de transporte do país, assentada na rede rodoviária, que responde por quase 63% do transporte e cobre as longas distâncias, enquanto as ferrovias, alternativa mais eficiente, existem apenas em trechos curtos. Acrescente-se a isso o fato de as rodovias estarem em condições tão precárias que parte da carga fica pelo caminho.
O embarque da produção agrícola para o exterior ainda está concentrado nos portos do Sul e do Sudeste, o que causa terríveis congestionamentos todos os anos. Portos do Norte e Nordeste, até mais próximos dos mercados de destino dos produtos, carecem de equipamento ou são inacessíveis. As hidrovias, meio de transporte eficiente e barato, são pouco exploradas.
O Banco Mundial estima que o custo da ineficiência do transporte no Brasil é equivalente a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano, ou seja, chega a cerca de R$ 250 bilhões, e sai do bolso dos agricultores 5% dessa conta. O produtor de soja do Mato Grosso estima perder 40% do valor bruto de sua atividade para escoar o grão até os portos no Sul e Sudeste.
Nos últimos dez anos o governo vem tentando alavancar os investimentos em infraestrutura, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, mais recentemente, com o Programa de Investimento em Logística (PIL), em parceria com a iniciativa privada, que somam R$ 290 bilhões em investimentos. De acordo com o próprio governo, seria necessário investir mais R$ 250 bilhões.
Vários dos projetos estão, porém, muito atrasados. As concessões começaram a deslanchar somente no ano passado, e avançaram mais nas rodovias, que não são a solução ideal para o transporte de grãos. Há indicações de problemas mais sérios exatamente nos projetos mais apropriados ao setor, de ferrovias e portos.
Mesmo questões cujas soluções não exigem muito dinheiro esbarram na falta de vontade de solucioná-las. Um exemplo é a falta de fiscais nos portos para emitir os certificados fitossanitários. O Valor apurou que os exportadores de grãos tiveram prejuízo de US$ 2,5 bilhões com frete e multa sobre estadia nos portos (demurrage), no ano passado, com o atraso na emissão de certificados causado pela falta de fiscais.
Certamente isso tudo explica porque, apesar das safras recordes, a cesta básica chegou a ficar 16,7% mais cara em 2013; e o grupo de alimentação e bebidas tenha subido 8,48% dentro do índice oficial de inflação do ano passado; sem contar as dificuldades para ampliar as exportações.
Fonte: Valor Econômico – Opinião