Conclusão do novo empreendimento, com investimentos de R$ 120 milhões, deve ocorrer no período de dois anos
O polo naval gaúcho será aprimorado. A empresa Ecovix já começou a implantação da próxima fase do Estaleiro Rio Grande (ERG), preparando o terreno para a construção do chamado ERG 3. O diretor da companhia, Alexandre Canhetti, explica que o novo complexo compreende um enorme almoxarifado e servirá para desocupar áreas do ERG 1 e ERG 2 (onde estão localizados o cais e o dique seco do estaleiro), otimizando a operação. Essas duas últimas estruturas implicaram investimento de cerca de R$ 1 bilhão, e o ERG 3 deve absorver algo próximo a R$ 120 milhões. A conclusão do empreendimento será em menos de dois anos.
A Ecovix tem garantida hoje a encomenda da realização de oito cascos para plataformas FPSOs (unidades flutuantes que produzem e armazenam petróleo) e de três navios-sonda. O primeiro casco, da plataforma P-66, deverá sair do dique seco no final deste mês e, em junho, ser encaminhado para Angra do Reis, onde será feita a parte de integração e complementação. No total, os oito cascos e os três navios sondas somam contratos na ordem de US$ 5,6 bilhões.
Outra novidade da Ecovix é o recém criado instituto de pesquisa Tecvix, que será abrigado no Parque Tecnológico Oceantec da Universidade do Rio Grande (Furg). A ferramenta servirá para desenvolver soluções tecnológicas para o setor da indústria naval. Atualmente, segundo Canhetti, o Estaleiro Rio Grande emprega em torno de 10 mil colaboradores em suas atividades.
No que diz respeito a empregos, o secretário executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Sergio Luiz Camacho Leal, informa que os estaleiros brasileiros fecharam o ano passado com em torno de 78 mil postos de trabalho gerados, contra cerca de 62 mil em 2012. Até 2015, a expectativa é chegar a aproximadamente 100 mil. Leal comenta que, somente no Rio Grande do Sul, os estaleiros proporcionaram cerca de 20 mil empregos em 2013.
O representante do Sinaval acrescenta que há motivos para ficar otimista quanto ao futuro. Leal lembra que a presidente da República, Dilma Rousseff, declarou que apenas o campo de Libra demandará mais 12 a 16 plataformas. Além disso, a previsão é de que a produção de petróleo na América Latina seja elevada dos atuais 4,2 milhões de barris de petróleo ao dia para cerca de 5,5 milhões de barris diários em 2018. No mundo, o consumo diário deverá passar dos 81,2 milhões de barris registrados em 2010 para 89,7 milhões de barris em 2020. Contudo, Leal defende que é preciso melhorar o planejamento das encomendas para evitar a oscilação do emprego nos estaleiros.
Já o presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), Floriano Carlos Martins Pires Jr., ressalta que o polo gaúcho é um exemplo a ser seguido no País. No entanto, o dirigente adverte que o segmento tem que se mobilizar para não perder competitividade. Pires Jr. lamenta que falte uma política integral de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a indústria naval nacional. O integrante da Sobena, assim como os do Sinaval e da Ecovix, participou da 3ª edição da Feira do Polo Naval, cuja abertura oficial foi ontem. O evento, realizado no Centro Integrado de Desenvolvimento e Estudos Costeiros da Furg, encerra-se amanhã.
Novo parceiro da Iesa deve ser apresentado ainda neste semestre
Apesar de a Feira do Polo Naval ocorrer em Rio Grande, outro polo, o do Jacuí, foi muito mencionado no encontro. O tópico era a dificuldade que a Iesa vem enfrentando para pagar trabalhadores e fornecedores e a recente paralisação das atividades, na planta de Charqueadas, por causa disso. O vice-presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Aloísio Nóbrega, argumenta que o polo naval do Jacuí não pode depender de um problema pontual como o desequilíbrio financeiro da Iesa. O dirigente espera que mais alguma companhia agregue-se ao projeto ainda neste semestre.
“Se não for a Iesa, outra empresa entrará no lugar, porque o empreendimento está muito bem localizado, com acesso a mão de obra da região Metropolitana e ao rio Jacuí”, destaca. Em curto prazo, recorda Nóbrega, a Petrobras (contratante da Iesa) encaminhou uma solução, com a intervenção no contrato e a instituição de uma conta bancária vinculada. Mais adiante, reitera o vice-presidente da AGDI, a busca é por um parceiro para concluir o acordo. “Essa solução do novo parceiro vai aparecer nos próximos 60 dias”, projeta.
Nóbrega sustenta que os estaleiros precisam ser cada vez mais produtivos e competitivos para conquistar novas encomendas. Nesse sentido, quem está em ritmo acelerado de implantação é o estaleiro do grupo EBR em São José do Norte, que, nos próximos meses, poderá iniciar algumas operações, mesmo ainda não estando completamente finalizado. O gerente comercial do EBR, Luiz Felipe Camargo, detalha que, atualmente, estão trabalhando na construção do complexo cerca de 700 pessoas. O dirigente salienta que, por enquanto, não houve problema quanto à questão de mão de obra.
Para a realização da sua primeira encomenda, a integração da plataforma P-74, o EBR poderá absorverá parte dos empregados desmobilizados pela companhia Quip (que hoje possui dois contratos, mas na fase de engenharia). Camargo admite que, no futuro, os cronogramas das encomendas feitas às duas empresas podem colidir, porém, até lá, poderão ser treinados novos profissionais.
Sobre rumores que a Petrobras estaria com dificuldades para pagar suas demandas, Camargo diz que não observa maiores empecilhos em relação à estatal. “Com a gente, eles têm sido 100% fieis, exemplares”, afirma o gerente do EBR. O executivo acrescenta que a construção de plataformas é algo vital para a Petrobras, que precisa produzir e gerar caixa.
Fonte: Jornal do Comércio (RS) Jefferson Klein, de Rio Grande