A presidente da estatal, Graça Foster, avisou à indústria nacional que a produção tem prioridade sobre a política de conteúdo local
Rio – Embora tente demonstrar otimismo com seu Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo (Prorefam), a Petrobras sabe que dificilmente cumprirá a meta de contratar 146 embarcações brasileiras até o fim do ano, como previsto inicialmente. Ontem, com a assinatura de oito novos contratos, a empresa chegou a 86 embarcações contratadas com fornecedores nacionais, ou cerca de 59% da meta. Em discurso para executivos do setor, a presidente da estatal, Graça Foster, avisou que comprará no exterior sempre que não for atendida pela indústria local. “A Petrobras não pode esperar. Não há nada, absolutamente nada, que justifique atrasos no crescimento da produção”, afirmou.
Criado em 2008, o Prorefam tem como objetivo aumentar o nível de nacionalização da frota brasileira de barcos de apoio (usados para levar mantimentos e prestar serviços como o lançamento de âncoras e dutos submarinos). O programa garante condições especiais para a contratação de embarcações construídas no Brasil. Mesmo assim, nos últimos cinco anos, a frota estrangeira em operação no Brasil teve crescimento duas vezes superior à frota nacional. Hoje, são 469 navios em operação no Brasil, dos quais 52% de bandeira estrangeira.
A contratação no exterior é justificada pela empresa como uma alternativa para evitar mais atrasos na produção, uma vez que há dificuldades para conseguir os barcos no Brasil. Um dos principais gargalos refere-se aos barcos conhecidos omo PLSVs (sigla para Pipe-Laying Support Vessel, ou barco de lançamento de linhas submarinas). “A indústria naval é uma atividade como qualquer outra e não é possível dar um jeitinho. Não há sobre a mesa nenhuma prioridade da indústria naval brasileira, coreana ou chinesa sobre a nossa curva de óleo”, reforçou Graça.
Procuradas, as entidades que representam construtores e prestadores de serviços de apoio a plataformas não quiseram comentar as declarações. As empresas do segmento têm reclamado do aumento das contratações de barcos estrangeiros – foram 152 entre 2008 e 2013 – e alegam que as condições do mercado internacional são desfavoráveis. “Com a crise, houve recuo nos investimentos em exploração e produção no exterior, criando um cenário de ociosidade e liberando uma série de embarcações a preços muito baixos”, diz uma fonte, acrescentando que o cenário começou a mudar no último ano.
Os oito contratos assinados na segunda-feira pela Petrobras são referentes à quinta etapa do programa, que terá, ao todo, sete licitações. A previsão da empresa é concluir as contratações em outubro. “Estamos trabalhando fortemente com os afretadores, estaleiros e associações para que tenhamos resposta positiva do mercado até o final da sétima rodada”, disse a gerente executiva de serviços da área de exploração e produção da estatal, Cristina Pinho. “Mas, obviamente, só vamos contratar as propostas que vierem a atender ao que a companhia precisa”, completou. Em casos extremos, as diárias de operação de embarcações brasileiras chegam a custar 30% a mais do que a empresa paga para estrangeiros.
Em apresentações recentes, a Associação Brasileira de Empresas de Apoio Marítimo (Abeam) tem destacado alguns gargalos para o desenvolvimento de armadores nacionais. O principal deles, diz a entidade, é o alto custo de contratação de oficiais de Marinha Mercante – a lei determina que embarcações de bandeira brasileira tenham tripulação brasileira. Hoje, o segmento emprega 14,6 mil dos 23,8 mil marítimos em atividade no Brasil.
“Depois de um bem coordenado trabalho envolvendo a Marinha, a Abeam, a Petrobras e sindicatos, as escolas de formação de oficiais ampliaram a disponibilidade de cursos como objetivo de preencher as necessidades do mercado. Mas ainda há falta de praticantes, considerando a demanda operacional de navios altamente sofisticados”, disse, em apresentação realizada em fevereiro, o vice-presidente da Abeam, Rachid Cury Felix. Com a falta de profissionais especializados, o custo de contratação disparou nos últimos anos.
O setor reclama ainda de custos operacionais, carga tributária e falta de estaleiros de reparos no Brasil, o que amplia o tempo sem atividade de navios que precisem parar para manutenção. “Os desafios são imensos e requerem coordenação e proatividade entre companhias, governo e clientes para melhorar a eficiência”, concluiu o executivo. Com o crescimento da produção em águas profundas, a Abeam estima que o Brasil precisará de pelo menos 100 novas embarcações de apoio nos próximos cinco anos.
A Petrobras informa que vem fazendo ajustes nos contratos para melhorar a competitividade da indústria local. Mas o resultado da quinta etapa do Prorefam indica que a empresa não está disposta a abrir mão de preços compatíveis com o mercado internacional. “Foram poucas embarcações (contratadas nesta segunda-feira) porque não houve preços competitivos. Esperamos mais propostas após as modificações que fizemos. Mas, na medida em que não tenha como fabricar no Brasil, vamos repondo nossa frota com embarcações existentes. Não há ameaça à curva de produção caso não tenhamos sucesso em contratar as 146 embarcações nacionais”, comentou Cristina.
MAIS ESTRANGEIROS
146: Número de embarcações de bandeira brasileira previstas no Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo (Prorefam), lançado em 2008 com o objetivo de incentivar a indústria nacional de construção naval.
86: Número de embarcações brasileiras contratadas até o momento pelo Prorefam, cuja quinta etapa foi concluída ontem. O programa terá mais duas etapas antes de seu encerramento.
163,4%: Crescimento, desde 2009, no número de embarcações de apoio estrangeiras no país, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam).
Fonte: Brasil Econômico